O funcionário aponta ainda que a empresa não recebe fiscalização da CET como deveria; ele aponta outros iniciativas que seriam irregulares. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL
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Com o objetivo de burlar a fiscalização da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e impedir uma ação direta do Ministério Público (MP) contra a Prefeitura de Santos por não atentar para cláusulas contratuais sobre o transporte público de passageiros, a Viação Piracicabana não estaria informando e registrando quebra de ônibus como veículo fora de operação. A informação é apenas uma das supostas irregularidades obtidas pela Reportagem, por intermédio de um funcionário da própria empresa de ônibus, revoltado com o que vem ocorrendo em Santos.
Para garantir seu emprego e qualquer represália administrativa, ele pediu que sua identidade fosse preservada. "Somente após às 19 horas é que a comunicação é realizada. E isso tem dois objetivos: impedir a imediata reposição do veículo e esconder que a frota está defasada", afirma, alertando ainda que a empresa vem retirando vários veículos de circulação, aumentando a espera nos ônibus. "Tem linha em que o passageiro esperava 15 minutos e passou a esperar 30 minutos", garante.
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Ainda segundo o denunciante, a frota de cerca de 290 ônibus passou a contar com 180. Além disso, é obrigação velocidade máxima de 60 quilômetros por hora estaria dificultando o cumprimento do itinerário no tempo estipulado para completar o circuito. "No período de férias, a ordem é diminuir ainda mais o número de ônibus. Isso a população precisa saber".
O funcionário aponta ainda que a empresa não recebe fiscalização da CET como deveria e que submete motoristas a situações de estresse e dificuldades financeiras. Segundo informa, todas as multas de trânsito saem do bolso dos motoristas, independente de como foram aferidas. "Se o ônibus está parado e recebe uma batida na traseira, a culpa e a despesa é do motorista. Até no ponto final, a responsabilidade por qualquer avaria é do motorista. A maioria trabalha 12 horas e as paradas operacionais (que seriam o descanso para alimentação ou relaxamento) não constam como horas trabalhadas, ou seja, não são pagas", revela, mostrando uma planilha em que um motorista iniciou a jornada por volta das 12h30 e terminou à meia noite.
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O funcionário aponta outras iniciativas que seriam irregulares. Por exemplo, quando há uma reclamação, a empresa convoca o funcionário para se explicar fora do horário de expediente. O troco fica sempre por conta do motorista, que muitas vezes tem que parar o veículo em frente a um comércio para trocar o dinheiro. "Quando há um assalto, a empresa só assume o prejuízo de R$ 50,00. Acima disso é o motorista quem paga. As câmeras dos veículos são apenas para fiscalizar os motoristas e não assaltos. Elevadores, ares-condicionados não recebem manutenção e wi-fi é peça de ficção", dispara, alertando ainda que os elevadores, por ordem da empresa, não podem ser usados por pessoas não deficientes, mesmo que essas pessoas não tenham condições de subir no veículo.
NA CÂMARA
A Reportagem apurou que as denúncias do funcionário já chegaram na Câmara que, por sua vez, cobrou respostas da CET e da Prefeitura, mas sempre insatisfatórias. "Venho recebendo denúncias e reclamações de munícipes e funcionários da Piracicabana há meses. Temos feito requerimentos cobrando explicações sobre as condições de trabalho dos motoristas, dos ônibus e do uso dos elevadores", revela o vereador Lincoln Reis (PR).
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Enviando cópias dos requerimentos à Reportagem, Reis faz outra revelação: "Estou cobrando a divulgação dos resultados das pesquisas de satisfação do transporte, pois estes dados são ferramentas importantes para a população mensurar a qualidade do serviço. Ainda o cumprimento da lei, de autoria do então vereador Kenny Mendes, que obriga a criação e manutenção, por parte da Piracicabana, de um site com informações sobre custos e despesas do transporte público", conclui o vereador, revelando que fez fiscalização e ratificou a falta de manutenção e os abusos contra motoristas.
PIRACICABANA E CET
Procurada, a Viação Piracicabana resumiu que todas as cláusulas contratuais são seguidas rigorosamente com foco na excelência do serviço prestado. A CET-Santos informa que realiza monitoramento da operação do serviço não somente nas ruas, mas também online. Por meio do GPS dos veículos, qualquer ocorrência é visualizada e a permissionária é cobrada para que as providências sejam tomadas. E caso não sejam cumpridas, ela é penalizada. O mesmo ocorre quando há falhas no ar condicionado, elevadores, wi-fi ou qualquer outro problema.
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Informa que a frota total é de 293 carros e a operacional de 273. Portando, a redução apontada não é verdadeira pois não haveria condição de atender à população, uma vez que 130 mil pessoas são atendidas diariamente. Nas férias a frota é redimensionada.
Ainda segundo a CET, os veículos têm a velocidade parametrizada para não ultrapassar 60 quilômetros por hora, limite máximo permitido nas vias santistas para qualquer veículo, de forma a garantir a segurança e integridade daqueles que são transportados.