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O 'relógio invisível' dos oceanos: Descoberta muda tudo o que sabíamos sobre corais

Um evento sincronizado pela Lua revela que os recifes estão muito mais conectados do que imaginávamos.

Nathalia Alves

Publicado em 23/12/2025 às 13:25

Atualizado em 23/12/2025 às 14:14

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Da Polinésia à Tanzânia, o / Crédito: Vetea Liao

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Ao amanhecer, em águas cristalinas do Taiti, o mar muda de aparência de forma repentina e fica esbranquiçado. Não é areia nem plâncton: são milhões de gametas liberados ao mesmo tempo por colônias de corais durante a desova, um espetáculo natural raro e altamente sincronizado.

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Durante muitos anos, o fenômeno foi visto como algo local. Agora, pesquisadores descobriram que corais separados por oceanos inteiros se reproduzem praticamente no mesmo minuto, o que desafia o que a ciência conhecia sobre esses organismos.

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A revelação é resultado de um projeto de ciência cidadã coordenado desde 2014 pela associação Tama nō te Tairoto, da Polinésia Francesa.

Relógio Biológico 

Em janeiro de 2025, o grupo registrou um fato impressionante: a espécie Porites rus desovou no mesmo dia e quase no mesmo horário no Taiti e na Tanzânia, a mais de 18 mil quilômetros de distância. No Pacífico, o evento ocorreu às 1h22, no Índico, às 1h23.

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Milhões de gametas são liberados simultaneamente por colônias de corais, transformando o mar em uma névoa leitosa por poucos minutos/Divulgação
Milhões de gametas são liberados simultaneamente por colônias de corais, transformando o mar em uma névoa leitosa por poucos minutos/Divulgação
Pesquisadores e voluntários acompanham a desova com precisão de minutos, revelando um possível relógio biológico global dos recifes/ Vetea Liao
Pesquisadores e voluntários acompanham a desova com precisão de minutos, revelando um possível relógio biológico global dos recifes/ Vetea Liao
O fenômeno, registrado no Pacífico e no Índico quase no mesmo horário, ajuda a ciência a entender os impactos das mudanças climáticas nos oceanos/Benoit Bixel
O fenômeno, registrado no Pacífico e no Índico quase no mesmo horário, ajuda a ciência a entender os impactos das mudanças climáticas nos oceanos/Benoit Bixel

Dados reunidos por mais de 400 observadores em 20 países mostram que a desova acontece, em média, cinco dias após a lua cheia e cerca de 90 minutos depois do nascer do sol. A precisão sugere a existência de um “relógio biológico global”, influenciado por fatores como luz, temperatura da água e ciclos lunares.

O projeto ganhou reconhecimento científico em 2025, com a publicação de um estudo baseado em dez anos de observações em 104 recifes na revista Global Ecology and Biogeography. A pesquisa indica que mudanças no período de desova podem servir como alerta precoce sobre os impactos das mudanças climáticas, antes mesmo do branqueamento dos corais.

Avanço científico

O sucesso da iniciativa transformou a Polinésia Francesa em referência mundial no monitoramento de recifes. Em junho de 2025, o grupo apresentou seus resultados na Conferência dos Oceanos da ONU, em Nice.

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Além dos avanços científicos, o projeto fortaleceu a relação da comunidade com o ambiente marinho. Mergulhadores, estudantes e operadores de turismo passaram a adotar práticas para proteger o período reprodutivo dos corais.

Em meio às ameaças aos oceanos, a descoberta traz uma mensagem de esperança: com observação cuidadosa e participação coletiva, ainda é possível entender melhor — e proteger — os ritmos vitais dos recifes de coral.

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