Afastamento gradual pode mudar eclipses, marés e até a rotação do planeta ao longo de milhões de anos / Reprodução/Freepik
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Durante milhões de anos, a Lua vem se afastando lentamente da Terra, em um processo quase imperceptível no dia a dia, mas com efeitos profundos sobre o planeta. Esse movimento gradual influencia a duração dos dias, a força das marés e até o futuro da dinâmica entre os dois astros, segundo estudos científicos recentes.
À primeira vista, a relação entre Terra e Lua parece imutável. Há milênios, o satélite natural regula as marés, orienta calendários e inspira crenças. No entanto, medições precisas mostram que a Lua se distancia da Terra cerca de 3,8 centímetros por ano, alterando de forma contínua o equilíbrio do sistema Terra-Lua.
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Evidências científicas, como aponta o site The Conversation, indicam que, no passado distante, a Lua estava muito mais próxima do planeta. No final do período Cretáceo, há cerca de 70 milhões de anos, época em que os dinossauros ainda habitavam a Terra.
Um dia tinha aproximadamente 23 horas e meia. A explicação está justamente na maior proximidade da Lua, que exercia uma influência gravitacional mais intensa.
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Essa conclusão não é baseada apenas em modelos teóricos. Paleontólogos analisaram anéis de crescimento presentes em conchas fossilizadas de moluscos, semelhantes aos anéis de árvores. Essas marcas registram ciclos diários e anuais.
Um estudo publicado em 2020 na revista Paleoceanography and Paleoclimatology mostrou que o ano terrestre naquela época tinha cerca de 372 dias, evidenciando dias mais curtos do que os atuais.
A história desse fenômeno remonta à formação da Lua, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Cientistas acreditam que um corpo do tamanho de Marte colidiu com a Terra primitiva, lançando detritos ao espaço.
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Parte desse material deu origem à Lua, que inicialmente orbitava o planeta a uma distância muito menor do que hoje, ocupando uma porção imensa do céu noturno.
Desde então, um mecanismo ligado às marés vem promovendo o afastamento gradual. A força gravitacional da Lua provoca deformações nos oceanos terrestres, criando duas grandes saliências de água.
Como a Terra gira mais rápido do que a Lua orbita, essas massas de água ficam ligeiramente desalinhadas, exercendo uma força que “puxa” a Lua para frente em sua órbita, empurrando-a lentamente para longe.
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Esse processo já foi confirmado com alta precisão pela NASA, por meio de refletores deixados na superfície lunar pelas missões Apollo.
Ao disparar lasers da Terra e medir o tempo de retorno do feixe, os cientistas conseguem calcular a distância entre os dois corpos com precisão milimétrica.
À medida que a Lua ganha energia orbital, a Terra perde parte da sua rotação. O resultado é um efeito quase imperceptível, mas contínuo: os dias estão ficando mais longos.
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Embora sejam necessários milhões de anos para que um dia aumente alguns minutos, a mudança já está em curso.
Em um cenário extremo, se o afastamento continuasse indefinidamente, Terra e Lua poderiam atingir um estado chamado de acoplamento gravitacional, no qual o planeta girava tão lentamente que sempre mostraria a mesma face à Lua. As marés deixaram de ser dinâmicas e se tornaram praticamente estáticas.
No entanto, esse desfecho dificilmente ocorrerá. Daqui a cerca de um bilhão de anos, o aumento da radiação solar deverá evaporar os oceanos, interrompendo o mecanismo das marés.
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Muito depois disso, a expansão do Sol, que se tornará uma gigante vermelha, deve engolir tanto a Terra quanto a Lua.
Antes desses eventos extremos, outras mudanças já serão perceptíveis. Os eclipses solares, por exemplo, tendem a se tornar cada vez mais raros e menos impressionantes, já que a Lua parecerá menor no céu ao longo do tempo.
Esse lento distanciamento funciona como um verdadeiro relógio cósmico, lembrando que mesmo os sistemas mais estáveis do Universo estão em constante transformação, ainda que em um ritmo que desafia a percepção humana.
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