Latoya repete o gesto feito por sua agressora no momento em que ela (agressora) se referia a cor de sua pele / Nair Bueno/ DL
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Passando por sessões de terapia, a jovem Latoya Cristina Ferraz, de 29 anos, que teria sido agredida após sofrer injúria racial, no dia 10 de maio último, dentro da Galeria Casa Velha, no bairro do Gonzaga, em Santos, revela à Reportagem do Diário, mais de um mês após o fatídico episódio, que preconceito racial é comum em Santos e que vai levar até as últimas consequências judiciais para que o dano seja reparado.
Segundo já noticiado em vários órgãos de imprensa e nas redes sociais, a analista teria levado uma 'voadora' do proprietário de um bar após discutir com a mãe dele, que teria agido de forma preconceituosa com ela.
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O advogado que representa o estabelecimento já se pronunciou negando que houve injúria racial e afirma que a idosa de 67 anos também teria sido agredida.
"Sempre acontece preconceito comigo e com amigos meus. Santos é uma cidade muito racista. A gente chega ter medo de frequentar lugares novos por conta disso. Temos que começar a boicotar lugares que pretos não são bem-vindos e alertar outros pretos e pretas. Diversas vezes já deixaram de me atender em restaurantes enquanto atendem pessoas brancas que chegaram depois. A gente sofre isso diariamente", desabafa Latoya.
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Conforme explica, muitas vezes a discriminação ocorre de forma sutil, velada. Começando em reparar o corte de cabelo ou segurando a bolsa, à noite, quando uma pessoa preta se aproxima.
"Muitas vezes, eu estou com um celular melhor, mas a pessoa esconde o dela. Santos é sempre assim. É só você andar nas ruas e perceber".
A analista tem certeza que a agressão física sofrida, infelizmente, não será a última. No entanto, alerta que é preciso que a sociedade comece a coibir atitudes como a sofrida.
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A jovem revela que ainda está tentando minimizar a dor psicológica, mesmo sabendo que a batalha judicial será grande.
Segundo afirma, o episódio ainda está em fase de inquérito e, após isso, será dada entrada na ação judicial.
"Eu sempre sofri racismo, inclusive na escola, em trabalhos anteriores e na rua. E foi aumentando até chegar a agressão física. Sinto que se eu permitir, um dia podem me matar. Temos que brecar isso. Tudo aconteceu porque um vendedor ambulante me pediu um palito de dente", conta.
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Conforme já bastante noticiado, a proprietária do estabelecimento teria se irritado com a decisão de conceder o item ao ambulante e, a partir disso, iniciou-se uma discussão.
"Nós dissemos que a abordagem era desnecessária e, no auge da discussão, a dona do bar, ao se referir a mim para o filho, esfregou os dedos no próprio braço se referindo a minha cor de pele", afirma
Latoya.
ADVOGADA.
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A advogada de Latoya, Cláudia Josiane de Jesus Ribeiro afirma que após acionar a polícia, somente Latoya foi conduzida à delegacia pelos policiais, depois de passar na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
"Os agressores não foram. Só após três horas eles apareceram, já com advogado. Não há dúvidas sobre a lesão sofrida. As versões dadas pelos agressores mudam sempre. Agora, estão tentando desqualificar a Latoya e suas amigas, inclusive alegando que ela foi violenta. Mas as imagens das câmeras dizem tudo".
Cláudia sabe que a luta será grande. "Nosso desafio é desarticular essa campanha difamatória de pretas raivosas, bêbadas, que se aproveitam do racismo, que não há dúvidas que existe no País, para ganhar notoriedade. Racismo é uma coisa muito violenta, dolorida, em que a pessoa está sendo proibida de acessos, manifestação, de ter direitos. O negro hoje sai de casa com medo de ser assaltado e de ser confundido com assaltante".
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NEGAM.
Conforme já publicado, o advogado dos supostos agressores afirma que os proprietários do comércio não compactuam com nenhuma forma de discriminação e estão à disposição das autoridades. O caso foi registrado como injúria racial e vias de fato na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos.
Um outro estabelecimento publicou uma nota nas redes sociais se solidarizando com Latoya "que, infelizmente, foi vítima de racismo covarde dentro do espaço coletivo em que estamos localizados, por pessoas que não representam o espírito plural que sempre teve a Galeria Casa Velha. Aqui é, sempre foi e sempre será um lugar de extremo acolhimento e luta por um mundo melhor".
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