Saúde

Cuidar de um bebê reborn pode ser saudável? A psicologia responde

Bonecas hiper-realistas ganham espaço como recurso terapêutico e despertam debate sobre vínculos afetivos, saúde emocional e preconceitos sociais

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 28/05/2025 às 14:03

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Bebês reborns podem ser aliados poderosos no cuidado emocional, no ensino e na superação de traumas / Reprodução

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Os bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos — conquistaram espaço em lares e clínicas, provocando reações diversas: encantamento, curiosidade, estranhamento e até julgamento. Mas afinal, o que leva alguém a cuidar de um bebê reborn como se fosse real? E, mais importante: quando isso faz bem para a saúde mental e quando pode ser um sinal de que algo não vai bem?

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Para responder a essas questões, a reportagem do Diário do Litoral conversou com a psicóloga Dilma Medeiros Bertoldo, que falou sobre os possíveis benefícios emocionais e os limites desse vínculo com as bonecas realistas.

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Diário do Litoral - O que leva uma pessoa a procurar ou se apegar a um bebê reborn?

Dilma Medeiros Bertoldo - Há muitos motivos. Um deles é a experiência do brincar, que é extremamente valiosa para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Brincar permite expressar sentimentos, fantasias e até conflitos internos — é uma forma de vivenciar emoções e organizar o mundo interior.

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Outro fator é a admiração estética e afetiva pelo brinquedo, que desperta o desejo de colecionar. Nesses casos, o vínculo também está relacionado ao ato de cuidar — um comportamento que envolve zelo, dedicação e organização. Esse cuidado pode ser semelhante ao que se tem com plantas, animais ou até mesmo objetos afetivos, como quadros e fotografias.

DL - Como a psicologia entende esse tipo de vínculo emocional com as bonecas?

Dilma - O mais importante é compreender o contexto emocional em que essa relação se estabelece. O apego à boneca não é, por si só, um problema de saúde mental. Muitas vezes, está relacionado à busca por identidade, à regulação emocional ou à carência afetiva.

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Contudo, quando esse vínculo começa a afetar negativamente o cotidiano da pessoa — provocando isolamento, abandono de responsabilidades ou confusão entre fantasia e realidade — pode indicar um sofrimento emocional que precisa de atenção profissional.

DL - O uso do bebê reborn pode ser terapêutico? Em que situações ele ajuda?

Dilma - Sim. Quando utilizado como ferramenta, o bebê reborn pode trazer benefícios significativos. É o caso, por exemplo, de idosos com demência, onde a boneca pode ajudar a reduzir agitação, ansiedade e agressividade, proporcionando conforto emocional.

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Também pode ser útil para mulheres que enfrentam perdas gestacionais, abortos ou dificuldades com a infertilidade. Nesses casos, o bebê reborn pode auxiliar na elaboração do luto e na reconstrução emocional após um trauma.

DL - Como saber se o apego ao bebê reborn é saudável? Existe um limite?

Dilma - Sim, e é importante observar alguns sinais. O apego é considerado saudável quando não interfere nas relações sociais, nas responsabilidades e na percepção da realidade. É possível cuidar da boneca, brincar ou até usá-la como recurso emocional sem prejuízo à vida cotidiana.

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Mas é preciso atenção quando:

  • A pessoa passa a substituir relações humanas reais pela boneca;
  • Há isolamento social;
  • Deixa-se de cumprir tarefas e compromissos;
  • O cuidado com o bebê reborn se torna obsessivo;
  • A pessoa não tolera críticas ou questionamentos sobre seu comportamento.

Esses sinais acendem um alerta e podem indicar a necessidade de acompanhamento psicológico.

DL - Por que existe tanto julgamento em torno de quem usa ou cuida de um bebê reborn?

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Dilma - O julgamento geralmente aparece quando a relação com o bebê reborn foge do que se entende como “normal” ou “esperado”. Quando a boneca é usada em contextos terapêuticos — como no caso de um luto, de um idoso com demência ou de uma pessoa autista — as pessoas tendem a compreender melhor.

Fora desses contextos, o comportamento pode ser visto com estranheza ou até ridicularizado. Isso acontece porque falta informação e empatia. O desconhecido muitas vezes gera preconceito.

DL - Como lidar com esse preconceito?

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Dilma - A melhor forma é enfrentar o preconceito com questionamento e reflexão. Por que isso incomoda? O que está sendo julgado, de fato? Muitas vezes, buscar essas respostas sozinho é difícil. Por isso, o acompanhamento psicológico pode ajudar muito a fortalecer a autoestima, desenvolver um olhar mais crítico e lidar com os julgamentos externos de forma mais saudável.

DL - Os bebês reborns também têm aplicação prática em contextos de saúde e educação?

Dilma - Sim. Bonecos são usados há muitos anos em contextos clínicos e de ensino, como em simulações para médicos e enfermeiros. Em cursos para gestantes, por exemplo, o bebê reborn tem sido cada vez mais adotado por sua semelhança com um recém-nascido.

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Esse realismo permite uma experiência mais próxima da realidade, especialmente no aprendizado de trocas de fralda, banho e cuidados com o recém-nascido. Ele torna o ensino mais prático, lúdico e efetivo.

Aliados no cuidado emocional

Os bebês reborns não são apenas brinquedos — podem ser aliados poderosos no cuidado emocional, no ensino e na superação de traumas. Como toda ferramenta, o que define seu valor está no uso. O afeto é válido. Mas o excesso, o isolamento e a perda de contato com a realidade precisam ser observados com atenção. Cuidar de um bebê reborn pode ser saudável — desde que a vida real continue sendo prioridade.

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