A banda Garotos Podres lançou um dos maiores marcos natalinos do punk rock brasileiro / Reprodução/Globoplay
Continua depois da publicidade
Um dos maiores marcos do punk rock brasileiro completa 40 anos de história cercado de curiosidades e resistência política. A canção "Papai Noel, Velho Batuta", lançada pela banda Garotos Podres no álbum "Mais Podres do que Nunca" (1985), consolidou-se como um hino de crítica social ao subverter a imagem tradicional do Natal sob a ótica da desigualdade econômica.
A composição do vocalista Mao, hoje professor de História, nasceu originalmente de uma peça teatral de 1982. No entanto, o lançamento ocorreu em um período em que a censura da Ditadura Militar, embora em declínio, ainda exercia controle sobre a produção fonográfica.
Continua depois da publicidade
Para garantir que a música não fosse vetada, a banda substituiu um xingamento explícito no refrão pela expressão "Velho Batuta". A ironia foi suficiente para ludibriar os censores e permitir que o disco chegasse às prateleiras com sua crítica ao "porco capitalista" intacta.
O alcance da música polêmica foi imediato e um episódio em Mauá, no ABC Paulista, ocorrido em dezembro de 1986, ilustrou o poder da obra. Acontece que, durante uma passeata contra a hipocrisia natalina, um grupo de punks entoou o refrão em frente a uma loja de departamentos.
Continua depois da publicidade
O impacto foi tamanho que o figurante vestido de Papai Noel abandonou o posto e fugiu para o interior do estabelecimento, temendo a manifestação anticapitalista. Ao contrário do que se esperava, a cena queria mostrar as injustiças da desigualdade social vivida no século.
Em entrevistas ao longo das décadas, Mao destacou que a canção representou uma ruptura necessária no cenário cultural da época. Enquanto parte do rock nacional dos anos 80 focava em dilemas juvenis dos grandes centros, como ocorria com bandas como Legião Urbana e o Camisa de Vênus, o punk dos Garotos Podres trazia a realidade política e econômica das periferias brasileiras.
Quarenta anos depois, o "Papai Noel, Velho Batuta" permanece como um símbolo de como o underground utilizou a inteligência e a arte para denunciar as contradições do sistema, mantendo-se relevante no repertório da música de protesto no Brasil.
Continua depois da publicidade