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Saúde

Papo de Domingo: Projeto de lei busca implantar ‘Merenda Vegana’

Ativista Erika Matzick conta com projeto de lei e programa piloto para florescer a ideia nas creches municipais

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 15/03/2015 às 00:30

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A fisioterapeuta Erika Matzick não nasceu na cultura vegana. Quando criança ia aos abatedouros para comprar carne junto com a família. Ouviu de seu avô que “os bichos foram criados por Deus para serem mortos para nós comermos”.

Como ela mesma diz, após crescer descobriu que o negócio não era daquele jeito que fora ensinada. Mais do que aderir ao veganismo, se tornou ativista. Já são 10 anos defendendo esta causa.

A entrada se deu após tratar muitos pacientes, que se tratavam, melhoravam, mas não tardavam a retornar para a fisioterapia. Os problemas eram diversos como câncer e hipertensão. Todos eles acompanhados por remédios. 

A situação deixou Erika apreensiva, que ligou os pacientes a um denominador comum: a alimentação. Antes, consumidora de produtos de origem animal, aboliu tudo do cardápio. E garante, nunca se sentiu tão bem. Até poucas horas de sono são melhores do que muito tempo na cama antigamente. Além disso, tem mais disposição e um humor melhor.

Papo de Domingo: Projeto de lei busca implantar ‘Merenda Vegana’ (Foto: Divulgação)

Com experiência de vida, busca implantar o programa ‘Merenda Vegana’ para ser aplicado nas creches municipais em Santos. A iniciativa, projeto de lei debatido primeiramente em Florianópolis (SC), agora deve ser discutido na cidade. A ativista conta com o apoio do vereador Kenny Mendes (DEM) para isso.

Nesta edição do ‘Papo de Domingo’, Erika fala sobre o projeto, fala dos possíveis benefícios e defende seu ponto de vista pela exclusão de toda alimentação de origem animal dos cardápios das crianças, além da conscientização de pais e funcionários das unidades. Confira:

Diário do Litoral: Como surgiu o projeto?
Erika Matzick:
O projeto de lei tentaram implantar em Florianópolis. Já está em trâmite na Câmara dos Vereadores. Ele foi escrito pela Sônia Felipe. Eu falei para ela da vontade de fazer aqui em Santos isso. Ela me autorizou a utilizar todo o material dela. Fui falar com o vereador Kenny Mendes e temos um projeto de lei que, se Deus quiser e tudo der certo, neste mês será apresentado na Câmara. Para reforçar o projeto de lei, mostrar que isso era viável, uma creche abriu as portas para  eu possa implantar ali um projeto piloto.

Diário do Litoral: Quais são os principais benefícios desse projeto?
Erika Matzick:
A gente vai oferecer a merenda vegana todos os dias e estamos ensinando as crianças o que é amar aos animais, da onde vem a comida. A gente está acostumado a estar no piloto automático. Seu pai come carne, então você come carne. Isso se criou um hábito cultural de se comer animais. Minha ideia é mostrar para as crianças que isso não é bom e que isso está trazendo malefícios não só para a saúde, como está consumindo o planeta inteiro. Para você fazer um quilo de carne, você utiliza 15 mil litros de água. Você ingerir proteínas e gorduras de origem animal, tudo isso vai estar depositado dentro do seu organismo. Todas as doenças cardíacas, vasculares, cânceres, são causados pela ingestão de produtos animais. O leite, principalmente, porque depois dos  4 anos você não possui nem enzima mais para digerir. Nenhum outro mamífero na natureza consome leite depois de mamar. Só o ser humano e só o ser humano tem câncer. Por que será?

Diário do Litoral: Você tem conversado com as pessoas na rua sobre o projeto?
Erika Matzick:
Ativismo vegano eu já pratico há 10 anos. Sobre o projeto, não tenho conversado com as pessoas na rua, mas com os pais das crianças da creche, sim. Eles estão gostando porque essas informações não chegam para eles. Eles não tinham a mínima ideia de que isso tudo existia.

Diário do Litoral: Nas diretrizes do projeto, se fala em ‘garantir a oferta de merenda somente vegana, com gradual mudança para a total vegana’. Isso seria uma mudança da merenda totalmente para vegana, ou somente um aumento da oferta?
Erika Matzick:
Agora, está sendo ofertado tudo, mas se oferta também a opção totalmente vegana. Os pais vão falar “eu quero que meu filho consuma carne” ou  “quero que meu filho consuma comida vegana”. Se todos os pais optarem por ser vegana, aí a creche inteira vai ser vegana. Deixa a opção livre para os pais. É um sonho meu, eu quero, mas não estou impondo isso.

Diário do Litoral: A questão do ensinamento para crianças de zero a 6 anos. Isso não poderia ser interpretado como impor a cultura vegana para a criança? Talvez podendo criar uma aversão pelos produtos de origem animal?
Erika Matzick:
Se você sabe que aquilo vem de morte, eu não estou inventando uma história para você. Eu estou contando o real fato. É diferente de inventar fatos. Eu não estou mentindo da onde vem a comida. Eu estou tirando a ideia de que as coisas nascem em um pé de supermercado. Muito pelo contrário. Eu estou tirando a mentira que é passada pela indústria. Você contar a verdade não deve ser algo ruim. Não estou impondo, estou contando a verdade. Ao mesmo tempo em que você tem em uma embalagem de leite, a caricatura de uma vaca feliz. Eu não consigo imaginar uma fêmea que é estuprada por cinco vezes ao longo da sua vida, só vive cinco anos e tem o seu filho roubado, sorrindo por aquilo. E a indústria põe a foto dela sorrindo.

Diário do Litoral: Seria um contrassenso?
Erika Matzick:
É total contrassenso. Chega a ser uma esquizofrenia. Que nem o frango assado. É a foto do frango feliz. Eu nunca vi um frango feliz se cortando e se dando para você comer. A nossa sociedade vive nessa esquizofrenia, acha isso normal. Eu conto a verdade e estou fazendo uma lavagem cerebral? Não, estou tirando a lavagem cerebral que todo marketing da indústria faz e falando “olha, na verdade, isso vem disso. A opção é tua”. Você tem o direito de saber o real fato. Uma coisa que eu acho engraçado na sociedade é que eu falar uma verdade incomoda e acham que é lavagem cerebral. Mas um pai querer que o filho seja santista, isso é  bacana. Se ele é santista, o filho vai ser santista. Nós estamos acostumados, sim, a passar nossas tradições para as crianças. Sejam elas verdade ou não. A única coisa é que estou passando uma verdade, e não a minha verdade.

Diário do Litoral: Além da melhora da saúde física, outra diretriz do projeto trata da melhora da saúde emocional e mental. Como é esse ganho?
Erika Matzick:
Por exemplo, a molécula do leite, como eu disse, não é mais digerida pelo nosso organismo. Mas independente disso, ela tem uma molécula chamada caseina. Essa molécula tem o mesmo formato que a morfina. Tanto que é por isso que o bebê procura a mãe para se alimentar de novo. Não é porque ele quer o alimento. Porque, se não, era só darem água para ele, dilataria o estômago e ele ficaria feliz. Não, ele procura a sensação de prazer. É a morfina. Essa molécula faz ligação direta com o sistema nervoso central. Assim como no final da digestão você tem a produção do composto que não se quebra mais do que isso de BCM7. Essa molécula também vai estar no seu sistema nervoso central e com seus receptores colinérgicos. Então, você tem muitas crianças hoje em dia que sofrem de hiperatividade, dessas síndromes que os médicos estão dando ritalina para eles tomarem, devido ao consumo de leite, por exemplo. Distúrbios psicológicos e psiquiátricos também podem ser causados apenas por ingestão de leite. O aspecto do emocional é você não consumir o alimento que berra, chora e sangra porque, quando você está com medo ou raiva, você libera cortisona e adrenalina no organismo. Isso vai parar nos músculos, que é o que as pessoas ingerem dos animais. Todo animal na hora da fuga, ele está com o sangue no tônus muscular. Todos esses hormônios estão nos músculos, que depois vão parar no prato. Esses hormônios não são quebrados no cozimento. Você está comendo diretamente cortisona e adrenalina.

Diário do Litoral: Qual sua opinião sobre o projeto da “Segunda Sem Carne”?
Erika Matzick:
Nunca vi campanha anti tabaco não fume na segunda-feira. Isso porque você pode vir a ficar doente. No caso dos animais eles morrem e sofrem, isso é fato não hipótese ou probabilidade. E nesse caso você propõem tirar um dia da semana? Excluir um dia não resolve. Conscientização da população e mensagem clara que somente a abolição é o caminho me parece coerente. O caminho seguido por cada um é decisão pessoal. Uns largam o cigarro de uma vez outros aos poucos.

Diário do Litoral: O ovo entra nessa questão também?
Erika Matzick:
Sim. O ovo é gordura e proteína excessiva para o organismo. Nenhum ser humano, mesmo praticando atividade física excessiva como fisiculturismo necessita a ingestão de ovos. Inclusive, no último campeonato, o fisiculturista campeão é vegano. O cara mais forte do mundo, que mora na Alemanha, é vegano. Puxa aquelas rodas gigantes de caminhão. Já foi provado mundialmente que você não precisa disso, muito pelo contrário. Toda aquela gordura vai parar no seu coração, pode te dar um AVC, um infarto, te trazer doença. Para que matar um animal para pagar com sua morte em seguida? Você mata para depois morrer? Não é melhor viver e deixar viver? Não faz sentido.
 

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