O foco global agora está na eletrificação, com praticamente todas as montadoras migrando para veículos elétricos e híbridos / ImageFX
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A indústria automotiva vive uma das transformações mais profundas de sua história — e, segundo alguns especialistas, nem todos os gigantes conseguirão se adaptar a tempo. O economista alemão Moritz Schularick, presidente do Instituto de Economia Mundial de Kiel, afirmou em entrevista recente que as três maiores montadoras da Alemanha, BMW, Volkswagen e Mercedes-Benz, podem deixar de existir 'em sua forma atual' até o fim desta década.
Os últimos 15 anos trouxeram mudanças radicais para o setor automotivo. O foco global agora está na eletrificação, com praticamente todas as montadoras migrando para veículos elétricos e híbridos. Além disso, o avanço das tecnologias de direção autônoma e inteligência artificial embarcada vem forçando fabricantes a repensar seus modelos de negócios.
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A corrida tecnológica, porém, tem um custo alto: investimentos bilionários em inovação e uma pressão crescente por rentabilidade. Montadoras tradicionais enfrentam o desafio de equilibrar inovação e lucro — e algumas podem não resistir à concorrência asiática, mais ágil e com custos de produção menores.
Durante entrevista ao programa Caren Miosga, da emissora alemã ARD, Schularick foi direto:
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'A julgar pelas três principais montadoras alemãs, Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, acredito que elas provavelmente não existirão mais em sua forma atual até o final da década, dado o estado atual da indústria automobilística alemã.'
O economista não detalhou os motivos exatos, mas sugeriu que investidores estrangeiros, especialmente asiáticos, podem assumir o controle parcial das marcas, alterando profundamente sua estrutura e identidade.
Como exemplo, ele citou o caso da Volvo, que passou a ser controlada pelo grupo chinês Geely em 2010 e, desde então, se reinventou como uma das montadoras mais admiradas do mundo.
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Schularick também destacou que a corrida pela direção autônoma é o próximo grande desafio da indústria. Para ele, a Alemanha corre o risco de 'ficar para trás novamente' se concentrar apenas em debates internos e não acompanhar o ritmo de inovação de empresas como Tesla, BYD e NIO.
'É uma grande preocupação que, em todo esse debate retrospectivo, estejamos nos esquecendo de qual é a próxima revolução', alertou o economista.
As declarações geraram reação imediata. A presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA), Hildegard Müller, classificou a previsão como 'absurda'.
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'Existem empresas bem-sucedidas. O problema está nas condições impostas pela política alemã e pelos altos custos de energia', afirmou.
Já Cem Özdemir, ministro da Agricultura e membro do Partido Verde, mostrou-se mais confiante:
'Que cada um faça o seu trabalho, e então poderemos administrar isso da melhor maneira. Não vejo investidores chineses assumindo a Mercedes-Benz.'
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Apesar do otimismo oficial, os números preocupam. A Porsche, marca do grupo Volkswagen, registrou queda de 95,7% em seus lucros, impactando diretamente a receita do conglomerado.
A Mercedes-Benz também enfrenta resultados irregulares, embora tenha recuperado parte de seu desempenho com o novo CLA e o fortalecimento de sua imagem no mercado elétrico.
Esses indicadores reforçam o alerta de Schularick: as grandes montadoras alemãs estão sob intensa pressão para se reinventar rapidamente.
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Enquanto isso, marcas emergentes, especialmente da China e dos Estados Unidos, avançam com força no mercado de elétricos e autônomos. BYD, Tesla e Xiaomi Auto ampliam suas vendas globais com agilidade, preços competitivos e tecnologias conectadas.
A Alemanha, berço do automóvel, enfrenta agora o desafio de manter sua liderança em um cenário de disrupção tecnológica e novos paradigmas de mobilidade.