05 de Maio de 2024 • 06:03
A lesão por pressão é o terceiro tipo de ocorrência mais frequentemente / Divulgação
Por causa de uma pneumonia a aposentada Maria do Carmo, de 70 anos, precisou ser hospitalizada. Durante os 20 dias em que ficou no hospital, como já apresentava um leve quadro de incontinência urinária e permanecia na mesma posição por longos períodos, desenvolveu pequenos ferimentos na pele, posteriormente agravados pelo descontrole da glicemia. Por vergonha e desinformação, a aposentada demorou para mostrar as feridas que surgiram no cóccix aos enfermeiros. Quando finalmente tomou coragem, os pequenos machucados já haviam se tornado uma lesão maior, uma ferida complexa.
O relato acima é fictício, mas estima-se que a incidência de lesões por pressão seja uma realidade em 39,8%1 dos hospitais brasileiros. Popularmente chamadas de escaras, as lesões por pressão ocorrem na pele ou nos tecidos subjacentes, normalmente sobre uma proeminência óssea, e decorrem do aumento da compressão externa prolongada sobre a pele, o que prejudica a circulação sanguínea, favorecendo a morte celular e o consequente aparecimento da lesão. Geralmente as lesões se desenvolvem em calcanhares, tornozelos, quadris e cóccix e são mais comuns em pessoas com mobilidade e sensibilidade reduzida, sobretudo acamados, cadeirantes e idosos debilitados.
A maior parte dos casos de lesão por pressão poderiam ser evitados com a adoção de medidas simples e de baixo custo como, por exemplo, “avaliar diariamente o aparecimento de áreas avermelhadas sobre proeminências ósseas que quando pressionadas ficam esbranquiçadas, reposicionar o paciente imobilizado a cada duas horas para aliviar a pressão, utilizar itens que ajudem a reduzir a pressão como travesseiros e manter a pele limpa, seca e hidratada”, orienta a enfermeira vice-coordenadora do Programa de Mestrado e Doutorado em Enfermagem da Universidade de Guarulhos, Viviane Carvalho.
A lesão por pressão é o terceiro tipo de ocorrência mais frequentemente notificado pelos Núcleos de Segurança do Paciente dos hospitais brasileiros, totalizando cerca de 15% dos registros de eventos adversos relacionados à assistência à saúde[2]. “As lesões por pressão oneram o sistema de saúde e impactam negativamente na qualidade de vida dos pacientes, dificultando o processo de recuperação, causando dor e levando ao desenvolvimento de infecções graves. Também têm sido associadas à internações prolongadas, sepse e mortalidade”, alerta a presidente da Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinência (SOBEST), Angela Boccara.
Tratamento
Entre os princípios fundamentais para cuidar das lesões por pressão estão: tratar a doença de base responsável por desencadear o problema, aliviar a pressão para evitar mais danos aos tecidos e adotar medidas para favorecer a cicatrização. Esse último pilar inclui a nutrição e a hidratação adequadas do paciente, a limpeza da ferida para minimizar o risco de infecção e o uso de coberturas apropriadas como curativos avançados com propriedades antimicrobiana, antiodor, regenerativa ou hidratante. O sistema de pressão negativa também pode ser usado, após a indicação de um especialista, esta terapia utiliza a pressão controlada e localizada sobre a lesão por meio de um curativo de espuma coberto por uma película e ligado a um sistema de drenagem, que drena os fluidos e aproxima as bordas da ferida, favorecendo o processo de cicatrização.
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