Aos 12 anos, quando passava férias com a família em Praia Grande, Paulo Villar acompanhava os tradicionais rituais realizados na areia da praia em homenagem a Iemanjá, rainha do mar. A curiosidade infantil, que era retratada por meio de fotografias feitas por uma câmera comum, acompanhou o adulto que se consagrou como fotógrafo e hoje volta à Baixada Santista para expor seu trabalho retratando as religiões de matrizes africanas. Ao lado dos também fotógrafos João Mantovani, seu filho, e Vitor Miranda – a exposição ‘Três amigos e seus olhares’, montada a partir das 18h no Museu da Imagem e do Som (MISS), tem como pano de fundo a África, um dos berços da civilização brasileira, e suas influencias na cultura e no sincretismo religioso.
A exposição reúne um breve extrato da produção recente destes três amigos. São trê mostras pessoais e independentes que, contudo, são complementares, dialogam entre si no exotismo das paisagens e na relação das ações captada. A mostra ‘Caminhos de Deus: encruzilhada’, idealizada por Villar, apresenta um recorte de uma pesquisa fotográfica realizada desde 2012 sobre as religiões e seus rituais. Seu trabalho autoral apresenta para o público uma seleção de imagens captadas em centros de Umbanda e Candomblé, apresentando o exotismo do transe e a beleza das danças nestas importantes manifestações da influência africana no Brasil.
“A ideia da exposição surgiu há mais de 4 anos, quando pensei em fazer um trabalho sobre os muitos caminhos de Deus. No meio disso o João (Mantovani) foi fazer um trabalho na América Latina e na curadoria notei que a obra dele dialogava com o que eu tinha em mente. Pouco tempo depois o Vitor voltou de Camarões com um trabalho que igualmente dialogava com o nosso e assim os três amigos se juntaram. A concepção desse trabalho, nesse formato, foi guiado pelo Rodrigo Accioly”, aponta.
No contraponto do trabalho de Villar, Vitor Miranda retratou o cotidiano de Yaoundé, capital dos Camarões, localizada no centro-sul do país, sobre o Golfo da Guiné. A realidade retratada por Miranda desconstrói, parcialmente, senso comum sobre o continente.
“Meu trabalho foi inverso: a fotografia foi a minha pesquisa inicial e a partir dela comecei a pesquisar mais sobre o país. Minha técnica também foi distinta, pois a maior parte das fotos foi feita do interior de táxis. Retratei uma cidade esquecida no tempo cuja beleza aflora dos traços das mulheres e do colorido de suas vestes, da alegria inocente das crianças, dos táxis velhos e da paixão pelo futebol. Um lugar misterioso para onde os olhos do mundo se voltam exclusivamente para a exploração”, pondera Vitor.
As fotos de Paulo Villar dialogam com as de Vitor Miranda em Camarões ao enfatizarem uma clara herança dos povos da Mãe África nos costumes do povo brasileiro.
“É curioso, pois o Villar tem um trabalho feito em território nacional, mas que retrata a realidade da religião de matriz africana. Já o meu foi feito na África, mas retrata uma realidade não tão distante do Brasil. Lá eu vi várias igrejas cristãs e um grande reduto muçulmano. Vi um comércio cheio, bairros pulsantes, locais sem saneamento básico e com um sistema de transporte precário”, afirma Miranda.
Telúrica. O termo Telúrica significa ‘o que vem da terra, o que origina do chão’. E justamente os encontros do homem com a natureza e seus desdobramentos que foram retratado pela lente do fotógrafo João Mantovani.
“Gosto de observar como uma inclinação no chão, ventos ou as temperaturas de um lugar influenciam diretamente o povo. Nas poucas imagens que entra a figura humana, esses personagens não aparecem revelados. A ausência do individualismo, misturado com magia e sombra, acabam acentuando também esse diálogo dentre o que se vê e o que está camuflado, mas não menos presente. Então, na seleção dessas imagens eu busco trazer o que há de telúrico dentro de uma Pátria; o que nos define como Pátria e o que nos influencia telúricamente. E busco, de alguma maneira, deixar essas imagens mostrarem os condimentos que compõe o produto final, que é a vida”, afirma.
Dentro do contexto dos três artistas, as imagens reforçam os contrastes da poluída Yaoundé com a beleza virginal dos recantos que percorreu. Em suas incursões, encontrou uma infinidade de tipos humanos e culturas, dentre as quais as ressaltadas no recorte de Paulo Villar.
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