Saúde
Sensação de taquicardia, falta de ar e vontade de fugir diante de navios, prédios ou barragens enormes pode indicar um tipo específico de fobia
Esse tipo de foto faz pessoas com megalofobia passar mal / Imagem criada por IA
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A sensação é conhecida por muita gente: ver um navio encostando no porto, uma barragem colossal ou uma estátua desproporcional e sentir o coração disparar, as mãos suarem, o impulso de sair correndo. Nas redes sociais, esse desconforto ganhou nome — megalofobia, o medo de objetos muito grandes — e virou até “nicho de entretenimento”. Mas, na medicina, esse fenômeno ainda é quase invisível como categoria própria, o que cria um contraste curioso entre o mundo online e o consultório.
Nos últimos anos, comunidades dedicadas à megalofobia se multiplicaram em redes como Reddit, TikTok e Instagram. Vídeos com compilações de navios gigantes, turbinas eólicas vistas de perto, pontes, prédios e estruturas colossais acumulam milhões de visualizações. Quem se identifica com esse medo passa a usar o termo com naturalidade, relata gatilhos específicos e compartilha imagens que “fazem passar mal”. Esse movimento ajuda a dar nome a uma angústia real, mas também incentiva o auto-diagnóstico sem avaliação profissional.
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Do ponto de vista técnico, “megalofobia” não aparece nos manuais oficiais de psiquiatria. No DSM-5 (o manual americano) e na CID-11 (classificação da Organização Mundial da Saúde), ela entra dentro do guarda-chuva de “fobia específica”: um medo intenso, persistente e desproporcional diante de um objeto ou situação — no caso, coisas gigantes — que leva a esquiva e sofrimento significativo. Estudos populacionais apontam que as fobias específicas estão entre os transtornos de ansiedade mais comuns no mundo, com prevalência ao longo da vida em torno de 7% a 14% dos adultos, embora esses levantamentos não separem, em estatísticas, quem tem medo de avião, de aranha ou de estruturas enormes.
É justamente essa falta de recorte que impede afirmar, com base em dados duros, que os casos de megalofobia estejam aumentando. O que há são evidências de que fobias específicas em geral são frequentes, começam cedo — muitas vezes ainda na infância — e, em boa parte dos casos, nunca chegam ao serviço especializado. Enquanto isso, no ambiente digital, o termo megalofobia dispara em buscas, hashtags e vídeos, o que cria a impressão de “epidemia” sem que existam séries históricas ou pesquisas epidemiológicas focadas só nesse tipo de medo.
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Para muita gente, o incômodo fica restrito a sentir um arrepio vendo uma imagem ou passando de carro ao lado de uma represa. Mas, quando a pessoa deixa de viajar, evita determinadas cidades, não consegue trabalhar em certas áreas ou tem crises de ansiedade intensas ao se aproximar de objetos grandes, a megalofobia deixa de ser meme e passa a configurar um problema de saúde mental. Especialistas alertam que o consumo constante de conteúdo “gatilho” em redes pode reforçar o ciclo do medo e da esquiva, principalmente em quem já é vulnerável a transtornos de ansiedade.
Na prática clínica, o tratamento segue o protocolo das outras fobias específicas. A terapia cognitivo-comportamental, com exposição gradual e controlada às situações temidas — em imaginação, por fotos, vídeos, realidade virtual e, quando possível, no mundo real — é hoje a abordagem com mais evidência científica.
Em alguns casos, o psiquiatra pode associar medicação para controle da ansiedade, mas o pilar continua sendo a psicoterapia estruturada. Profissionais reforçam que, apesar de assustadora para quem sofre, a fobia específica costuma responder bem ao tratamento quando a pessoa busca ajuda.
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