X

Saúde

Amazonas avisou Pazuello que faltaria oxigênio 4 dias antes de pessoas morrerem asfixiadas

Ainda assim, e mesmo estando na capital do Amazonas nos três dias que antecederam o colapso, o ministro não tomou as providências necessárias

Folhapress

Publicado em 16/01/2021 às 15:39

Atualizado em 16/01/2021 às 15:54

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

*Foto meramente ilustrativa. / Flavio Lo Scalzo/Reuters/AB

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi avisado sobre a escassez crítica de oxigênio em Manaus por integrantes do governo do Amazonas, pela empresa que fornece o produto e até mesmo por uma cunhada sua que tinha um familiar "sem oxigênio para passar o dia". Pazuello também foi informado sobre problemas logísticos nas remessas.

Os avisos foram dados pelo menos quatro dias antes do absoluto colapso dos hospitais da cidade que atendem pacientes com Covid-19, inclusive um hospital universitário federal, o Getúlio Vargas.

Ainda assim, e mesmo estando na capital do Amazonas nos três dias que antecederam o colapso, o ministro não tomou as providências necessárias para garantir o fornecimento de oxigênio.

Em um evento político em Manaus na última segunda-feira (11), que reuniu a cúpula do Ministério da Saúde e as principais autoridades do Amazonas para o lançamento de um plano de enfrentamento à Covid-19 no estado, Pazuello admitiu em seu discurso que tinha conhecimento do que ocorria nos hospitais naquele momento: "Estamos vivendo crise de oxigênio? Sim".

Ele prosseguiu: "Quando eu cheguei na minha casa ontem, estava a minha cunhada, com o irmão sem oxigênio nem para passar o dia. 'Acho que chega amanhã.' 'O que você vai fazer?' 'Nada. Você e todo mundo vão esperar chegar o oxigênio e ser distribuído.' Não tem o que fazer. Então, vamos com calma."
Naquele momento em que ouvia um alerta dentro de casa, o ministro da Saúde já havia sido alertado por outras vias sobre a escassez crítica de oxigênio nos hospitais.

Integrantes do governo do Amazonas relataram à reportagem que o general foi avisado sobre o problema, uma vez que a atuação no estado, diante da força da segunda onda do coronavírus, vinha ocorrendo de forma conjunta.

Os mesmos alertas vinham sendo dados pela empresa fabricante do oxigênio e principal fornecedora dos principais hospitais, a White Martins. O Hospital Universitário Getúlio Vargas também é abastecido com o oxigênio dela.

A empresa fez alertas mais incisivos desde o dia 7 sobre a impossibilidade de o fornecimento acompanhar o aumento da demanda.

No mesmo evento público em Manaus, no dia 11, Pazuello ouviu do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC): "Aí a gente começa a viver outro drama. Na quinta-feira [7], a principal empresa fornecedora nos comunicou que não tinha mais capacidade de fornecer oxigênio na quantidade que a gente precisava. Ela nos disse: 'Parem de abrir leitos.'"

Aviões da Força Aérea Brasileira começaram a transportar cilindros de oxigênio a Manaus a partir do dia 8, sexta-feira, mas em quantidades bem inferiores à necessária.

O colapso se manifestou de forma mais notória seis dias depois. Em diferentes unidades de saúde, pacientes com Covid-19 morreram asfixiados diante do esgotamento do oxigênio.

O consumo diário de oxigênio chegou a 70 mil m3 por dia, o triplo da capacidade de produção da White Martins, segundo a empresa. Na primeira onda da pandemia em Manaus, entre abril e maio, o pico foi de 30 mil m3.

O caos que se instaurou, os relatos de mortes de pacientes sem ar e o medo de novas mortes em série levaram o governo de Jair Bolsonaro a agir para tentar garantir a chegada de oxigênio e a sobrevivência de pessoas nos hospitais.

As ações envolvem os ministérios da Saúde, da Defesa e da Educação, por meio da estatal que administra os hospitais universitários federais. Pacientes passaram a ser transferidos a hospitais em outros estados.

Para o MPF (Ministério Público Federal), o MP (Ministério Público) do Amazonas, a DPU (Defensoria Pública da União) e a Defensoria Pública do estado, o governo federal é responsável direto pelo que ocorre em Manaus. O governo do estado também tem responsabilidade, segundo esses órgãos.

As instituições apresentaram à Justiça Federal uma ação civil pública em que pedem que a União apresente imediatamente um plano de abastecimento da rede de saúde do Amazonas com oxigênio.

A ação também pede uma decisão liminar (provisória) que obrigue o governo federal a reativar usinas de produção de oxigênio no estado e a reconhecer a importância do isolamento social.

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Variedades

Santos recebe exposição 'Mostra Museu'

Evento traz 200 obras assinadas por artistas de 40 países

São Vicente

São Vicente utilizará plataforma de inteligência no combate à criminalidade

Sistema Detecta integra dados de pessoas com histórico de infrações em outras cidades

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter