Conhecida mundialmente como Ilha das Cobras, o local abriga uma população estimada de cerca de 3 mil serpentes distribuídas por seus 430 mil metros quadrados / João Marcos Rosa/ Ministério do Meio Ambiente
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Navegar por quilômetros em mar aberto até um dos pontos mais inóspitos do litoral brasileiro não é tarefa simples, principalmente quando o destino abriga uma das maiores concentrações de serpentes do planeta.
A Ilha da Queimada Grande, localizada em Itanhaém (SP), voltou a receber uma expedição científica do Instituto Butantan, que compartilhou detalhes da jornada realizada em maio deste ano.
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Conhecida mundialmente como Ilha das Cobras, o local abriga uma população estimada de cerca de 3 mil serpentes distribuídas por seus 430 mil metros quadrados, o equivalente a aproximadamente 55 cobras por campo de futebol.
O foco da missão foi a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma espécie endêmica da ilha, considerada um dos casos mais raros de isolamento evolutivo do mundo. Essa serpente, de coloração amarelada e hábitos arborícolas, só pode ser encontrada ali.
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Com uma dieta restrita a aves migratórias e sem predadores naturais, a espécie desenvolveu características singulares, porém vive em constante ameaça devido à sua vulnerabilidade ambiental.
A expedição partiu da Marina Maitá a bordo da embarcação Comandante Paschoal, com destino a um dos cenários mais enigmáticos e perigosos do país.
Cada passo precisa ser calculado, cada movimento, preciso. O menor descuido pode significar um encontro com uma das serpentes mais perigosas do país.
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A escolha do mês de maio para a expedição não foi por acaso. Trata-se de um período de transição de estações, quando as aves migratórias, principal alimento da jararaca-ilhoa, ainda sobrevoam a região.
A observação desse comportamento alimentar é fundamental para entender o ciclo de vida e as ameaças à sobrevivência da espécie.
A jararaca-ilhoa representa um dos maiores símbolos da fragilidade dos ecossistemas isolados. Sua existência limitada a uma única ilha a torna extremamente sensível a qualquer alteração ambiental: desde mudanças climáticas até interferência humana ou mudanças no padrão migratório das aves que a alimentam.
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O Instituto Butantan monitora regularmente a espécie e reforça a importância de manter a ilha fechada à visitação pública, justamente para preservar o delicado equilíbrio ecológico do local.
Ao retornar à Marina Maitá, a equipe do Butantan trouxe mais do que amostras e dados científicos. Carregava nas mochilas o registro de uma experiência intensa e transformadora, marcada pelo contato direto com um ambiente que ainda escapa ao domínio humano.
A Ilha da Queimada Grande permanece como um território misterioso e hostil, tão ameaçador quanto fascinante. Um lembrete vivo de que a ciência de campo exige não apenas conhecimento técnico, mas também coragem, resistência e reverência pela natureza em seu estado mais bruto.
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