A UPA da Zona Leste levou meses para ser entregue e ainda não possuía aparelho de oxigênio para atender doenças respiratórias / Nair Bueno/Diário do Litoral
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Valdemir Salazar, de 55 anos, diagnosticado com Covid-19, passou por uma situação absurda esta semana e que pode acontecer com dezenas de outros santistas em plena pandemia: por falta de oxigênio, ele não recebeu assistência emergencial na Unidade de Pronto Atendimento da Zona Leste, em Santos. Gilmara Salazar, esposa de Valdemir, relatou o drama da família à Reportagem do Diário do Litoral.
Segundo relata, Valdemir foi diagnosticado com Covid na madrugada do dia 26 de novembro. Ele estava com muita tosse, febre e dor de cabeça. "Às 8 horas, levamos ele à UPA Central, ao lado da Sociedade Beneficência Portuguesa e, lá, foi atendido com oxigênio e medicamentos", explica Gilmara.
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Conforme revela, Valdemir teve que ir à mesma UPA diversas outras vezes e, vendo que a situação não melhorava, a família resolveu comprar remédios para tentar minimizar seu sofrimento. "Gastamos cerca de mil reais com remédios e os sintomas não davam trégua. Foi quando resolvemos levá-lo novamente à UPA, só que deste vez na nova, da Zona Leste, na Avenida Afonso Pena, no bairro da Aparecida", informa Gilmara.
A esposa relata que Valdemir chegou a ser atendido duas vezes no local sendo que, na última, segunda-feira (7), depois de mais de uma hora e meia aguardando, recebeu a informação que era necessário receber oxigênio.
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"Mas o médico me disse que a UPA não possuía cilindro e nem adaptações para os equipamentos, portanto, não teria como assistir meu marido. Ele alegou que, para dar oxigênio, teria que interná-lo em um hospital. Não tivemos opção senão adquirir o equipamento. Agora, o Valdemir está sendo tratado em casa", conta Gilmara.
Ainda à Reportagem, a esposa não esconde a indignação. "Como pode um equipamento de saúde novo não ter cilindros e o aparato de oxigênio em meio a uma pandemia? Meu marido está se recuperando, mas a situação poderia ser outra", finaliza.
SINDICATO.
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O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos (SINDSERV) vem denunciando o projeto de terceirização da saúde santista desde 2013, quando o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), no primeiro ano do primeiro mandato, descumpriu a promessa feita aos servidores, durante campanha, de que não modificaria o modelo de gestão de serviços já existentes.
Meses depois de assumir o compromisso, o prefeito encaminhou para a Câmara projeto de lei visando a contratação de organizações sociais (OSs).
Mesmo com protestos da população e dos servidores, que em nenhum momento foram consultados sobre a mudança, a terceirização foi implantada. Primeiro em 2016, na UPA Central, que substituiu o antigo PS Central e foi entregue para a Fundação do ABC.
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Depois, no mesmo ano, o Hospital dos Estivadores, gerido pelo Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Em 2019, o PS da Zona Noroeste foi fechado, dando lugar à UPA, entregue para a OS SPDM. Este ano, a UPA da Zona Leste foi inaugurada, onde funcionava o Pronto Socorro do Macuco.
A Pró-Saúde, gestora da UPA da Zona Leste, é uma das entidades que mais recebem recursos públicos e também a que mais coleciona processos judiciais, reprovação de contas, investigações e denúncias envolvendo irregularidades na utilização dos recursos e mau atendimento.
O site Ataque aos Cofres Públicos (www.ataqueaoscofrespublicos.com) registra em matérias e artigos diários os prejuízos que as OSs têm causado em diversas cidades do Brasil. Nestes seis anos, a Pró-Saúde foi tema de 66 matérias no site.
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"As OSs não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. No setor da saúde, essas 'entidades', quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal, gerando precarização da força de trabalho com redução dos salários e de direitos e diminuição da qualidade dos serviços. O saldo para a sociedade é o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas de quem dele depende", finaliza.
PREFEITURA.
A Pro-Saúde afirma que a informação sobre falta de oxigênio não procede. Diz que a UPA Zona Leste possui oxigenioterapia, que está disponível para tratamento dos usuários com indicação clínica. Assim, pacientes atendidos na estrutura provisória (tenda) e que precisam desde recurso são assistidos na UPA, cumprindo rigorosamente o protocolo municipal de atendimento a doentes com Covid-19.
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Conforme a OS, "o paciente citado foi devidamente acolhido e recebeu a assistência necessária, conforme sua classificação de risco. Vale ressaltar que, neste caso, não houve indicação médica para oxigenioterapia. Com o quadro estável e sinais vitais bons, a conduta adotada foi de alta com receita e indicação de isolamento domiciliar, seguida com a orientação de retorno caso identificada qualquer piora no quadro clínico".