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Trem de passageiros entre Santos e São Paulo não 'sai do papel'

Várias visitas e viagens técnicas foram realizadas desde 2013. João Dória chegou a anunciar estudos

Carlos Ratton

Publicado em 17/01/2023 às 07:00

Atualizado em 17/01/2023 às 11:04

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Último trem de passageiros trafegou na região em 1997, segundo o Ministério Público Federal (MPF) / Wanderley Duck/MPF

No final do ano passado, o então governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o edital do projeto do Trem Intercidades, que vai ligar as cidades de São Paulo e Campinas, será publicado no primeiro semestre deste ano. No entanto, praticamente há uma década, "está no papel" a anunciada reativação de uma linha de passageiros entre Santos (estação do Valongo) e São Paulo, pelo próprio Governo do Estado.

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"O Governo do Estado gastou uma grana preta com projetos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para a implantação de um novo trem regional de passageiros. Sairia da Estação São Carlos e chegaria no Valongo. Engavetou o projeto e agora anuncia o trem de passageiros entre a capital e Campinas. Eu estava na Prefeitura quando técnicos da CPTM vieram discutir o traçado. Era véspera de eleição 2014", lembra o arquiteto urbanista José Marques Carriço, que alega ter até cópias dos estudos.

Vale lembrar que até testes foram realizados, deixando a Baixada Santista com expectativas. Em um, o trem saiu da estação da Luz, no Centro de São Paulo, e desceu a serra em direção ao Terminal de Passageiros de Navio de Cruzeiros de Santos. Em outro, uma composição com dois vagões de passageiros partiu de Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, e desembarcou no bairro Saboó, em Santos.

O então deputado estadual Kenny Mendes (PP), era um entusiasta da proposta, pois o percurso entre a Estação da Luz e Santos, sem as paradas, duraria aproximadamente 1h30. "A expectativa é ter um trem turístico operando já na próxima temporada. As composições de passageiros ainda devem depender da interligação com Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), cuja nova fase contemplará uma estação no Valongo", dizia em meados de 2016.

Kenny saiu da política e agora se dedica apenas a suas aulas de inglês. A Estação Valongo do VLT ainda não foi entregue. Na época, Kenny chegou a dizer que outras estações estavam sendo estudadas para serem colocadas no trajeto. O preço sugerido da passagem estaria entre R$ 15 e R$ 20,00.

Em 2017, o então secretário de Turismo de Santos, Rafael Leal (atualmente secretário de Cultura) apresentou a proposta de reativação da linha turística ao então secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni. De acordo com a pasta, eram feitas gestões junto à Secretaria de Estado dos Transportes há mais de dez anos.

Em 2018, no início de sua gestão, o então governador de São Paulo, João Doria, fez novo anunciou sobre estudos para reativação do trem de passageiros. Foram feitas mais duas viagens experimentais para testar o trecho a bordo de vagões turísticos. O trajeto durou duas horas, ou seja, uma hora a mais do que de carro. Tudo ficou no papel.

Vale lembrar que a Serra do Mar tem belas paisagens e parte das pessoas sai diariamente de Santos para trabalhar na Capital. No entanto, o Estado tem apenas 22% dos 1.375 km de linhas de trem para o transporte de pessoas.

A linha operada pela concessionária de carga MRS funciona desde 1970 para subir e descer a Serra do Mar, porém trata-se de uma cremalheira, um tipo de trilho que não é o mais eficiente para transportar viajantes.

No anúncio do projeto do Trem Intercidades, que vai ligar as cidades de São Paulo e Campinas, Tarcísio disse: "queremos resolver problemas que já são antigos. O trem Intercidades tem que virar uma realidade, precisamos de uma experiência de trem de passageiros de média velocidade. A partir do momento que fizermos o trecho Campinas-São Paulo, vamos ganhar musculatura para fazer outros trechos", comentou, alertando investimentos por parte da empresa MRS para a segregação de cargas entre a estação Barra Funda, na capital, e Jundiaí.

SEM NOVIDADES.

Mesmo sendo um entusiasta do retorno do transporte ferroviário de passageiros, o presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias - Ferrofrente, o engenheiro José Manoel Ferreira Gonçalves, afirma que o anúncio de Tarcísio, além de não ser novidade, é uma proposta 'acanhada' em termos de desenvolvimento do transporte.

"Essa história (ligação São Paulo-Campinas) se repete ano a ano. É como o túnel entre Santos e Guarujá. Um dia vai sair, mas deveria sair junto com outras propostas que incluiriam Santos, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Araçatuba, enfim. O que a gente não ouve falar é planejamento e uma alternativa que agregue transporte de passageiros e cargas e outras modalidades que tragam desenvolvimento sustentável para as regiões", dispara.

Conforme já publicado no Diário, José Manoel e a diretoria da Ferrofrente defende a reutilização da malha ferroviária em todo o País a partir da "revogação de muita coisa errada que foi feita até agora pelo atual Governo Federal. Nosso objetivo é o de defender o interesse público na utilização das ferrovias no Brasil", afirma.

"Hoje, no país, privilegia-se a exportação de commodities e o rentismo, em detrimento de um modelo de desenvolvimento baseado na indústria, no desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e também da Agroindústria. Num novo modelo de desenvolvimento, mais inclusivo, as ferrovias teriam um papel extremamente importante para interligar e transportar produtos e passageiros por todos os rincões deste país", completa Gonçalves.

O engenheiro afirma que, atualmente, as ferrovias estão a serviço de grandes grupos monopolistas e com uma única função: levar soja, açúcar, minério e outros grandes volumes diretamente para os portos exportadores. "É preciso se pensar em centros de concentração e de distribuição de cargas fora dos portos também, para atingir centros de consumo em todo o País. O Brasil precisa ser visto de forma panorâmica e projetado 30 anos à frente e não cada estado pensando e agindo de forma tacanha e pequena", finaliza.

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