Saúde

Remédios 'fakes' se espalham no Brasil; confira ranking dos medicamentos mais visados

Em países de baixa e média renda, 1 em cada 10 produtos médicos em circulação é falso ou de baixa qualidade, segundo a OMS

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 30/11/2025 às 19:31

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Tema preocupa autoridades sanitárias, principalmente pela expansão da venda de medicamentos pela internet / Pexels

Continua depois da publicidade

A compra de medicamentos falsificados e a piora no quadro clínico podem parecer cenas típicas de ficção, como o enredo da novela Três Graças.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Mas, de acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é a realidade em muitos países de baixa e média renda, onde 1 em cada 10 produtos médicos é falsificado ou subpadronizado.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Novos medicamentos para artrite em 2025: o que está mudando no tratamento da dor?

• Polícia desmantela esquema de venda ilegal de medicamentos no litoral de SP

• O fim das farmácias? Amazon lança 'quiosque automático' para retirada de medicamentos

Embora o Brasil seja classificado pelo Banco Mundial como um país de renda média-alta — o que afasta o país dessa estatística global — o tema preocupa autoridades sanitárias, principalmente pela expansão da venda de medicamentos pela internet.

Na novela, a personagem Lígia (Dira Paes), diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar (HAP), recebe tratamentos distribuídos pela Fundação Ferette, comandada pelo personagem de Murilo Benício.

Continua depois da publicidade

Veja também: Brasil vai produzir novos remédios para HIV e câncer: Butantan confirma novas parcerias

O vilão recebe doações de medicamentos verdadeiros, mas os troca por placebos feitos de farinha, produzidos em um laboratório clandestino. Os remédios legítimos são revendidos ilegalmente no mercado paralelo.

Na vida real, produtos de alto valor comercial lideram a lista de falsificações no país. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), canetas emagrecedoras, toxinas botulínicas e medicamentos oncológicos estão entre os itens mais falsificados.

Continua depois da publicidade

Muitos desses produtos, além de fraudulentos, são fruto de importação irregular ou de crimes como roubo de cargas.

A ingestão de medicamentos falsificados pode agravar doenças, provocar intoxicações, gerar efeitos inesperados e alterar funções vitais, como pressão arterial e glicemia. Já remédios verdadeiros, quando roubados e armazenados incorretamente, também perdem eficácia.

Especialistas recomendam atenção a preços muito abaixo do mercado, embalagens com erros de grafia e ausência da “raspadinha” — o selo que, ao ser raspado, revela a logomarca do fabricante.

Continua depois da publicidade

Além disso, a legislação brasileira proíbe farmácias totalmente remotas: todo estabelecimento que vende medicamentos online precisa ter uma unidade física aberta ao público.

Veja também: Chá famoso é retirado das prateleiras pela Anvisa após denúncia de falsificação

A indústria farmacêutica critica a fiscalização das farmácias de manipulação, enquanto o setor magistral afirma seguir rigorosos protocolos.

Continua depois da publicidade

A Anvisa diz que o controle de qualidade realizado pelo órgão é voltado a medicamentos produzidos em série, e que produtos manipulados são monitorados pelos órgãos de vigilância sanitária locais.

Estima-se que países gastem cerca de US$ 30,5 bilhões por ano com produtos médicos falsificados, frequentemente vendidos online e em mercados informais.

A ONU alerta que populações vulneráveis e sistemas de saúde frágeis são alvos mais frequentes, mas nenhuma região está imune ao problema.

Continua depois da publicidade

O Brasil possui hoje mais de 94,7 mil farmácias convencionais e cerca de 8 mil farmácias de manipulação. O país ocupa a 8ª posição mundial no consumo de medicamentos, segundo a IQVIA.

“Compre seu medicamento na farmácia que você conhece. Não compre em barraca ou feira. E se o valor estiver barato demais, desconfie”, alerta Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma.

Com o aumento de roubos de canetas emagrecedoras, muitas farmácias reduziram estoques e estimulam compras online com retirada presencial ou entrega.

Continua depois da publicidade

Mussolini reforça que medicamentos de tarja vermelha exigem prescrição e que a facilidade da teleconsulta exige ainda mais cuidado para evitar dosagens inadequadas.

Os medicamentos mais falsificados atualmente no Brasil

Segundo o CFF, em 2025, os itens mais presentes em apreensões e denúncias foram:

  • Botox
  • Dysport
  • Mounjaro
  • Keytruda
  • Opdivo
  • Durateston
  • Oppy
  • Cloridrato de fluoxetina

Mussolini destaca que farmácias de manipulação não podem fabricar canetas emagrecedoras, mas alguns estabelecimentos falsificam ou alteram fórmulas, usando nomes protegidos por propriedade intelectual.

Continua depois da publicidade

Como saber se um medicamento é original

Medicamentos regularizados possuem selo de segurança que, ao ser riscado, revela a marca do fabricante.

A Abrafarma alerta que as falsificações são extremamente profissionais e dificilmente perceptíveis apenas pela embalagem. A comprovação só ocorre após testes laboratoriais que podem levar meses.

Sinais de alerta incluem:

  • Ausência de registro de 13 dígitos da Anvisa
  • Venda por canais não autorizados
  • Embalagens adulteradas
  • Ausência de selo de segurança
  • Falta de informações obrigatórias
  • Preços muito abaixo do mercado

Em casos de roubo de carga, a Anvisa publica resoluções com os lotes afetados. Suspeitas devem ser denunciadas à agência ou à vigilância sanitária municipal.

Como verificar se uma farmácia é regularizada

Farmácias devem apresentar em local visível:

  • Alvará sanitário
  • Certidão de Regularidade Técnica
  • Dados do farmacêutico responsável
  • Número de AFE e AE, quando aplicável

O consumidor pode consultar a regularidade no site da Anvisa ou do Conselho Regional de Farmácia.

O perfil das farmácias irregulares

Farmácias informais atuam principalmente em comunidades vulneráveis, oferecendo preços inferiores e serviços improvisados. Segundo o CEBRIM, esses locais favorecem a circulação de produtos contrabandeados e a dispensação inadequada.

Como escolher uma farmácia de manipulação

Farmácias magistrais produzem medicamentos personalizados e devem seguir normas rígidas. Entre as recomendações da Anfarmag estão:

  • Exigir prescrição obrigatória
  • Confirmar a presença do farmacêutico
  • Verificar alvará e registro
  • Observar limpeza e organização
  • Exigir nota fiscal e etiquetas completas

Como denunciar

Denúncias podem ser feitas a:

  • Procon
  • Vigilância Sanitária
  • Conselho Regional de Farmácia
  • Anvisa
  • Polícia

Os desafios para o setor e as autoridades

A Abrafarma afirma que marketplaces continuam vendendo produtos sem registro, criando um ambiente favorável à atuação de quadrilhas.

O setor industrial critica a fiscalização das farmácias de manipulação, enquanto essas afirmam que oferecem serviços personalizados com rastreabilidade total.

Desde que falsificar medicamentos passou a ser crime hediondo, a ocorrência diminuiu entre remédios registrados — mas cresce entre manipulados e produtos sem origem comprovada.

O Sindusfarma alerta ainda para o uso de matéria-prima de procedência duvidosa e para a existência de farmácias online que não cumprem regras básicas de funcionamento.

Fiscalização no Brasil

A Anvisa concentra esforços em produtos produzidos em série, enquanto farmácias de manipulação são fiscalizadas pelas vigilâncias locais.

Cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo informaram que têm intensificado inspeções e apreensões de insumos irregulares.

Caso emblemático: Microvlar

Em 1988, cartelas de anticoncepcionais sem princípio ativo tomaram conta do noticiário após falhas e desvios na produção. O episódio levou à interdição de uma fábrica e marcou um dos episódios mais graves envolvendo medicamentos falsificados no Brasil.

Rastreabilidade não avançou

Projetos que criariam códigos únicos para cada caixa de medicamento não evoluíram devido ao aumento de custos. Ainda assim, a indústria mantém mecanismos internos que permitem rastrear lotes.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software