Um estudo da USP revela como a identidade bioquímica entre o látex da seringueira e certas frutas desencadeia reações alérgicas inesperadas / Reprodução/Pexels
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O fenômeno, conhecido como “síndrome látex-fruta”, ocorre porque certas frutas, nomeadamente mamão, figo, banana, abacate, kiwi e melão, contêm proteínas na sua composição que são semelhantes às do látex da Hevea brasiliensis, a conhecida seringueira.
A quimopapaína, por exemplo, encontrada no látex do mamão, é capaz de desencadear esta síndrome. A este processo designamos reatividade cruzada.
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Pessoas alérgicas à borracha [látex] podem desenvolver ou já possuir também alergia ao mamão, ao figo e à banana, conforme detalha Gabriela Justamante Händel Schmitz, que investigou o tema no seu doutoramento na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.
A Dra. Daniela Rigotto explicou, em um vídeo no canal dela no You Tube, sobre essa alergia:
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Ela explica ao Jornal da USP que uma proteína do látex da seringueira, a cisteína protease, possui uma sequência de aminoácidos bastante próxima à da quimopapaína. Devido a esta semelhança, alguns indivíduos podem apresentar reatividade cruzada.
Caso seja alérgico à borracha, como a de luvas, pode-se tornar sensível a mamão – e também ao figo, banana, abacate, kiwi e melão. Todos estes frutos contêm proteínas semelhantes às presentes no látex da Hevea brasiliensis.
A investigadora salienta que os indivíduos alérgicos à proteína do látex da Hevea produzem imunoglobulinas E (IgEs) específicas para esta proteína.
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Se consumirem mamão, que possui uma proteína análoga à da seringueira, a proteína do mamão encaixa-se nas IgEs sintetizadas para a proteína do látex da Hevea, provocando então todas as reações alérgicas que o paciente teria a objetos feitos de látex da seringueira.
Segundo ela, mais e mais proteínas similares ás da seringueira são descobertas em frutos. Muitas crianças sofrem com este tipo de alergia, e o diagnóstico é complexo. Por isso, estão a investigar novos alérgenos; só no mamão já foram identificados cinco, e desconhece-se quantos mais podem existir.
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A cientista refere que muitos pacientes brasileiros apresentam alergia à mandioca e ao látex, havendo até um estudo de um grupo do Hospital das Clínicas sobre esta relação.
O látex presente no mamão (principalmente na casca) contém uma enzima proteolítica chamada papaína, com propriedades bactericidas, anti-inflamatórias e bacteriostáticas, sendo também usada em medicamentos para auxiliar a digestão.
A papaína no látex do mamão é um alérgeno bem caracterizado desta fruta, designado Cari p papain. Contudo, quem tem alergia a mamão pode ser sensível a outras proteínas da fruta que ainda não foram identificadas.
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Ela esclarece que a produção de látex é um mecanismo de defesa da planta contra predadores e situações de stress. O látex do mamão, assim como outras substâncias sintetizadas por diversas plantas, possui ação biológica.
Em quase todos os casos, estas substâncias são produzidas pela planta para sua proteção, o que indica que são tóxicas para os predadores. Assim, em grandes quantidades, podem ser tóxicas para nós, resume.
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