Santos

Reunião na Igreja Universal causa indignação na Seduc de Santos

Convocação para encontro em templo religioso levanta debate sobre laicidade do Estado e desconforto entre educadoras da rede municipal

Carlos Ratton

Publicado em 03/07/2025 às 06:40

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A reunião foi feita no auditório da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), na Avenida Ana Costa / Nair Bueno/DL

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Uma reunião realizada no último dia 26, convocada pela Secretaria Municipal de Educação (Seduc) de Santos, com diretoras e assistentes de direção das unidades municipais de ensino, gerou incômodo e indignação entre as educadoras, segundo o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos.

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Isso porque ela foi feita no auditório da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), na Avenida Ana Costa, 329, Gonzaga, e não em um dos diversos espaços dentro de próprios públicos. A secretária de Educação e vice-prefeita Audrey Kleys diz que o evento foi da Polícia Militar do Estado.       

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A denúncia chegou dando conta de que integrantes das equipes gestoras presentes no encontro manifestaram desconforto e afirmaram ter se sentido feridas em sua liberdade religiosa ou crença. De acordo com algumas servidoras da educação que procuraram o Sindicato, o evento, que visava discutir segurança nas escolas, foi iniciado por uma espécie de oração, conduzida por um pastor.

As educadoras também manifestaram estranheza pelo fato de que na convocação para a reunião, publicada em 30 de maio, no Diário Oficial, o local do encontro constava como “a ser informado por e-mail”, posteriormente. Ou seja, não avisava que seria dentro de uma igreja.  

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“Penso que não publicaram o local da reunião no DO justamente porque sabiam que poderia haver questionamentos. A Seduc tem várias opções de auditórios que podem receber esse tipo de atividade. Há o da Receita Federal, o do Parque Tecnológico, da própria Seduc, entre outros”, ressalta uma educadora, preservada pelo Sindicato. 

Outra educadora explica os motivos de sentir profunda indignação, enquanto servidora pública concursada, ao ser convocada para uma reunião de trabalho, em horário de expediente, realizada em um templo religioso.

“Ressalto que respeito profundamente todas as crenças e religiões, mas entendo que, neste caso, o mesmo respeito não me foi conferido. O Estado é laico, e espaços religiosos, ainda que adaptados para outras finalidades, não são ambientes apropriados para a realização de atividades institucionais obrigatórias, especialmente quando envolvem práticas de cunho religioso. Tal escolha fere o princípio da neutralidade e compromete o direito de liberdade de consciência dos servidores públicos". 

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As educadoras entendem que, caso tal situação venha a ocorrer novamente, seria melhor uma convocação por meio de convite e não de forma impositiva, assegurando direito de escolha e garantia do respeito à diversidade de posicionamentos individuais, inclusive de ordem religiosa ou filosófica. A reunião, que contou com representantes da Polícia Militar e da Defesa Civil, além da secretária de Educação, Audrey Kleys. 

O Sindicato salienta que a Igreja Universal tem ligação direta com o partido Republicanos. O próprio presidente da legenda, o deputado federal Marcos Pereira, é bispo desta denominação religiosa. 

“Na Câmara de Santos, temos o bispo Maurício Campos. Ele é ex-presidente da IURD e atualmente exerce seu primeiro mandato parlamentar como aliado de primeira hora do Governo. Ele divide a bancada do Republicanos com Paulo Miyasiro”, lembra a Direção do Sindicato. 

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No poder Executivo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que comanda a Polícia Militar, também é filiado à legenda. Em Santos, o prefeito Rogério Santos é do mesmo partido. Tarcísio já mostrou que não tem o menor constrangimento em misturar religião com política. Rogério Santos ainda não fez esse tipo de mistura.  

O Sindicato alerta que a IURD foi a primeira igreja pentecostal a lançar seus próprios candidatos oficiais – inicialmente em partidos diversos, até o surgimento do Republicanos. 

Por fim, lembra que a expansão da Igreja Universal não se limitou aos serviços religiosos e à atuação na política. Também foi construído um poderoso conglomerado de empresas que atua em diversas frentes – de canal de TV a fábrica de bancos para templos.

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Prefeitura 

A Seduc confirma oficialmente que o evento foi organizado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, por meio 6° Batalhão de Polícia Militar do Interior, voltado para diretores de unidades estaduais, sendo o convite estendido para os diretores de escolas municipais e supervisores de ensino. A secretaria aceitou o convite em razão da importância do tema das palestras: ‘Plano de Contingência Escolar’ e ‘Ataque em escolas, medidas de prevenção, proteção e mitigação’.

A Seduc explica que a iniciativa teve o objetivo de incentivar a atuação de forma integrada, cooperativa e colaborativa dos setores da educação е da segurança pública em ações de prevenção desses incidentes, na construção de planos de contingência e, sobretudo, que os canais de comunicação estejam sempre abertos para troca de informações e apoios.

Também que no ato do convite do Estado, o local não havia sido informado, pois dependia do número de pessoas que estariam presentes. Desta forma, no cronograma de eventos da Seduc foi publicado que o local ainda seria divulgado, o que foi feito por e-mail, em 9 de junho. Até o dia do ciclo de palestras, a secretaria não tinha recebido nenhuma reclamação. “Importante destacar que o local foi utilizado apenas como espaço para a realização das palestras de segurança pública”, finaliza nota.

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