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Prisão de bispo e padres por desvio de doações abala fiéis e altera rito de missa

Centenas de cabeças de gado, duas caminhonetes, relógios, joias e quase R$ 160 mil em espécie estão entre os bens apreendidos que faziam parte do patrimônio paralelo fruto do roubo, segundo o Ministério Público estadual.

Folhapress

Publicado em 24/03/2018 às 23:30

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O escândalo repercutiu no Vaticano e fez o papa Francisco intervir. / Ilustração/Fotos Públicas

O silêncio na catedral de Formosa, a 280 km de Goiânia, faz lembrar a Quaresma, período de oração e penitência que antecede a Páscoa. Na última semana, porém, o que tirou as palavras de religiosos e fiéis no local foi a prisão do bispo dom José Ronaldo Ribeiro, 61, suspeito de comandar o desvio de ao menos R$ 1,5 milhão de dízimos e doações da diocese, na região mais pobre de Goiás.

Centenas de cabeças de gado, duas caminhonetes, relógios, joias e quase R$ 160 mil em espécie, parte deles escondida em um fundo falso de um armário, estão entre os bens apreendidos que faziam parte do patrimônio paralelo fruto do roubo, segundo o Ministério Público estadual.

Além do bispo, foram presos na Operação Caifás, realizada na última segunda-feira (19), oito pessoas: o vigário-geral da diocese, monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, o juiz eclesiástico Thiago Wenceslau, três padres e dois supostos laranjas.

O escândalo repercutiu no Vaticano e fez o papa Francisco intervir. Ele nomeou o arcebispo de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto, como substituto temporário de Ribeiro, que não voltará a ocupar o posto na diocese.

Constrangidos, outros padres da diocese não conseguem esconder a decepção. Na missa da noite de quarta-feira (21), a oferta foi recolhida normalmente, fila por fila, por duas religiosas, cada uma segurando uma caixa nas mãos. Entretanto, o padre Nailton Almeida Correa não fez a homilia (pregação).

Após ler um trecho do evangelho de João, segundo o qual "todo aquele que comete pecado é escravo do pecado", Correa apenas voltou ao seu assento. Ficou em silêncio por dois minutos diante das 60 pessoas que estavam na catedral, cuja capacidade é para mais de mil pessoas. "Neste momento, há multiplicidade das palavras", disse o padre à reportagem.

Frequentador da igreja, o auxiliar de serviços gerais Francisco José Cardoso, 48, disse estar abalado. "Mas tem que investigar bem para saber a verdade antes de julgar."

Um servidor aposentado de 62 anos, que não quis ser identificado, contou que sempre entregou o dízimo. "Vou continuar entregando. A minha devoção não depende de padre ou de bispo, mas estou chocado", disse.

O esquema de corrupção na diocese ocorre, pelo menos, desde 2015, segundo a investigação. O bispo Ribeiro assumiu a diocese no final de 2014. No mesmo período, segundo a investigação, o padre Moacyr Santana, 53, um dos seis padres denunciados, usou dinheiro da igreja para comprar uma casa lotérica em Posse, e colocou-a em nome de dois laranjas.

Segundo a denúncia, o desvio ocorria nas paróquias mais rentáveis, com apoio dos padres responsáveis por elas. Para o promotor Douglas Chegury, a prática servia como aval para eles se manterem à frente delas.

OUTRO LADO

O advogado Ulisses Borges Resende, que defende o bispo, não quis dar entrevista.

Um dos advogados que defende o vigário-geral e padres acusados, Bruno Opa disse que "a inocência de todos será provada". Sobre aquisição de uma casa lotérica onde, segundo a denúncia, os boletos da igreja eram pagos para favorecer o esquema, Opa disse que um dos padres acusados emprestou o dinheiro para os seus "filhos de coração" adquirirem o estabelecimento e quitarem a dívida quando pudessem.

Os contatos dos advogados dos demais acusados não foram localizados. As provas da investigação serão compartilhadas com a Igreja Católica, que abriu apuração própria.

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