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Ao Diário, Bruninho Angelo comenta sobre a amizade com o vocalista da banda Charlie Brown Jr. e como isso influenciou seus projetos no esporte.
Skatista de Santos, Bruninho Angelo carrega até hoje o legado do amigo Chorão / Renan Lousada/DL
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“O dia que eu tiver a minha pista, você vai andar pra mim". Foi com essa frase que nasceu a amizade entre o músico Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., e o skatista Bruno Angelo de Oliveira, conhecido como Bruninho Angelo. Ao longo dos anos, os dois construíram uma relação marcada por histórias e pela paixão pelo skate.
Atualmente, "Tio Bruninho", como é chamado pelos alunos, é um dos participantes do Programa Jornada Ampliada, onde ministra aulas de skate para estudantes da rede pública de ensino. Pelo trabalho, recebeu no último dia 10 de outubro um reconhecimento do Ministério da Educação (MEC).
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“O aluno da escola municipal estuda de manhã ou à tarde e, às vezes, fica na rua sem fazer nada. Então esse projeto acolhe essas crianças e oferece um suporte total antes ou depois das aulas”, explicou Bruninho em entrevista ao Diário do Litoral.
O skatista reconhece que a relação com Chorão foi o principal ponto de partida para tudo o que vive hoje em torno da modalidade.
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A relação entre Bruninho e Chorão começou quando ele tinha cerca de 15 anos. Na época, frequentava a Urban Skateria, no bairro do Gonzaga, em Santos. “O Chorão ia direto lá. Ele era muito fiel ao dono da loja, comprava peças e ajudava sempre, antes mesmo dos shows”, lembra Bruninho.
Um dia, o músico apareceu na loja e causou alvoroço. “Eu nem sabia direito quem ele era, mas comecei a ouvir as músicas e a gostar. Entrou na minha vida junto com o skate”, conta.
Depois disso, Bruninho passou a frequentar a Praça Palmares, no Canal 4, onde Chorão costumava andar de skate. Foi ali que o músico lhe disse a frase que ele jamais esqueceu: “O dia que eu tiver a minha pista, você vai andar pra mim.”
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Anos mais tarde, Chorão inaugurou sua própria pista, e Bruninho passou a frequentá-la. O reencontro aconteceu justamente no local.
“Eu estava com uns amigos, o Ratinho, o Pinho e o Kid, e ele me viu andando. Perguntou quem eu era, e o pessoal respondeu: ‘É o Bruninho, da Palmares’. Aí ele lembrou e falou: ‘Caraca, é o moleque que eu dizia pra não parar de andar, e ele tá aqui!’”, recorda.
“Ele me chamou de canto e disse: ‘Moleque, tá aí o espaço. Lembro de você! Você não parou de andar, agora vai andar comigo.’”
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Nascia ali uma amizade verdadeira. “Ele sempre valorizava muito a amizade de verdade com quem estava por perto”, afirma.
Um dos projetos mais queridos de Chorão era o Chorão Skate Park, inaugurado em 2005. O espaço era voltado totalmente para a modalidade favorita do músico, recebendo competições, treinos e atendia também crianças carentes.
“Ele pagava o aluguel do próprio bolso, com o dinheiro dos shows. Ficava bravo às vezes, mas pagava. Mas a pista não dava retorno financeiro”, lembra Bruninho.
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Com a morte do músico, em março de 2013, o lugar enfrentou dificuldades financeiras. Foi então criada a campanha ‘Eu quero manter o sonho do Chorão vivo!’, que mobilizou amigos e artistas. Entre os apoiadores estavam Luciano Huck, Flávia Alessandra, Sonia Abrão (prima de Chorão), Marcos Mion e Paulo Vilhena.
"Um dos que mais falei foi Tico Santa Cruz [da banda 'Detonautas Rock Clube'], e acabei virando amigo dele por causa disso. Ele acionou a Jovem Pan, Pão de Açúcar, Prefeitura de Santos...", recorda Bruninho, que ainda teve uma surpresa inusitada com outro famoso nome da música brasileira.
"Eu estava em uma loja de skate um dia, aí tocou o telefone e atendi. Era o Di Ferrero [da banda NX Zero]. 'Cara, fiquei sabendo que você tá fazendo tal do gênero da pista, só pra avisar que eu me disponho a fazer um show de graça em prol pra pagar a dívida da pista'".
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Apesar do esforço, o espaço não conseguiu se manter e encerrou as atividades em setembro de 2013, sendo demolido em janeiro de 2014.
Além das pistas, Bruninho também participou do filme “O Magnata”, lançado em 2007, com roteiro e participação de Chorão. “Ele colocou a gente, que era skatista, como figurante. Quis botar todos os amigos dele no cinema”, conta.
Na história, o músico André (interpretado pelo ator santista Paulo Vilhena), conhecido como Magnata, passava grande parte do seu tempo na periferia de São Paulo, ao mesmo tempo em que se apresentava em clubes e desperdiçava sua herança. Entretanto, tudo muda quando ele resolve roubar uma Ferrari por diversão.
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A première aconteceu no Cine Roxy, em Santos. O próprio Chorão mandou instalar uma pista de skate na entrada do cinema.
"Ele chamou todos os amigos e distribuiu convites. Eu até levei meus pais. Meu pai olhou e disse: ‘Esse filme só tem palavrão!’ E eu respondi: ‘É filme do Chorão, pô, irado!’”, diverte-se Bruninho.
Sobre o filme “Chorão: Só os Loucos Sabem”, ele diz estar ansioso e elogia a escolha de José Loreto para o papel principal.
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“Caiu na pessoa certa. O Loreto parece muito com o Chorão. Achei muito legal essa ideia, e todo mundo tá ansioso demais.”
Com o tempo, Bruninho passou a se dedicar integralmente à função de professor de skate. Além de atuar no Jornada Ampliada, programa reconhecido pelo MEC, ele ensina crianças das escolas municipais de Santos em diversas atividades esportivas e culturais.
“É muito bom ver as crianças participando do esporte fora da escola. No Emissário, por exemplo, tem várias modalidades, skate, capoeira, futebol… Dá pra fazer de tudo ali.”
O skatista também ensina pessoas que querem aprender sobre a modalidade, de diferentes idades, na Pro Skate School, na Rua João Guerra, no bairro do Macuco. "Não tem restrição a nada, é só querer andar de skate. Meu, tem 5 anos e tem até aluna de 64 anos", comenta.
Após 12 anos da partida de Chorão, Bruninho define que a amizade entre eles é muito mais do que a modalidade que os uniu.
“Não foi só o skate. Foi a música, as mensagens positivas, o incentivo para correr atrás do sonho e dar valor à família. O que fica pra mim é isso: ser você mesmo, sempre.”