Da Polinésia à Tanzânia, o / Crédito: Vetea Liao
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Ao amanhecer, em águas cristalinas do Taiti, o mar muda de aparência de forma repentina e fica esbranquiçado. Não é areia nem plâncton: são milhões de gametas liberados ao mesmo tempo por colônias de corais durante a desova, um espetáculo natural raro e altamente sincronizado.
Durante muitos anos, o fenômeno foi visto como algo local. Agora, pesquisadores descobriram que corais separados por oceanos inteiros se reproduzem praticamente no mesmo minuto, o que desafia o que a ciência conhecia sobre esses organismos.
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A revelação é resultado de um projeto de ciência cidadã coordenado desde 2014 pela associação Tama nō te Tairoto, da Polinésia Francesa.
Em janeiro de 2025, o grupo registrou um fato impressionante: a espécie Porites rus desovou no mesmo dia e quase no mesmo horário no Taiti e na Tanzânia, a mais de 18 mil quilômetros de distância. No Pacífico, o evento ocorreu às 1h22, no Índico, às 1h23.
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Dados reunidos por mais de 400 observadores em 20 países mostram que a desova acontece, em média, cinco dias após a lua cheia e cerca de 90 minutos depois do nascer do sol. A precisão sugere a existência de um “relógio biológico global”, influenciado por fatores como luz, temperatura da água e ciclos lunares.
O projeto ganhou reconhecimento científico em 2025, com a publicação de um estudo baseado em dez anos de observações em 104 recifes na revista Global Ecology and Biogeography. A pesquisa indica que mudanças no período de desova podem servir como alerta precoce sobre os impactos das mudanças climáticas, antes mesmo do branqueamento dos corais.
O sucesso da iniciativa transformou a Polinésia Francesa em referência mundial no monitoramento de recifes. Em junho de 2025, o grupo apresentou seus resultados na Conferência dos Oceanos da ONU, em Nice.
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Além dos avanços científicos, o projeto fortaleceu a relação da comunidade com o ambiente marinho. Mergulhadores, estudantes e operadores de turismo passaram a adotar práticas para proteger o período reprodutivo dos corais.
Em meio às ameaças aos oceanos, a descoberta traz uma mensagem de esperança: com observação cuidadosa e participação coletiva, ainda é possível entender melhor — e proteger — os ritmos vitais dos recifes de coral.