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Cotidiano

Projeto capacitará jovens nas comunidades para diminuir lixo lançado no mar em Santos

Os participantes terão aulas em quatro dias da semana, onde aprenderão desde o cultivo de plantas à reutilização de materiais, além de se tornarem multiplicadores de conhecimento socioambiental para toda a comunidade

Da Reportagem

Publicado em 19/04/2022 às 10:00

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Projeto capacitará jovens nas comunidades para diminuir lixo lançado no mar em Santos / Foto: Prefeitura de Santos

O Programa Beco Limpo, que tem o objetivo de reduzir a quantidade de lixo no mar em Santos, foi lançado oficialmente na tarde desta segunda-feira (18), na sede do Instituto Arte no Dique, no Rádio Clube. Os primeiros 25 alunos do projeto, que receberão bolsa-auxílio pela atuação nas comunidades, foram recepcionados por autoridades municipais.

Os participantes terão aulas em quatro dias da semana, onde aprenderão desde o cultivo de plantas à reutilização de materiais, além de se tornarem multiplicadores de conhecimento socioambiental para toda a comunidade. O objetivo é que os jovens transformem os hábitos dos moradores dos bairros Vila Gilda, Vila dos Criadores e São Manoel, região de palafitas, a fim de diminuir o descarte de resíduos sólidos no mar.

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"Esse projeto surgiu da análise e diagnóstico do lixo que aparecia nas praias, onde constatamos que boa parte tinha origem nas palafitas. Então nós buscamos uma alternativa de trabalhar na fonte, ou seja, desenvolver essa consciência coletiva, esse sentimento ambiental na população para atuarem na preservação do mangue. Dessa maneira, também evitamos a poluição através do canal do estuário até a praia", explicou o secretário municipal de Meio Ambiente (Semam), Marcos Libório.

Durante a cerimônia, o prefeito Rogério Santos destacou que a atuação dos alunos será de extrema importância não só para as comunidades, mas para o planeta, visto que o problema do lixo do mar é uma preocupação mundial. "Ninguém faz nada sozinho e vocês, juntos, se tornarão verdadeiras lideranças que terão a capacidade de transformar esse mundo. A transformação se faz pela cultura e, hoje, o Arte no Dique é a casa dessa mudança, de onde vocês disseminarão a cultura do Meio Ambiente".

O presidente do instituto, José Virgílio Leal de Figueiredo, se emocionou durante o discurso, enquanto falava sobre a concretização de um sonho. "Estamos muito felizes. A expectativa é muito grande, pois é mais um salto que marca os 20 anos do Arte no Dique. É um verdadeiro presente que estamos recebendo". Ele agradeceu à Prefeitura pela parceria e ao Ministério Público, que investiu 1,8 milhões de reais, provenientes de multas ambientais.

BECO LIMPO
O Programa Beco Limpo tem o objetivo de contribuir com a educação ambiental, autogestão de resíduos sólidos, engajamento social e geração de renda na região das palafitas de Santos. Por meio do projeto, jovens de 16 a 22 anos disseminarão conhecimento sobre preservação ambiental em meio aos moradores, como agentes comunitários de meio ambiente, recebendo bolsa-auxílio de R$ 400,00.

"Nosso objetivo é envolver boa parte da comunidade por meio desses multiplicadores no conceito de conservação ambiental. Disseminaremos boas práticas, informações sobre descarte correto do lixo, hábitos saudáveis em casa, preservação do meio ambiente, entre outros conceitos. Essa parceria é apenas uma das ações dentro da estratégia de redução de resíduos sólidos nas praias de Santos", explicou o secretário da pasta de Meio Ambiente.

As aulas serão ministradas quatro vezes na semana, somando 16 horas semanais. Às segundas, das 13h às 17h, aprenderão sobre horta e compostagem no Jardim Botânico Chico Mendes (Bom Retiro); às terças e quintas, em turmas nos períodos matutinos e vespertinos (9h às 12h e 13h às 16h), terão aulas de marcenaria com o objetivo de destinar corretamente a madeira descartada; às sextas, das 13h às 17h, será o momento de aprender sobre cocriação, como inovar, construir uma ideia e solucionar problemas melhorando o meio onde vivem. Na próxima fase do curso, os alunos serão treinados para serem agentes comunitários, praticando a escuta ativa e o olhar nas ruas da região.

Cada turma terá 25 alunos, que ficarão no projeto durante um ciclo, ou seja, quatro meses. Após este período, os alunos se formam e outros 25 jovens entram no projeto. Para participar, além da idade, é preciso morar na região das palafitas, ter disponibilidade de horário e compromisso com o programa. As inscrições para o próximo ciclo devem iniciar em julho, um mês antes da formação da primeira turma.

A duração inicial do programa é de três anos, período em que o impacto do projeto sobre as comunidades será estudado. "A ideia é analisar no decorrer do trabalho e observar se o formato que estamos seguindo é o que atinge o nosso objetivo ou se precisa de alguma mudança. A ideia é continuar, sim, educando a população local. Não existe uma solução única, mas toda solução precisa envolver a população, o que é uma característica desse projeto", afirmou o secretário da Semam.

EXPECTATIVA
Gabriela Bonifácio, de 16 anos, faz parte do Arte do Dique desde que tinha 4 anos de idade. Quando soube da oportunidade de melhorar a comunidade onde mora, por meio do local que considera sua "segunda casa", se inscreveu na hora. "Pensei que seria uma coisa boa para nós que moramos aqui, porque vamos cuidar da parte do lixo, que muitas vezes fica na rua, e deixaremos tudo mais bonito. Estou bem feliz porque estou aprendendo coisas que geralmente a gente não aprende na escola".

Já Davi Ruan dos Anjos Severino, 18 anos, em sua intensa curiosidade de aprender tudo aquilo que não sabe, viu na capacitação a oportunidade de abrir novos horizontes. "Plantação, reciclagem e cocriação, que eu nem sabia o que era, chamaram minha atenção por serem assuntos interessantes. São aprendizagens que vamos levar para o resto da vida e acredito que, juntos, temos a capacidade de fazer o projeto se desenvolver, de aprender e ensinar, conscientizar nossos vizinhos e mudar os costumes. Muitas vezes, as pessoas têm medo do que é novo e essa capacitação é necessária para que a gente mude o pensamento da comunidade e ajude no seu desenvolvimento".

Lívia Balula de Oliveira e Laryssa Evangelista, ambas de 17 anos, só conheciam o Arte do Dique de vista, mas agora estão integradas ao local com o projeto Beco Limpo. "Sempre tive muito contato com isso, de ir à praia e pegar o lixo. Então, participar desse projeto e ajudar a comunidade, ajudar a diminuir o lixo no mar, foi uma oportunidade muito boa", disse Lívia. "Nós vamos ajudar não só a nossa região, mas a Cidade como um todo. São coisas necessárias, que precisamos fazer juntos, porque ninguém mais vai", completou Laryssa.

Já Alex Ryan Costa de Souza, 18 anos, está animado com o aprendizado e já sonha com um novo mundo. "Aqui tem muito lixo e nós gostaríamos de limpar, porque viver nesse mundo tão sujo não dá. Acho que vai dar tudo certo. Com fé em Deus nós vamos conseguir mudar tudo por aqui e vai ser muito bom podermos acordar, abrir a janela, ver o sol, o mar, a maré limpa".

INFRAESTRUTURA
A maior parte do curso acontecerá na sede do Instituto Arte no Dique (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1.349, Rádio Clube), onde será implantada uma oficina de marcenaria para reaproveitamento de madeira dispensada e hortas urbanas para a compostagem de resíduos orgânicos. As hortas serão construídas em caixas de madeira pela própria oficina, podendo ser ampliadas e remanejadas de forma fácil e rápida para outras áreas. 

A implantação da oficina será na quadra de futsal do Arte no Dique. Para que os alunos do instituto não percam o espaço, uma nova quadra será montada na parte superior da sala de marcenaria. As obras têm previsão de início ainda no mês de abril, mas enquanto o espaço não fica pronto, os alunos participam das aulas práticas na sede da EcoFábrica Criativa, no Mercado Municipal (Praça Iguatemi Martins s/nº, Vila Nova). No local, os jovens também aprenderão a produzir objetos artísticos.

"A oficina é uma parte extremamente importante do projeto, porque vai capacitar jovens para o mercado de trabalho. Hoje em dia, um marceneiro tem uma área de trabalho ampla e o que as pessoas das palafitas, que são o foco do Arte no Dique, mais desejam é capacitação. É uma oportunidade de profissionalização, de futuro", afirmou o presidente do instituto.

INÍCIO
O Beco Limpo teve início em 2018, por meio de parceria com o Ministério Público Federal (MPF). No ano seguinte, o programa foi apresentado e em 2020 ganhou um projeto-piloto, desenvolvido entre setembro e dezembro, com a instalação de cabideiros de lixo em diversos becos da região das palafitas, para analisar a adesão das pessoas à iniciativa. Em janeiro do ano passado, a iniciativa foi aprovada pelo MPF, que destinou R$ 1,8 milhão para investimento no projeto.

Em dezembro do mesmo ano, o termo de colaboração para a realização do Beco Limpo, com prazo de 40 meses, foi assinado pelo prefeito Rogério Santos, pelo secretário da Semam, que na ocasião era Márcio Paulo, e pelo presidente do Instituto Arte no Dique. A entidade se tornou responsável por desenvolver o trabalho em conjunto com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a Agência Ambiental da Suécia e a International Solid Waste Association (ISWA), associação internacional, não governamental e sem fins lucrativos, que atua pelo interesse público de promover e desenvolver o setor de resíduos sólidos ao redor do mundo, da qual a Abrelpe é representante no Brasil.

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