Há praias no Brasil que também são as favoritas dos tubarões / Imagem gerada por IA
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O litoral brasileiro é vasto, diverso e, na imensa maioria das vezes, seguro para banho. Mas alguns trechos em Pernambuco e em poucos outros pontos do país ganharam fama de “praias do medo” por concentrar o maior número de ataques de tubarão registrados no Brasil. Mesmo com risco estatisticamente baixo, a combinação de mar urbano, degradação ambiental e muita gente na água fez desses lugares um caso de estudo mundial.
O estado de Pernambuco concentra, de longe, o maior número de incidentes com tubarões no país, com destaque para a Região Metropolitana do Recife. Estudos que cruzam dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e de arquivos internacionais apontam que a maioria dos ataques brasileiros acontece ali, em um trecho relativamente pequeno de costa, entre Recife, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho.
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Cartão-postal de Recife, a Praia de Boa Viagem é também o ponto com mais registros de ataques de tubarão no Brasil. Desde o início dos registros oficiais, em 1992, foram mais de 60 ocorrências e cerca de 25 mortes, quase sempre em áreas onde o mar é mais fundo, além da barreira de recifes. Por isso, a orla exibe dezenas de placas de alerta, e bombeiros e guardas-vidas reforçam as orientações para que banhistas fiquem nas piscinas naturais rasas e respeitem a sinalização.
Ao lado de Boa Viagem, já em Jaboatão dos Guararapes, a Praia de Piedade acumula mais de 20 ataques desde os anos 1990. Foi ali que aconteceram dois incidentes em dias consecutivos em 2023, envolvendo um adolescente e uma jovem adulta que tiveram membros amputados após as mordidas. O histórico levou o poder público a reforçar campanhas de prevenção, restringir esportes aquáticos em trechos críticos e intensificar o monitoramento na faixa de mar mais perigosa.
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Seguindo o litoral para o sul, praias de Cabo de Santo Agostinho – como Paiva e Gaibu – também aparecem nas estatísticas. O município registra ao menos seis ataques desde a década de 1990, em um litoral que mistura áreas de balneário com proximidade de estuários, portos e zonas de forte intervenção humana. O avanço de empreendimentos costeiros, como o complexo portuário de Suape, é citado por pesquisadores como um dos fatores que alteraram o comportamento dos animais na região.
Mesmo mais distante do continente, o arquipélago de Fernando de Noronha também registra incidentes com tubarões, especialmente em áreas como a Baía do Sueste e a Cacimba do Padre. Desde meados da década de 2010, são mais de dez ocorrências, todas não fatais até agora, envolvendo principalmente mordidas em braços e pernas durante mergulhos e flutuações. O aumento dos casos levou o ICMBio a instalar placas de alerta e, em alguns episódios, a fechar temporariamente trechos de praia para banho.
Fora de Pernambuco, os registros são bem mais esparsos. Há casos pontuais em trechos do litoral de São Paulo, como São Sebastião, e em praias do Nordeste como Atalaia, em Aracaju (SE). Ainda assim, nenhuma outra região brasileira chega perto da concentração de ataques observada na Grande Recife, o que faz do estado um ponto fora da curva nas estatísticas mundiais.
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Pesquisadores apontam um conjunto de fatores que ajudam a explicar a concentração de incidentes em Pernambuco: canais profundos muito próximos da praia, que funcionam como “rodovias” para tubarões; degradação de manguezais e estuários, que reduz a oferta de alimento e empurra os animais para mais perto da costa; construção de grandes obras portuárias; e presença de água mais turva, que dificulta a visão dos predadores. Espécies como tubarão-tigre e tubarão-cabeça-chata, responsáveis pela maioria dos ataques, se adaptam bem a esse cenário.
Apesar da fama, especialistas lembram que o risco de um banhista ser atacado por tubarão continua muito baixo quando comparado à quantidade de pessoas que frequentam essas praias todos os anos. Ainda assim, autoridades locais mantêm um pacote de medidas: restrições a esportes de pranchas, monitoramento com embarcações, redes ou drumlines em áreas específicas, campanhas educativas e, em casos extremos, interdição temporária de trechos do mar.
A recomendação geral é seguir as placas, evitar nadar em mar profundo ou perto de desembocadura de rios, não entrar na água sozinho e respeitar orientações dos bombeiros.
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