Anvisa aprovou o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade no país / Freepik
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Com 68% da população brasileira acima do peso — sendo 31% diagnosticada com obesidade e 37% com sobrepeso —, o Brasil enfrenta uma verdadeira epidemia silenciosa. Diante desse cenário alarmante, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (9), o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade no país. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.
Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, o Mounjaro já era indicado no tratamento do diabetes tipo 2 e, agora, poderá ser prescrito também para pacientes com sobrepeso e comorbidades como hipertensão, pré-diabetes e dislipidemias. O medicamento chega ao mercado brasileiro como uma nova ferramenta no combate ao excesso de peso e às doenças crônicas não transmissíveis associadas.
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Segundo o World Obesity Atlas 2024, divulgado recentemente pela Federação Mundial da Obesidade, cerca de 1 em cada 3 brasileiros vive com obesidade. O levantamento também aponta que entre 40% e 50% dos adultos no país não praticam atividades físicas na frequência e intensidade recomendadas — um fator que agrava os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes e AVC. As projeções são preocupantes: até 2030, o número de homens obesos pode crescer 33,4%, enquanto o de mulheres pode aumentar 46,2%.
Para o endocrinologista Dr. Érico Paulo Heilbrun, da Associação Paulista de Medicina – Regional Santos, o Mounjaro representa um avanço expressivo. “Indiscutivelmente, a medicação traz um grande benefício no controle de peso e da glicemia. Tanto o diabetes quanto a obesidade aumentam a morbi-mortalidade de doenças cardiovasculares, que seguem como a principal causa de morte no Brasil”, destaca o especialista.
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De uso injetável semanal, o Mounjaro tem como princípio ativo a tirzepatida, que age de forma inovadora ao atuar em dois receptores hormonais intestinais: GLP-1 e GIP. Essa ação dual estimula a secreção de insulina, reduz o glucagon após as refeições, desacelera o esvaziamento gástrico e atua diretamente no centro da saciedade e no tecido adiposo. “Esse mecanismo diferencia o Mounjaro de outros medicamentos já disponíveis, como o Ozempic, que atua apenas no receptor GLP-1”, explica Heilbrun.
A medicação é indicada para pessoas com diabetes tipo 2 e/ou com IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou superior a 27, desde que haja comorbidades associadas. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão náuseas e vômitos, geralmente relacionados ao trato gastrointestinal.
A aprovação da Anvisa amplia o leque de abordagens terapêuticas disponíveis no enfrentamento da obesidade, uma condição que já provoca impactos graves na saúde pública. Dados do Atlas Mundial da Obesidade revelam que, apenas em 2021, mais de 60,9 mil mortes prematuras no Brasil foram atribuídas a doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso, como diabetes tipo 2, AVC e doenças cardíacas.
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Outro estudo, publicado na revista científica The Lancet com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem hoje com obesidade — um número recorde que evidencia a urgência de medidas efetivas de prevenção e tratamento.
Apesar do entusiasmo com a nova medicação, o Dr. Heilbrun faz um alerta: “O Mounjaro não substitui uma alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas. Ele é um aliado poderoso, sobretudo para quem já tentou outras estratégias sem sucesso, mas o tratamento da obesidade deve ser sempre individualizado e multidisciplinar”.
Diante das previsões de crescimento acelerado da obesidade nos próximos anos, especialistas reforçam a importância de políticas públicas, acesso a tratamentos eficazes e uma abordagem que leve em conta os aspectos físicos, emocionais e sociais de cada paciente.
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