Tudo começou com um balcão que servia churrasco em uma época em que a cidade de Santos ainda não conhecia muito bem essa palavra. / Isabella Fernandes/DL
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Tudo começou com um balcão que servia churrasco em uma época em que a cidade de Santos ainda não conhecia muito bem essa palavra. Eram apenas 17 lugares, nenhum salão, nenhuma mesa e só carne no espeto, chope bem tirado e uma ideia que, sem saber, atravessaria gerações.
A história do tradicional Ao Chopp do Gonzaga começou na década de 1960 pelas mãos do espanhol Venerando Rodrigues Quinones e seguiu com seu filho, José Rodrigues Neto, o eterno Zé do Chopp, que faleceu em março de 2025, aos 75 anos. Hoje, quem mantém o legado são os irmãos Thiago Rodrigues, 47, Thaiza Rodrigues, 45, e Vinicius Rodrigues, 45.
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Antes de chegar ao Gonzaga, Venerando teve outros restaurantes em sociedade. Eram casas de sucesso, mas que exigiam jornadas exaustivas. A solução foi diminuir. O Gonzaga, ainda em formação, parecia uma aposta arriscada. “Era basicamente terra, algumas casas e a Praça Independência. Mas começou um burburinho de crescimento”, lembra.
O imóvel escolhido ficava na na Avenida Ana Costa, 512, é o mesmo que abriga o restaurante até hoje. A proposta era um balcão pequeno, fácil de administrar. Faltava decidir o cardápio. “Naquela época, churrasco era algo muito mais familiar do que de restaurante. Não existia churrascaria na Baixada Santista”, explica.
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Mesmo assim, a escolha foi feita, com um plano B. Se não desse certo, ficariam nos sanduíches clássicos, como bauru e americano. Não precisou. Em menos de um ano, o churrasco venceu. Os sanduíches foram embora.
Com o sucesso da carne, surgiu a preocupação de criar algo que fosse único. “Qualquer bar ou restaurante precisa ter alguma coisa que seja só sua. Senão, vira só mais um”, reforça Thiago.
Foi assim que nasceu o Molho Bom Gosto, hoje conhecido como molho de cebola especial do Ao Chopp do Gonzaga. A receita, criada pelo avô após pesquisas em São Paulo com diferentes chefs, é patenteada desde 1963 e permanece guardada até hoje.
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“O molho tem oito ou nove tipos de ervas. Elas chegam frescas e são desidratadas na fumaça do carvão. Só isso já muda tudo”, revela. O preparo leva um dia inteiro e segue o modo artesanal mantido pela casa há mais de seis décadas.
Essa mentalidade de pensar à frente também está na origem do próprio nome do restaurante. Em uma época sem internet ou redes sociais, Venerando entendeu a importância de visibilidade na antiga lista telefônica, organizada em ordem alfabética.
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Para aparecer logo no início, optou por “Ao Chopp do Gonzaga”, em vez de apenas “Chopp do Gonzaga”. “Meu avô sempre teve essa cabeça de antecipar o que fazia diferença”, resume Thiago.
“Eu lembro do balcão acima da minha cabeça. Apertava botão do caixa, brincava com as alavancas. Os funcionários me viram crescer”, conta.
Por isso, a retirada definitiva do balcão após a pandemia foi um momento difícil e aconteceu no dia do seu aniversário. “Foi muito doloroso. Mas os hábitos mudaram. As pessoas passaram a buscar mais conforto.”
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Mesmo assim, a essência permanece. “O que você comia aqui há 30 anos é o mesmo de hoje. A gente não mexe na comida. Isso é raro.”
Formado em publicidade, Thiago tentou seguir outros caminhos antes de assumir o negócio da família. Em 2002, pediu seis meses ao pai para tentar e ficou até hoje.
“Restaurante não é como outras profissões. Você trabalha com o prazer das pessoas. Elas vêm aqui para celebrar, relaxar, estar bem. Se você não for apaixonado, não aguenta”, diz.
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A presença constante no salão e na cozinha faz parte dessa entrega. “Eu conheço a carne de longe. Se não está boa, não entra. Meu cliente percebe tudo.”
Ao longo de 63 anos, o restaurante atravessou planos econômicos, crises de abastecimento, mudanças no consumo e uma pandemia. “Teve época que quase fechamos. Mas estamos aqui.”
Para Thiago, a fidelidade dos clientes é o maior patrimônio. “O melhor elogio não é ‘está gostoso’. É ouvir: ‘Isso não muda’. Isso é muito difícil de manter.”
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Hoje, a quarta geração já desponta na família. Sem imposições, apenas com exemplo. “Ou você não quer nada com isso, ou você se apaixona. Meio termo não existe.”
Tudo o que Thiago é hoje começou em um balcão de 17 lugares. “Tenho uma dívida de gratidão com a minha família e com este restaurante, e honro esse legado diariamente.”