É impossível separar o ato de julgar do mundo interno de quem o realiza / Freepik
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O ato de julgar pode parecer, à primeira vista, uma avaliação sobre o outro. No entanto, para a psicóloga Samantha Martin Negrini, essa prática revela muito mais sobre quem observa do que sobre a pessoa que está sendo analisada.
“Todo julgamento nasce de uma relação, mesmo que ela não seja concreta. Ele acontece no entre, no contato do olhar, do pensar ou da convivência com o outro”, explica a especialista. Nessa dinâmica, quem julga mobiliza seus próprios valores, experiências e significados para formar uma opinião.
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Segundo Samantha, é impossível separar o ato de julgar do mundo interno de quem o realiza. “Quando olho para alguém, eu lanço esse olhar a partir de mim. É a minha cultura, os meus modos de ser e de interpretar que estão em jogo”, afirma. Isso significa que o julgamento não traduz necessariamente a essência do outro, mas sim os filtros de quem observa.
Um exemplo comum acontece em situações cotidianas, como no transporte público. Uma pessoa fechada, olhando o celular, pode ser considerada arrogante por quem a observa.
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“Nesse caso, eu não sei nada sobre ela. O que revelo é o meu ponto de vista, minha forma de pensar o mundo e como me sinto diante daquele comportamento”, destaca a psicóloga.
Essa perspectiva torna o julgamento uma oportunidade de autoconhecimento. “O outro funciona como um espelho. Ao perceber como eu penso sobre alguém, descubro também aspectos de mim mesma”, explica Samantha.
Nesse sentido, mais importante do que o conteúdo do julgamento é entender o processo, com perguntas como “porque pensei aquilo?” e “o que isso diz sobre a forma como enxergo o mundo?”.
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Entretanto, a psicóloga alerta para os riscos de se apegar ao pré-julgamento. Ao definir uma pessoa como tímida, arrogante ou distante antes de conhecê-la, abre-se espaço para preconceito e fechamento.
“Quando antecipamos conceitos, deixamos de ver o outro como ele é. Fechamos a possibilidade de que ele se revele para nós”, pontua.
Para lidar melhor com essa tendência, Samantha sugere uma “atitude fenomenológica”: suspender os julgamentos e abrir espaço para conhecer o outro de forma integral e do ponto de vista da diversidade.
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“É preciso se permitir à experiência real, estar aberto à escuta, ao acolhimento. Só assim é possível enxergar além daquele pequeno recorte que eu vi.”
O julgamento, quando inconsciente, pode gerar constrangimentos, comparações e prejuízos nas relações. Mas, ao ser reconhecido, torna-se um convite para a reflexão.
“Quando Pedro fala de Paulo, sabemos mais sobre Pedro do que sobre Paulo. Essa frase ilustra bem como os julgamentos revelam quem somos, e não quem é o outro”, conclui a psicóloga.
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