Mural com 150 metros de comprimento homenageia as comunidades Vila Telma e Última Ponte / fotos: Carlos Nogueira e Francisco Arrais
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As comunidades Vila Telma e Última Ponte, no Rádio Clube, ficaram mais coloridas na última sexta-feira (10): um muro de 150 metros de comprimento, pertencente à Congregação das Missionárias da Caridade, foi ilustrado por dezenas de desenhos em grafite pelas mãos de um reeducando que atua no setor de Pintura e Conservação da Prefeitura Regional da Zona Noroeste.
Renato Sousa, 41 anos, levou quase 30 dias para concluir a obra no mural que fica entre as duas comunidades, na Rua Brigadeiro Faria Lima, próximo à via Professor Nelson Espíndola Lobato. Entre as ilustrações que deram fim ao antigo ponto de descarte irregular, há símbolos que remetem a Santos como o bonde, um navio e a escultura do Peixe, situada na entrada da Cidade, além do monumento “Eu amo a Zona Noroeste”.
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“A comunidade pediu melhorias neste local e nós atendemos trazendo o Renato. A arte inibe as pessoas de queimar objetos e de jogar lixo aqui, e não pichar por cima dos desenhos. Eles acabam respeitando e a comunidade tem elogiado bastante”, disse o assessor técnico da Prefeitura Regional responsável pela equipe de reeducandos, Aleksandro Gonçalves Santana.
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A fauna típica da região também está presente na obra, com a garça e caranguejo. Igualmente presente nas localidades, o futebol não poderia ficar de fora, e por isso foi lembrado pelos escudos dos times de várzea das comunidades e por uma homenagem ao Rei Pelé - também aludindo à vila vizinha, que leva o nome do craque.
Desenhos sentimentais e religiosos acabaram surgindo ao longo do trabalho, pelo imaginário do próprio Renato e a pedido dos moradores: o reeducando reproduziu a imagem de uma mãe segurando um bebê, que viu em um folheto de igreja, e criou a imagem de duas santas, uma por sugestão de uma moradora e outra solicitada pelas irmãs da própria Congregação das Missionárias da Caridade.
Até mesmo um dos moradores mais ilustres do bairro foi impresso na obra: Aparecido Fausto Marcelino (foto abaixo), famoso pelo negócio apelidado de “Pipoca da Xuxa”, após ter vendido a guloseima à Rainha dos Baixinhos. No ramo há 40 anos, ganhou um retrato junto de seu fiel escudeiro, o carrinho de pipoca.
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“Essa iniciativa é importante no sentido de dar vida ao local, de valorizar os elementos e as pessoas da comunidade e promover esse regresso do reeducando à sociedade. Nosso objetivo é a inclusão e que eles saiam daqui preparados para o campo de trabalho, o que já tem acontecido”, afirmou o técnico Aleksandro.
RESSOCIALIZAÇÃO
Enquanto o muro era grafitado, Renato Sousa ouviu muitos elogios dos moradores que passavam pelo local. As crianças que brincavam por perto também se interessavam pelas cores e técnicas utilizadas pelo artista e o rodeavam fazendo perguntas e querendo ajudar. Para o reeducando, essa foi uma das melhores partes do trabalho.
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“É muito gratificante você ver a sua arte exposta e a população gostando. As pessoas passam, te agradecem, te servem um café, te oferecem um sorriso. Isso é muito importante porque na cela a gente se vê privado e, do nada, está de novo no ‘mundão’, interagindo novamente com as pessoas”, afirmou Renato.
Prestes a ganhar liberdade, o artista que se dedicou sete horas por dia ao grande mural se vê no caminho da arte, aptidão que conheceu no presídio. “Eu aprendi a desenhar lá, porque fazia tatuagens nos meus colegas de cela, e também aprendi um pouco sobre fotografia, porque os ajudava a fazer fotos para mandar para os familiares”, explicou o reeducando.
Na Prefeitura, o artista iniciou pintando guias e sarjetas. Quando comentou sobre seu dom, passou a executar serviços mais criativos, como o projeto Portais das Comunidades, no qual grafitou 11 dos monumentos ‘Mureta’, localizados nas entradas das comunidades da Zona Noroeste.
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“Quando eu sair, terei várias possibilidades. Além dessa experiência com o grafite, também tenho curso de pintura residencial, então posso ir para essa área, assim como posso comprar uma maquininha e abrir um estúdio de tatuagem”, planeja Renato.
REEDUCANDOS
O projeto Reeducandos é um convênio da Prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Serviços Públicos (Seserp), com a Fundação de Amparo ao Preso (Funap). A iniciativa emprega 260 apenados do regime semiaberto do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), de São Vicente. O objetivo da ação, que faz parte do programa municipal 'Santos Mais Bonita', é reforçar os serviços de zeladoria da Cidade ao mesmo tempo em que oferece experiência de trabalho e qualificação para a busca de novos caminhos quando da conquista da liberdade.
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