Saúde
Entre promessas de alívio para dores, tratamentos de pele e turismo de bem-estar, a lama negra do litoral ganha status de "cura natural"
O tradicional banho de lama negra em Peruíbe, no litoral sul de SP / Imagem gerada por IA
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No litoral sul de São Paulo, Peruíbe transformou um recurso natural pouco conhecido em símbolo de identidade e turismo de saúde: a famosa lama negra, usada em tratamentos estéticos e terapêuticos há décadas. Entre promessas de alívio para dores e doenças de pele e a necessidade de controle ambiental e científico, o “ouro preto” da cidade atrai curiosos, pacientes e turistas de todo o Brasil.
A lama negra de Peruíbe é formada por sedimentos muito antigos, ricos em matéria orgânica e minerais, acumulados em ambientes marinhos e estuarinos ao longo de milhares de anos. A jazida fica próxima ao mar e é considerada rara: trata-se de um tipo de “fango” semelhante ao encontrado em áreas termais famosas do mundo, como os arredores do Mar Morto.
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Aplicada diretamente sobre a pele, a lama é aquecida e usada em banhos, imersões e máscaras — sozinha ou combinada a outros procedimentos de spa. Em Peruíbe, clínicas, hotéis e o próprio complexo termal da cidade oferecem sessões que prometem aliviar dores articulares, tensão muscular, problemas de pele e até contribuir para relaxamento e bem-estar geral.
Pesquisas brasileiras apontam que a lama negra tem efeito anti-inflamatório e pode ajudar em quadros de artrite e outras doenças reumáticas, além de ser usada como coadjuvante em problemas dermatológicos, como psoríase, dermatites e acne. Em estudos experimentais com animais, a aplicação da lama reduziu inflamações nas articulações e protegeu parcialmente cartilagens e tecidos, o que ajudou a consolidar sua fama terapêutica e impulsionou o interesse por mais estudos.
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Com o avanço da divulgação da lama, Peruíbe passou a apostar no chamado termalismo social — a ideia de usar recursos termais e fangoterapia como complemento no tratamento de saúde pelo sistema público, ao mesmo tempo em que fortalece o turismo. O município já apresentou o produto em eventos internacionais de turismo e discute projetos para estruturar ainda mais o complexo termal, com protocolos médicos, pesquisas clínicas e infraestrutura voltada a pacientes e visitantes.
A jazida de lama negra está inserida em uma região de alta importância ambiental, próxima a áreas de preservação da Mata Atlântica, manguezais e restinga. Por isso, a extração precisa obedecer a licenças e regras rígidas para não comprometer os ecossistemas locais. O manejo incorreto pode afetar a qualidade da lama, o equilíbrio ambiental e a própria imagem de Peruíbe como estância turística voltada à natureza.
Apesar da fama positiva, especialistas lembram que a lama negra não é “milagrosa” e não substitui tratamento médico. Assim como outras argilas medicinais, ela pode conter em sua composição elementos que, em excesso ou sem controle de qualidade, trazem riscos — por isso, é importante que a extração, o processamento e o uso sigam normas técnicas e sanitárias. Pacientes com doenças crônicas, gestantes ou pessoas com problemas de pele mais graves devem sempre consultar um profissional de saúde antes de se submeter a aplicações.
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Entre tradição popular, pesquisas científicas e planos de expansão do turismo de saúde, a lama negra de Peruíbe se mantém como um dos diferenciais do litoral paulista. Com mais estudos clínicos, fiscalização rigorosa e investimento em estrutura, o município tenta transformar um recurso natural antigo em vitrine moderna de bem-estar, ciência e economia local.