Saúde

Ataques de abelhas disparam em 80% e matam mais que serpentes no Brasil

Óbitos por picadas mais que dobraram em três anos; especialistas da Unesp alertam para risco sem soro disponível

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 22/08/2025 às 10:30

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Ataques de abelhas superam os de serpentes em número de vítimas fatais / Pixabay

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O Brasil enfrenta uma crise silenciosa que ganha proporções alarmantes: os ataques de abelhas africanizadas aumentaram 83% entre 2021 e 2024, saltando de 18,6 mil para 34,2 mil ocorrências registradas.

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Mais grave ainda é o número de mortes, que mais que dobrou no período, atingindo 125 óbitos tanto em 2023 quanto em 2024.

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Desde o ano passado, os ataques de abelhas superam os de serpentes em número de vítimas fatais, segundo estudo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na revista científica Frontiers in Immunology.

Eles classificam o envenenamento por ferroadas como um problema de saúde pública negligenciado.

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Abelha nativa do Brasil fornece arma natural contra mosquito da dengue.

Sem antídoto específico

“Ainda hoje não existe um soro contra o veneno de abelhas, como os que temos para serpentes, aranhas e escorpiões”, explica Rui Seabra Ferreira Júnior, médico-veterinário e diretor do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp, que coordenou a pesquisa.

Somente nos primeiros sete meses de 2024, o Brasil já registrou mais de 18 mil acidentes. Para os especialistas, a ausência de um tratamento eficaz e acessível reforça a gravidade do cenário.

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Desmatamento e urbanização entre as causas

O aumento dos casos ainda é investigado. Para o biólogo Osmar Malaspina, referência no estudo de abelhas no país, fatores como desmatamento, perda de habitat e expansão urbana podem estar forçando as abelhas a buscar novos locais para colmeias.

Além disso, a oferta de alimentos de origem humana em certas épocas do ano intensifica o contato com pessoas.

Maior desaparecimento de colmeias de abelhas da história preocupa cientistas.

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Risco varia conforme organismo

Os efeitos das picadas dependem do sistema imunológico de cada indivíduo. Segundo o médico Benedito Barraviera, da Faculdade de Medicina de Botucatu, há dois tipos principais de acidentes:

Reação alérgica grave: uma única picada pode provocar choque anafilático em pessoas sensíveis, exigindo atendimento imediato.

Intoxicação por múltiplas picadas: em vítimas não alérgicas, grandes quantidades de veneno podem causar falência renal, complicações neurológicas e até parada cardiorrespiratória.

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Tratamento caro e limitado

Hoje, o tratamento disponível é apenas sintomático. O desenvolvimento de um soro antiapílico pelo Cevap poderia mudar esse cenário, mas ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Enquanto isso, especialistas reforçam medidas de prevenção: evitar contato com colmeias, não usar inseticidas próximos a ninhos, não fazer movimentos bruscos diante de enxames e acionar Defesa Civil ou Bombeiros em caso de infestação.

Apesar dos riscos, as abelhas africanizadas (Apis mellifera) são fundamentais para a polinização e para a produção de mel. O desafio, segundo os pesquisadores, é equilibrar sua importância ecológica com a proteção da saúde humana diante de uma ameaça crescente e ainda sem solução definitiva.

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