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O presidente do Sindicato das Auto-escolas e Centros de Formação de Condutores no Estado de São Paulo, José Guedes Pereira, afirmou em entrevista ao DL, que desligará, do quadro de associados, empresas cujo envolvimento no esquema de fraude das carteiras de habilitação, seja comprovado.
Pereira informou que há pelos menos 3.500 auto-escolas em todo o Estado. Destes entre 40% e 50% são associados à entidade. Por isso, desde a divulgação da operação Carta Branca, na última terça-feira, Pereira afirmou que acompanha o caso junto às autoridades. A operação é realizada conjuntamente pelo Ministério Público Estadual, Polícia Rodoviária Federal e Corregedoria da Polícia Civil.
Na terça-feira, foram presas 19 pessoas suspeitas de participação no esquema de venda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), e cumpridos 44 mandados de busca e apreensão.
Pereira espera que as auto-escolas que cometeram o ato ilícito “sejam devidamente punidas. Nossa preocupação é preservar a credibilidade dos (estabelecimentos) que são sérios”.
A operação Carta Branca, conduzida pelo do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Guarulhos, visa desbaratar a quadrilha que vendia carteiras para oito estados brasileiros. As CNHs frias, segundo as investigações, eram confeccionadas na cidade de Ferraz de Vasconcelos.
O promotor de Justiça do Gaerco de Guarulhos, Marcelo Oliveira, em entrevista coletiva, na terça-feira, afirmou que cerca de 1,3 mil carteiras de motoristas foram emitidas de forma ilegal nos últimos dois anos.
Porém, há 40 mil CNHs bloqueadas no Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran), além de 200 auto-escolas da Capital, Grande São Paulo e Santos, sob suspeita de fraude.
Perguntado sobre quantas auto-escolas de Santos estariam sob suspeita, o promotor de Justiça José Mário Barbuto, (Gaerco) de Guarulhos, disse ontem ao DL que não serão divulgados os nomes e nem quantas são. O promotor também não confirmou se auto-escolas de outras cidades da Baixada Santista estão na mira da operação Carta Branca. Segundo Barbuto, essas informações serão mantidas em sigilo para não prejudicar as investigações.
O esquema
O esquema contava com o auxílio de médicos, psicólogos, despachantes, donos e funcionários de auto-escolas, policiais civis e delegados que, além de cooptarem os compradores dos documentos, se encarregavam de lançar falsas informações no sistema de computação do Detran para a emissão da CNH.
Entre os presos, o delegado Juarez Pereira Campos, de Ferraz de Vasconcelos, suspeito de receber dinheiro para não revelar o esquema criminoso. Segundo o promotor de Justiça Marcelo Oliveira, do Gaerco de Guarulhos, “a carteira era emitida sem a presença física do condutor, mediante fraudes no sistema de habilitação”.
De acordo com Marcelo, havia casos em que uma mesma digital era usada para 200 documentos diferentes. Algumas dessas digitais eram coletadas com dedos de silicone ou de argila.
“O perfil dos clientes era de pessoas que se dispunham a pagar porque sabiam que dificilmente obteriam a CNH; muitos eram analfabetos ou portadores de deficiência”.
Cada habilitação, que podia ser emitida para o país inteiro, custava em média R$ 1.500, exceto para Minas Gerais, que custava R$ 1.800, devido à fiscalização rígida do Detran mineiro.
O promotor afirmou ainda que há indícios de participação da Corregedoria do Detran no esquema. Os envolvidos poderão responder por corrupção, falsidade ideológica de documento público e formação de quadrilha.
Na operação foram apreendidos documentos que comprovam a fraude, além de dinheiro e prontuários de CNH, que também serão usados para identificar mais suspeitos de pertencer à quadrilha. A operação investiga ainda lavagem de dinheiro.
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