Descoberta muda a forma como cientistas avaliam o potencial de habitabilidade da lua de Saturno. / Reprodução/Space today
Continua depois da publicidade
Um novo estudo publicado na revista Nature em dezembro de 2025 desafia a ideia de que Titã, a maior lua de Saturno, possui um oceano global sob sua superfície gelada.
Segundo a pesquisa liderada por Flavio Petricca, do Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA, a lua provavelmente abriga bolsões de água líquida isolados, formados em uma camada de gelo de alta pressão próxima ao ponto de fusão.
Continua depois da publicidade
Titã, maior que o planeta Mercúrio e a maior das 274 luas de Saturno, sempre despertou interesse dos cientistas devido à sua complexidade. Durante 13 anos de exploração pelo sistema de Saturno, entre 2004 e 2017, a missão Cassini realizou 124 sobrevoos da lua, usando radar e outros instrumentos para mapear sua superfície através da densa névoa atmosférica.
A sonda revelou rios, lagos e mares de metano e etano, dunas de areia orgânica, montanhas de gelo e vastas planícies — tornando Titã o único corpo do Sistema Solar além da Terra com líquidos estáveis na superfície, embora esses líquidos sejam hidrocarbonetos, e não água.
Continua depois da publicidade
Até agora, uma das hipóteses mais fascinantes sugeria a existência de um oceano subterrâneo de água líquida, baseado nas deformações da lua sob as forças gravitacionais de Saturno. No entanto, a nova análise dos dados de gravidade coletados pela Cassini indica que a intensa dissipação de energia de maré no interior de Titã é incompatível com a presença de um oceano global.
A pesquisa utilizou técnicas avançadas de processamento de dados, incluindo algoritmos de compressão de fase para rastreio por rádio, que reduziram o ruído em até 30%, permitindo medir pela primeira vez a energia dissipada no interior da lua.
Os resultados mostram que Titã dissipa cerca de 3 a 4 terawatts (TW) devido às forças de maré, um valor muito superior ao calor gerado por elementos radioativos em seu núcleo.
Continua depois da publicidade
O modelo proposto pelos cientistas descreve Titã com uma camada externa de gelo Ih de aproximadamente 170 km, dividida em regiões condutiva e convectiva.
Abaixo, o gelo se transforma em formas de alta pressão, gelo III, V e VI, totalizando cerca de 378 km de espessura. É nesta camada que ocorre a maior parte da dissipação de energia, tornando possível a formação de bolsões de água líquida ou de uma lama parcialmente derretida.
Leia também, Cientistas fazem descoberta a 2,5 km de profundidade que pode mudar a arqueologia
Continua depois da publicidade
Mesmo pequenas frações de fusão poderiam criar volumes de água equivalentes ao Oceano Atlântico ou ao Mar Mediterrâneo, representando nichos crioecológicos únicos.
O calor gerado também pode transportar nutrientes e compostos orgânicos através do gelo, criando ambientes dinâmicos potencialmente habitáveis, semelhantes aos ecossistemas de gelo marinho da Terra. Essa descoberta muda a perspectiva sobre a habitabilidade de Titã, focando em oásis líquidos escondidos em vez de um oceano global.
Além disso, o estudo oferece explicações para a persistência da atmosfera de metano, que deveria ter desaparecido há bilhões de anos. A presença de uma camada de clatratos de metano acima do gelo de alta pressão poderia liberar lentamente o gás, sustentando a atmosfera densa de Titã por eras.
Continua depois da publicidade
Veja mais, Cientistas alertam para fenômeno inédito previsto para 19 de dezembro
Comparações com Ganimedes, lua de Júpiter, mostram que mundos semelhantes podem ter evoluções internas muito diferentes. Enquanto Ganimedes possui um oceano subsuperficial mantido por calor de maré e isolamento térmico, Titã evoluiu de forma distinta, com dissipação de maré intensa, mas suficiente para impedir a fusão generalizada de seu interior.
A missão Dragonfly da NASA, programada para explorar a superfície de Titã, promete fornecer novos dados sobre sua geografia, química e potencial de vida, permitindo aos cientistas entender melhor os complexos processos internos e a habitabilidade da lua.
Continua depois da publicidade