São Vicente

Manifestantes ocupam Câmara de São Vicente em protesto

População questiona projeto de lei que autoriza mais um assessor por vereador com salário de R$ 9 mil

Vanessa Pimentel

Publicado em 17/03/2017 às 09:30

Compartilhe:

Sessão ficou lotada de manifestantes que pedem a revogação da lei e mais respeito ao orçamento da cidade em crise / Rodrigo Montaldi/DL

Manifestantes ocuparam a Câmara Municipal de São Vicente durante a sessão realizada ontem para protestar contra a aprovação do Projeto de Lei Complementar 10/17 que autoriza a criação de novos cargos de assessoria aos vereadores. A lei permite que, além dos dois assessores que cada um dos 15 vereadores têm direito, os parlamentares nomeiem mais um. O subsídio para a nova função de Assistente de Gabinete é de R$ 9.027,69 e o requisito é ter Ensino Médio completo. A medida acarretará aumento mensal de R$ 135.415,35 na folha de pagamento da Casa.

Questionado, o presidente da Câmara Wilson Cardoso (PSB) explicou que a função foi criada porque o orçamento da Casa permite e que isso não onera em nada a Prefeitura. “Quando nós criamos essa ­terceira ­assessoria, fizemos um estudo com os valores do duodécimo e está dentro do que pode ser gasto”, disse. 

Em relação ao salário oferecido para um cargo que exige somente Ensino Médio, Wilson afirmou que a decisão da graduação foi debatida e decidida entre todos os vereadores e que cabe a cada parlamentar trazer uma pessoa qualificada para assumir a vaga. “Os meus assessores, todos, têm Ensino Superior porque eu considero a especialização, principalmente em comunicação, muito importante. A população tem que entender que o que nós fizemos é para melhorar a estrutura do parlamentar. Quanto mais ele tiver independência, mais ele poderá exercer a função dele, que é fiscalizar o Executivo”, frisou. 

Sobre a possibilidade de anulação do projeto, como pedem os manifestantes, Wilson disse que não será possível visto que o prefeito Pedro Gouvêa (PMDB) já sancionou a lei. “É legal, é legítimo, não tem porque anular. Vale lembrar que a Câmara de São Vicente é a mais enxuta da região”, explicou. 

Sobre os protestos, o parlamentar acredita que “os movimentos têm nome, sobrenome e partido. Não é a população, é um movimento partidário”, citou.

Manifestação

Quando a sessão começou, a maioria dos manifestantes presentes era de professores e pessoas comuns. Com cartazes, apitos e voz, os servidores do município pediam mais respeito dos ­parlamentares. 

Gisele Campos de Abreu, professora de uma escola municipal na Área Continental da cidade, disse que os professores estão com as férias atrasadas e sem proposta de dissídio. “O certo, por lei, é pagar até dois dias antes de a gente sair de férias, só que nós saímos e não recebemos. Estamos em época de dissídio e não foi apresentada nenhuma proposta, pelo contrário, eles dizem quem não tem como dar reajuste ao servidor. Como não tem, se eles criam uma lei que permite mais cargos a nove mil reais cada um? E o professor? Nós estamos sendo maltratados”, explica. 

Além disso, Gisele informou que as escolas estão sem material suficiente para atender os alunos e sem estrutura. 

A enfermeira Telma Neves se juntou ao coro que pedia mais transparência do Legislativo. “Isso é um absurdo. A cidade declarou crise ­financeira há pouco mais de um mês, mas que crise é essa que tem orçamento para pagar os salários que paga aqui dentro?”, ­questionou. 

Representantes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São Vicente (Sindserv) também se juntaram aos manifestantes e entregaram aos vereadores uma carta contendo considerações sobre a aprovação do Projeto de Lei 10/17.

No documento, eles citam respeitar a autonomia orçamentária da Câmara e a legalidade do ato, mas alertam sobre a criação de despesas durante um período de ‘calamidade financeira’ detalhada pelos próprios vereadores no início do novo mandato. “É um aparente contrassenso e tem sido interpretada por uma boa parcela da categoria que ­representamos como uma sinalização de descuido para com o serviço público”, diz um trecho da carta. 

Os vereadores tiveram dificuldades para continuar a sessão. Com os cantos que ecoavam como “não vai ter cargo” e “mais professor, menos assessor”, foi difícil entender o que era falado no plenário. A sessão foi encerrada sob vaias, por volta das 19h20. 

O nome do prefeito Pedro Gouvêa também estava presente nos cartazes. Os munícipes questionavam o fato de ele ter conseguido aprovar no dia 10 de janeiro, na Câmara, o Projeto de Lei Complementar (PLC) que colocou a situação financeira do município em “estado de calamidade pública” e agora sancionar uma lei que amplia cargos.

Prefeitura

A Reportagem questionou a Administração sobre a posição do prefeito. Em nota, a Prefeitura diz que preserva “a autonomia do Legislativo, que é o princípio da boa democracia. A ­decisão da Câmara é soberana, ainda mais em matéria de sua ­exclusiva competência, como é o caso do gerenciamento de pessoal”, informa­.

Em outro trecho, justifica que a Câmara tem orçamento próprio com repasse de duodécimo fixo mensal. “Assim, ela tem total autonomia para decidir, por lei, como usar os seus recursos. A sanção é um ato de formalidade”, finaliza o documento.

Partido Rede acionará a Justiça

Kayo Amado, que foi candidato a prefeito de São Vicente pela Rede, estava presente na sessão de ontem e se disse surpreso com a decisão da Casa. 

“Em dois meses, a cidade já pode gastar mais de quinhentos mil reais por mês em folha somente com assessores? E os professores, e os investimentos no que era prioridade? Nós não vamos aceitar isso”, afirmou. 

Kayo explicou que o partido irá acionar o Ministério Público nos próximos dias. “Estamos estudando as estratégias em todos os meios jurídicos para revogar essa lei que não beneficia o bem público. Eles estão legislando em causa própria”, declarou.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Diário Mais

No dia dos avós, veja qual signo mima mais os netos

Confira como são os avós de cada signo do zodíaco

PARIS 2024

Confira a agenda do vôlei brasileiro nos Jogos Olímpicos de Paris

O time brasil está representado pelas duas categorias

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter