Saúde
Com quase 10% da população diagnosticada, país enfrenta epidemia silenciosa de transtornos ansiosos; especialista explica sintomas, causas e caminhos para tratamento
Estima-se que 9,3% da população brasileira, mais que o dobro da média global, tem transtorno de ansiedade / Freepik
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O Brasil ocupa o topo do ranking mundial de transtornos de ansiedade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que 9,3% da população brasileira — mais que o dobro da média global — conviva com algum tipo de quadro clínico relacionado à ansiedade. O dado escancara uma realidade que vai além da preocupação cotidiana e acende o alerta para a necessidade de mais informação, acolhimento e acesso ao tratamento.
Embora sentir ansiedade em momentos de tensão — como provas, entrevistas ou decisões importantes — seja normal, o sinal de alerta se acende quando esse estado de apreensão se torna constante, desproporcional e incapacitante. Segundo o médico psiquiatra Thyago Henrique, especialista em saúde mental pelo Hospital Israelita Albert Einstein, a linha entre o "normal" e o patológico está na disfunção causada no dia a dia.
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“A ansiedade é natural e tem função de proteção. Mas quando ela paralisa a pessoa, interfere no sono, nas relações e no trabalho, passa a ser um transtorno”, explica o especialista.
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De acordo com um estudo da Revista Brasileira de Psiquiatria, 27,4% dos adultos no Brasil já apresentaram algum tipo de transtorno ansioso ao longo da vida. O índice é mais alto entre mulheres (32,5%) e jovens adultos — grupo que se mostrou ainda mais vulnerável após a pandemia.
Os transtornos de ansiedade podem se manifestar de diferentes formas: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), fobia social, transtorno do pânico, entre outros. Em muitos casos, os sintomas físicos — como taquicardia, sudorese, tensão muscular e insônia — são confundidos com problemas cardíacos ou outros quadros psiquiátricos, como depressão ou TDAH.
“A dificuldade de concentração, por exemplo, é comum na ansiedade e também em outros transtornos. Por isso, o diagnóstico correto é fundamental para evitar tratamentos inadequados”, destaca o Dr. Thyago.
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Para o especialista, o estilo de vida contemporâneo tem papel direto no crescimento dos casos. A hiperconectividade, o uso excessivo de redes sociais, a sobrecarga de informações e o ritmo acelerado de trabalho criam um ambiente propício à ansiedade.
“As redes sociais alteraram áreas do cérebro responsáveis por regular a ansiedade. Isso não é apenas comportamental, é neurobiológico. E os jovens, que nasceram conectados, são os mais afetados”, afirma o psiquiatra.
Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirma essa tendência, apontando aumento significativo de sintomas ansiosos em adolescentes durante o isolamento social.
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Apesar da alta incidência, os transtornos de ansiedade têm tratamento — e quanto mais precoce for o cuidado, maiores as chances de recuperação. A combinação entre psicoterapia (principalmente a Terapia Cognitivo-Comportamental) e medicação é considerada a abordagem mais eficaz.
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Além disso, mudanças no estilo de vida são fundamentais. Exercícios físicos, alimentação equilibrada, meditação, técnicas de respiração e sono de qualidade são aliados poderosos no controle da ansiedade.
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“Em casos leves, essas medidas somadas à terapia podem evitar a cronificação do quadro. Em quadros moderados ou graves, a medicação ajuda a estabilizar os sintomas e a restabelecer a funcionalidade do paciente”, explica o Dr. Thyago.
Para muitos, a dúvida persiste: é possível se curar da ansiedade? Segundo o especialista, o termo mais adequado é controle.
“Podemos não falar em cura no sentido tradicional, mas sim em controle efetivo. E isso já é suficiente para devolver à pessoa sua qualidade de vida, sua produtividade e sua presença no agora — que é, afinal, onde a vida acontece”, conclui.
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