25 de Abril de 2024 • 21:36
Sonia Sumaquero convive com a dor da saudade da filha, do neto e do marido que faleceram no ano passado / Matheus Tagé/DL
No sofá da sala, Sonia Sumaquero, 46 anos, mostra as fotos da filha e do marido registradas no celular. As recordações vem à tona. O início do relacionamento, o casamento, o nascimento da primogênita e do caçula e também do ano de 2016, quando viu a vida mudar radicalmente. Em apenas oito meses perdeu três pessoas que amava. Eram cinco e agora são dois. O convívio com a ausência tem sido na fé em Deus e na certeza de um reencontro.
“Curiosamente o Facebook me recordou essa mensagem da Jéssica. É do Dia das Mães de 2013. Fala que se ela fosse primeiro a gente ia se encontrar em outra vida. Nós éramos muito apegadas. Não me canso de olhar suas fotos, as nossas fotos. Essa com o pai foi a última que tirou antes de ir para o hospital”, disse Sonia mostrando as imagens do celular à Reportagem.
Jéssica, a filha mais velha, tinha 24 anos no início do ano passado. Estava grávida de sete meses do filho Theo, que se desenvolvia bem em seu ventre e era esperado por toda a família. “Quando ela disse que estava grávida foi como um presente. Meu primeiro neto. A minha filha era muito alegre. Festeira como o pai. Se destacava desde pequena. Era bagunceira e a alegria da casa. Sempre me incentivou a tudo”, disse Sonia.
Em fevereiro de 2016, carnaval, Jéssica teve uma febre. Foi detectada uma infecção urinária. O médico recomendou remédios e repouso absoluto. “Ela tratava infecção urinária desde o início da gravidez, mas estava muito bem e meu neto também. Voltou para casa, mas logo piorou. Vomitou sangue. Entrei em desespero. Foi para o hospital e ficou internada. Não demorou muito estava na UTI”, contou a dona de casa.
Naquela ocasião, a Baixada Santista registrou alguns casos de gripe H1N1 e, devido a falta de ar que Jéssica sentia, os médicos também desconfiaram da doença - o que foi descartado depois. “Vieram me dar a informação que ela estava com infecção generalizada. Me vi totalmente perdida”, afirmou Sonia.
A mãe de Jéssica pediu aos médicos que fizessem o parto do neto, que ainda estava bem, o que não aconteceu, segundo ela por falta de um leito de UTI Neonatal. No dia 13 de fevereiro foi detectada a morte do bebê. “Meu neto Theo era lindo. Um bebê lindo e grande. Era muito amado e esperado pela nossa família”, disse a dona de casa. Essa foi a primeira das três perdas que Sonia teria no ano passado.
A situação de Jéssica, que seguiu na UTI, piorou. A vida de Sonia era no hospital. No dia 24 de fevereiro recebeu a notícia que nenhuma mãe quer ouvir. “O meu coração sabia que ela não sairia dali, mas a gente sempre acredita que algo pode mudar. A última vez que falei com a minha filha ela disse que me amava. Quando me falaram que a perdi eu não acreditei. Ninguém tinha o direito de falar que ela não estava mais aqui. É minha filha. Eu coloquei no mundo. Eu daria a minha vida pela dela. Cheguei a falar para o médico que se ele quisesse poderia tiar o meu coração e o meu pulmão e dar para ela”, disse emocionada.
Valeria Vila, amiga de Sonia acompanhou todo o sofrimento da família. Estava ao lado dela no hospital. “Não foi fácil. Foram dias muito difíceis. No dia do enterro, a Sonia precisou ser dopada. Tinhamos que dar força para ela”, afirmou.
Marido
A vida da família aos poucos, mesmo com a ausência de Jéssica foi voltando ao normal. A rotina não era mais a mesma assim como as festas, comuns na casa, que deixaram de ser realizadas. Oito meses depois da morte do neto e da filha, Sonia teria de juntar forças novamente para recomeçar.
“O Marcio foi guardando a tristeza da morte da nossa filha. Não fazia mais festa. A minha casa vivia cheia de gente tinha até jogo de luz. A vida para os dois era uma festa. Ele ficou mais quieto”, afirmou Sonia.
Marcio, o marido de Sonia, 48 anos, teve uma forte dor de cabeça. Correram às pressas para o hospital, onde foi constatado um aneurisma cerebral. Ele precisou fazer uma cirurgia. No dia 29 de outubro, Sonia viveria a sua terceira perda. “Eu chorei muito e perguntei a Deus ‘tudo de novo?’. Ele perdeu a fé em Deus. Dizia que Deus tinha levado a filha dele. Entrou em uma depressão profunda. Era um excelente marido e pai. Meu grande amor. Eu falava para ele que nós dois terminaríamos a vida felizes e velhinhos em um asilo. Nos conhecemos quando eu tinha 17 anos”, disse.
Recomeço
Sete meses após as perdas, Sonia segue a vida ao lado do filho Ramon de 17 anos, em São Vicente, na mesma casa, que antes vivia cheia e agora recebe apenas a visita dos amigos mais próximos. Todo dia é um desafio a convivência com a saudade.
“A vida para mim perdeu totalmente a cor. Eu era uma Sonia e agora sou outra. Não existe dor maior do que perder um filho. É um pedaço da gente que morre. Passei a detestar os domingos. Eu construi uma família e, de repente, estou só com o meu filho. Esse Dia das Mães será pior porque não terei a Jéssica e nem o Marcio. Mas a vida precisa continuar e a minha força vem de Deus, da fé que tenho nele. A minha razão de viver está no Ramon e na certeza de que um dia vamos todos nos reencontrar”, disse Sonia.
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