Cultura

‘São tempos onde precisamos aprender a embelezar a dor’, diz Matheus Nachtergaele

Rafaella Martinez

Publicado em 31/08/2016 às 23:28

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Um homem comum que enxerga no teatro um espaço de congraçamento social, repleto de rituais e elementos simbólicos. Assim se define Matheus Nachtergaele em sua mais recente obra, ‘Processo de Conscerto do Desejo’, monólogo que será encenado hoje, na abertura do Festival Santista de Teatro (FESTA).

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“É um recital que se utiliza dos poucos elementos fundamentais do teatro: a presença do ator, a música ao vivo e a poesia. É um depoimento muito pessoal do artista criador. Uma tragédia pessoal narrada por meio dos poemas de Maria Cecilia, as músicas que ela gostava de cantar sendo tocadas e cantadas ao vivo, além de músicas clássicas do repertório mundial sombreando e ajudando a gente a criar a dramaturgia dessa cerimônia”, destaca Nachtergaele.

Em visita ao Diário do Litoral, o ator falou sobre o espetáculo, o papel da arte e o período atual do Brasil, traçando um paralelo com a indagação que é tema da 58ª edição do FESTA: ‘Qual a democracia que queremos?’

Papel do ator

Na visão do ator, de 48 anos, teatro não é o espaço ou a obra que é encenada. Teatro é o momento. “O ator é um mestre de cerimônias. É ele o responsável por levar adiante o ritual. Mas ele sempre depende do público.
Teatro não acontece muito lá no palco, tampouco na plateia que está sentada. Ele acontece em uma zona intermediária da cena. Entre quem está guiando o cerimonial e a recepção do público. Nesse intervalo entre as duas coisas, nesse terceiro ser que nasce entre o ator e a plateia é que vai acontecendo o teatro”, conta. “A verdade artística sempre estará em algum tipo de deformação. A reprodução sem poesia do como se vive não é interessante. O teatro é cerimônia. Jamais faria teatro para ganhar uma grana. Não dá para transformar isso em algo comercial”, destaca.

Tragédias pessoais

Levando para o palco as memórias de sua mãe, Maria Cecília Nachtergaele, escritas em forma de poema, o espetáculo ‘Processo de Conscerto do Desejo’ é também uma modalidade de teatro moderno.

“Esse recital tem uma carga de depoimento pessoal muito grande. É um espetáculo trágico. Tem um filho vestido de mãe falando de uma mãe suicida que ele nunca conheceu. Tem uma ginástica conceitual bem trágica e bonita. O Matheus ser o filho da Cecília muda tudo. Durante muitos anos eu pensei em chamar alguém para falar os poemas da mamãe. O fato de eu decidir fazer isso dá uma camada trágica ao espetáculo”, destaca o ator.

Em cena há o ator e um rapaz ao violão (interpretado pelo músico Luã Belik). “Minha mãe conheceu meu pai tocando violão e foi tocando que eles passaram toda uma vida de descoberta juntos. No palco, o Luã é papai. É o cara da Cecilia. O bonitão desleixado que apenas toca o seu violão. O violino entra em cena por fim (com o músico Henrique Rohrmann) para sangrar as cordas”, conta Matheus.

Embora seja uma história pessoal, o artista garante que a apresentação abre espaço para reflexões maiores. “Encontramos nos grandes clássicos ressonância para nossos dramas todos. Mas quando você escolhe fazer a cerimônia em primeira pessoa você usa o isolamento das tragédias pessoais para refletir sobre toda a tragédia de um tempo. A partir de um certo momento o público está vendo as suas perdas. Está vendo as pessoas que não aguentaram a vida ao seu redor. Às vezes que ele mesmo não aguentou a própria vida”.   

Beleza na dor

Na visão de Matheus, vivemos tempos onde é vital embelezar a própria dor. “É preciso encontrar a beleza. Se você não enxergar beleza na dor você não consegue ficar no mundo. Um exemplo foi o fato da presidenta da República falar durante 15 horas em um dia considerado triste para quem era contra ao impeachment. Mas na minha visão, naquele dia ela foi tão digna e educada que o que sobrou depois daquilo foi engrandecedor e bonito. Foi um momento histórico e bonito da vida humana. Eu desafio quem tiver coragem a também tentar embelezar suas tristezas e seguir apesar da dor. A sorrir em meio ao caos”, destaca.

Para ele, a peça é a pérola da ostra. A pérola, que a princípio é uma cicatriz, um machucado. “Foi um processo de embelezamento. Doeu, doeu. Não tem cura para a dor. Mas você pode embelezar, atravessar e aprender. Pode virar pérola. Fazer da dor serviço. Foi o que aconteceu comigo e no País”, finaliza.

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