Tema preocupa autoridades sanitárias, principalmente pela expansão da venda de medicamentos pela internet / Pexels
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A compra de medicamentos falsificados e a piora no quadro clínico podem parecer cenas típicas de ficção, como o enredo da novela Três Graças.
Mas, de acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é a realidade em muitos países de baixa e média renda, onde 1 em cada 10 produtos médicos é falsificado ou subpadronizado.
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Embora o Brasil seja classificado pelo Banco Mundial como um país de renda média-alta — o que afasta o país dessa estatística global — o tema preocupa autoridades sanitárias, principalmente pela expansão da venda de medicamentos pela internet.
Na novela, a personagem Lígia (Dira Paes), diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar (HAP), recebe tratamentos distribuídos pela Fundação Ferette, comandada pelo personagem de Murilo Benício.
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O vilão recebe doações de medicamentos verdadeiros, mas os troca por placebos feitos de farinha, produzidos em um laboratório clandestino. Os remédios legítimos são revendidos ilegalmente no mercado paralelo.
Na vida real, produtos de alto valor comercial lideram a lista de falsificações no país. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), canetas emagrecedoras, toxinas botulínicas e medicamentos oncológicos estão entre os itens mais falsificados.
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Muitos desses produtos, além de fraudulentos, são fruto de importação irregular ou de crimes como roubo de cargas.
A ingestão de medicamentos falsificados pode agravar doenças, provocar intoxicações, gerar efeitos inesperados e alterar funções vitais, como pressão arterial e glicemia. Já remédios verdadeiros, quando roubados e armazenados incorretamente, também perdem eficácia.
Especialistas recomendam atenção a preços muito abaixo do mercado, embalagens com erros de grafia e ausência da “raspadinha” — o selo que, ao ser raspado, revela a logomarca do fabricante.
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Além disso, a legislação brasileira proíbe farmácias totalmente remotas: todo estabelecimento que vende medicamentos online precisa ter uma unidade física aberta ao público.
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A indústria farmacêutica critica a fiscalização das farmácias de manipulação, enquanto o setor magistral afirma seguir rigorosos protocolos.
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A Anvisa diz que o controle de qualidade realizado pelo órgão é voltado a medicamentos produzidos em série, e que produtos manipulados são monitorados pelos órgãos de vigilância sanitária locais.
Estima-se que países gastem cerca de US$ 30,5 bilhões por ano com produtos médicos falsificados, frequentemente vendidos online e em mercados informais.
A ONU alerta que populações vulneráveis e sistemas de saúde frágeis são alvos mais frequentes, mas nenhuma região está imune ao problema.
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O Brasil possui hoje mais de 94,7 mil farmácias convencionais e cerca de 8 mil farmácias de manipulação. O país ocupa a 8ª posição mundial no consumo de medicamentos, segundo a IQVIA.
“Compre seu medicamento na farmácia que você conhece. Não compre em barraca ou feira. E se o valor estiver barato demais, desconfie”, alerta Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma.
Com o aumento de roubos de canetas emagrecedoras, muitas farmácias reduziram estoques e estimulam compras online com retirada presencial ou entrega.
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Mussolini reforça que medicamentos de tarja vermelha exigem prescrição e que a facilidade da teleconsulta exige ainda mais cuidado para evitar dosagens inadequadas.
Segundo o CFF, em 2025, os itens mais presentes em apreensões e denúncias foram:
Mussolini destaca que farmácias de manipulação não podem fabricar canetas emagrecedoras, mas alguns estabelecimentos falsificam ou alteram fórmulas, usando nomes protegidos por propriedade intelectual.
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Medicamentos regularizados possuem selo de segurança que, ao ser riscado, revela a marca do fabricante.
A Abrafarma alerta que as falsificações são extremamente profissionais e dificilmente perceptíveis apenas pela embalagem. A comprovação só ocorre após testes laboratoriais que podem levar meses.
Sinais de alerta incluem:
Em casos de roubo de carga, a Anvisa publica resoluções com os lotes afetados. Suspeitas devem ser denunciadas à agência ou à vigilância sanitária municipal.
Farmácias devem apresentar em local visível:
O consumidor pode consultar a regularidade no site da Anvisa ou do Conselho Regional de Farmácia.
Farmácias informais atuam principalmente em comunidades vulneráveis, oferecendo preços inferiores e serviços improvisados. Segundo o CEBRIM, esses locais favorecem a circulação de produtos contrabandeados e a dispensação inadequada.
Farmácias magistrais produzem medicamentos personalizados e devem seguir normas rígidas. Entre as recomendações da Anfarmag estão:
Denúncias podem ser feitas a:
A Abrafarma afirma que marketplaces continuam vendendo produtos sem registro, criando um ambiente favorável à atuação de quadrilhas.
O setor industrial critica a fiscalização das farmácias de manipulação, enquanto essas afirmam que oferecem serviços personalizados com rastreabilidade total.
Desde que falsificar medicamentos passou a ser crime hediondo, a ocorrência diminuiu entre remédios registrados — mas cresce entre manipulados e produtos sem origem comprovada.
O Sindusfarma alerta ainda para o uso de matéria-prima de procedência duvidosa e para a existência de farmácias online que não cumprem regras básicas de funcionamento.
A Anvisa concentra esforços em produtos produzidos em série, enquanto farmácias de manipulação são fiscalizadas pelas vigilâncias locais.
Cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo informaram que têm intensificado inspeções e apreensões de insumos irregulares.
Em 1988, cartelas de anticoncepcionais sem princípio ativo tomaram conta do noticiário após falhas e desvios na produção. O episódio levou à interdição de uma fábrica e marcou um dos episódios mais graves envolvendo medicamentos falsificados no Brasil.
Projetos que criariam códigos únicos para cada caixa de medicamento não evoluíram devido ao aumento de custos. Ainda assim, a indústria mantém mecanismos internos que permitem rastrear lotes.