O mapeamento revela que a exclusão é maior no acesso a Concertos (82%), Saraus (75%) e Teatro (62%), mesmo quando as ações acontecem na rua / Rodrigo Montaldi/DL
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Mais de 50% da classe D/E só frequenta atividades culturais gratuitas: essa é uma das constatações da pesquisa da consultoria JLeiva Cultura e Esporte e do Datafolha divulgada na semana passada na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Com o objetivo de analisar como os brasileiros consomem diversão e arte, o levantamento Cultura nas Capitais entrevistou 10.630 pessoas com mais de 12 anos de 12 das capitais mais populosas do país. Entre elas, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo.
O mapeamento revela ainda que a situação é maior no acesso a concertos (82%), Saraus (75%) e Teatro (62%). A exclusão da classe D/E é quase sempre superior a 40% nas 14 atividades culturais listadas na pesquisa (livros, cinemas, shows de músicas, jogos eletrônicos, blocos de carnaval, festas populares, feiras de artesanato, bibliotecas, danças, museus, teatro, circo, saraus e concertos).
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Para realizar o mapeamento, foi questionado quais atividades culturais as pessoas haviam consumido no último ano, sem delimitar se o circo foi assistido debaixo da lona e se as apresentações de teatro aconteceram essencialmente dentro do palco italiano, por exemplo. “Constatamos que um ou dois circos itinerantes que passassem pelos bairros mais afastados mudariam significativamente esse cenário”, aponta João Leiva.
Apesar de a classe social ser costumeiramente associada para explicar a distância entre a população e a produção artística, o mapeamento revela outro cenário: o acesso à cultura melhora com a educação. O percentual de pessoas que foram a atividades culturais nos últimos doze meses cresce à medida que os anos de estudo aumentam – e isso vale para todas as manifestações.
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A exclusão chega a 80% conforme o menor índice de estudo: a variação entre quem tem nível universitário e quem cursou no máximo o fundamental é maior no caso de teatros, museus e concertos. O percentual de quem foi a estas atividades no último ano na classe A é ao menos quatro vezes maior que na classe D/E.
Na constatação do jornalista e cientista social Rafael Vega, quando uma pessoa pula de um ciclo para outro de educação (passa do ensino fundamental para o médio, por exemplo) seu acesso à cultura avança duas vezes mais do que se essa pessoa subir de uma faixa de renda para outra.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Inteligência da Folha de S.Paulo, Fábio Takahashi, muito do desempenho escolar está fora da escola, o que justifica a tendência de quanto mais educação, maior o acesso à cultura. “Precisamos pensar de que modo empurrar essa roda para mudar o cenário e garantir mais educação, até porque, na maior parte das vezes, o primeiro acesso a diversas atividades culturais acontece dentro do ambiente escolar”, revela.
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Esse é outro apontamento da pesquisa: provavelmente as futuras gerações terão mais acesso à cultura por terem sido estimuladas no ciclo de ensino. No entanto, conforme aumentam os números de vida, diminui o acesso a atividades culturais e cresce o percentual de pessoas que nunca foram a museus, teatros e concertos, por exemplo.
“Agora é preciso olhar com cautela para o grupo mais excluído, que é composto por pessoas mais velhas. Hoje as políticas públicas estão focadas nos mais jovens. As dificuldades no acesso à tecnologia e a educação são hipóteses a serem consideradas nesse caso”, destaca João Leiva.
Gênero e raça
As mulheres têm maior interesse por cultura, mas o acesso é inferior ao dos homens. Diversas variantes podem explicar esse cenário, dentre elas a dupla jornada e as diferenças salariais, evidenciando que o Brasil ainda é um país de contrastes. A desigualdade racial também se reflete em desigualdade de acesso à cultura: apesar do gráfico não ser linear, o grupo composto por pessoas que se declararam pretas e pardas é o mais excluído. No entanto, a defasagem é menor do que a encontrada nos recortes por escolaridade e renda.
A pesquisa foi realizada entre 14 de junho e 27 de julho de 2017, por meio de um questionário de 55 perguntas. Os dados estão disponíveis em culturanascapitais.com.br.
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Na Baixada Santista, realidade cultural ainda é desconhecida
Em discurso no lançamento da Pesquisa JLeiva Cultura nas Capitais Romildo Campello, secretário da Cultura do Estado de São Paulo, destacou que a informação é essencial para a tomada de decisão. “É preciso conhecer a realidade para pensar políticas públicas para melhorá-la”, enfatizou.
No entanto, as cidades da Baixada Santista não possuem um mapeamento específico sobre os hábitos culturais da população.
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A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Santos enfatizou que tem suas ações norteadas pelas diretrizes do Plano Municipal de Cultura (PMC), documento embasado inclusive no estudo de 2014 do Instituto JLeiva - Cultura e Esporte. A pesquisa abrangeu 21 municípios de São Paulo, entre eles Santos.
“A Secult cumpre as diretrizes do PMC de garantir políticas públicas de formação em arte, democratizando e garantindo o amplo acesso aos bens culturais, promovendo e apoiando eventos em toda a Cidade”, destaca a nota enviada à redação.
Já a Prefeitura de São Vicente informa, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), que por razão do intervalo entre os semestres letivos, disponibiliza, no momento, a oficina cultural de artes plásticas para pessoas com mais de 18 anos. Ações do Programa de Atendimento Integral à Família (PAIF) são desenvolvidos em diversos pontos da cidade.
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A Secretaria de Cultura de Cubatão informa que não há pesquisas sobre hábitos culturais, mas na questão de mapeamento de agentes culturais e programação mensal há uma atualização perene na plataforma SMIIC - Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais.
Em Itanhaém, os idosos podem participar de diversas atividades culturais no Conviver, que está localizado na Rua Sebastião das Dores, 29, naPraia dos Pescadores.
A Prefeitura de Bertioga destaca que mantém uma série de atividades culturais para a população. Entre elas a Teatrada; Música é Cultura; Projeto Harmonia; Mais arte na Cidade; “Sarau Arte Buriki e Cordas da Cultura.
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Mongaguá destaca que ainda não tem um mapeamento, mas participa ativamente de uma iniciativa a nível regional, capitaneada pelo Sesc-Santos, que visa, justamente, a criação de um mapeamento artístico, cultural, ambiental e turístico da Baixada Santista. As cidades de Guarujá e Praia Grande também destacaram que participam deste processo.
A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Guarujá informa que o mapeamento cultural da cidade está em fase de formação. A Secult promove diversas atrações e cursos gratuitos durante todo o ano, os quais abrangem uma diversificada faixa etária.
A Prefeitura de Praia Grande afirma que já vem realizando o seu próprio Plano de Cultura que mostrará as diretrizes a serem tomadas nos próximos 10 anos.
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Peruíbe não respondeu a solicitação.