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Crianças e as amizades on-line: infância entre telas, silêncios e riscos virtuais

Especialistas relacionam mudanças de comportamento infantil ao debate sobre leis que buscam proteger crianças na internet

Luna Almeida

Publicado em 31/08/2025 às 17:03

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Relatos de famílias apontam o distanciamento dos filhos e a preferência pelas conversas digitais / Freepik

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Vivemos tempos em que as casas estão mais silenciosas e as telas mais barulhentas. Crianças e adolescentes, que antes formavam amizades nas ruas e nas praças, agora encontram vínculos em jogos on-line, grupos de mensagens e redes sociais. 

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Para o psicólogo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e idealizador do projeto Falar para Seu Filho Ouvir, essa mudança não deve ser vista apenas como modernidade, mas como sinal de algo mais profundo: “a amizade virtual cresce quando o espaço fora da tela está vazio”.

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Esse cenário se conecta a debates recentes no Legislativo. Na Baixada Santista, a Câmara de São Vicente aprovou em primeira discussão a chamada Lei Felca, que busca enfrentar a adultização de crianças. 

Em Brasília, o Senado aprovou o Estatuto Digital da Criança e do Adolescente, impondo regras para a proteção de menores em ambientes virtuais. O mesmo silêncio que preocupa famílias também ecoa como urgência em leis municipais e federais.

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A infância que pede socorro nas telas

No Instituto Suassuna, relatos de famílias apontam o distanciamento dos filhos e a preferência pelas conversas digitais. 

Suassuna explica que a questão não é apenas tecnológica, mas afetiva. “A pergunta não é com quem meu filho está falando, e sim por que ele prefere falar com alguém distante em vez de estar conosco na sala ao lado.”

Sinais como irritabilidade, isolamento, queda no desempenho escolar e até dificuldades no sono podem ser alertas. 

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Para o psicólogo, são pedidos de ajuda que antecedem sintomas maiores. “A criança fala com o silêncio, com o corpo e com o comportamento. Cabe ao adulto aprender a escutar esses sinais.”

Lei Felca e o combate à adultização infantil

O Projeto de Lei 84/2025, conhecido como Lei Felca, nasceu após denúncias do youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, sobre a sexualização precoce de crianças na internet. 

A proposta aprovada em São Vicente prevê ações conjuntas entre escolas, famílias e órgãos de proteção, além de campanhas de conscientização e criação de um banco de dados sobre denúncias.

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O vereador Edivaldo da Auto Escola (MDB), autor do projeto, defende que a exposição precoce a conteúdos de cunho sexual compromete o desenvolvimento emocional e aumenta a vulnerabilidade das crianças. 

Entre as medidas previstas, está a instituição da Semana Municipal de Prevenção e Combate à Pedofilia e à Sexualização Infantil em maio, alinhada ao movimento nacional Maio Laranja.

Estatuto Digital da Criança e do Adolescente

No Congresso Nacional, o PL 2.628/2022 foi aprovado pelo Senado e cria regras específicas para ambientes digitais

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O texto estabelece desde a remoção imediata de conteúdos de abuso até a obrigatoriedade de ferramentas de controle parental e verificação de idade. Também proíbe a coleta de dados para publicidade direcionada a crianças e adolescentes.

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor da proposta, reforçou que o objetivo é dar segurança a um público vulnerável: “O ambiente digital é hoje um problema global. O que buscamos é devolver a pais e mães o poder de acompanhar a vida digital de seus filhos.”

Já o relator, Flávio Arns (PSB-PR), destacou que a lei iguala a proteção de crianças na internet às garantias já existentes no mundo real. A proposta prevê penalidades que vão de advertência a multas que podem chegar a R$ 50 milhões.

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Presença que protege

Para Danilo Suassuna, leis são necessárias, mas não substituem a presença familiar. Projetos como Falar para Seu Filho Ouvir e Brincar como Antigamente buscam resgatar o vínculo afetivo, lembrando que a maior necessidade da criança não é de tecnologia, mas de companhia.

“Se seu filho passa tempo demais on-line, talvez ele esteja tentando dizer que está sozinho”, afirma o psicólogo. Entre recomendações, ele sugere criar rotinas de convivência, propor limites com diálogo e oferecer alternativas reais de socialização.

As duas frentes – a escuta familiar e a criação de políticas públicas – caminham lado a lado. Se o mundo virtual já faz parte da vida de crianças e adolescentes, cabe aos adultos, sejam pais, professores ou autoridades, garantir que ele seja um espaço de vínculo, aprendizado e segurança, e não um território de riscos silenciosos.

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Assim, o que a política pública regula, a família fortalece: vínculos, presença e escuta ativa. Um gesto simples, como desligar o celular e perguntar de verdade como a criança está, pode ser tão ou mais poderoso do que qualquer lei.

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