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Debate

Derrubada de seis árvores em terreno que receberá novo prédio gera polêmica em Santos

Seis palmeiras foram ao chão em um terreno localizado na esquina da Avenida Galeão Carvalhal com a Carlos Affonseca, no Gonzaga

Vanessa Pimentel

Publicado em 22/12/2022 às 11:37

Atualizado em 22/12/2022 às 12:23

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Seis árvores foram cortadas para dar espaço a um novo prédio no Gonzaga / Reprodução/ Eduardo Martinelli

A derrubada de seis árvores em um terreno que irá receber um novo empreendimento imobiliário no Gonzaga, em Santos, gerou polêmica no início deste mês, após uma postagem em rede social feita pelo fotógrafo e arquiteto Marcos Piffer.

Na publicação, Piffer reproduziu as fotos que foram tiradas por outro fotógrafo santista, Eduardo Martinelli, e que mostram as árvores já no chão.

Segundo a Prefeitura de Santos, foram removidos vegetais da espécie Caryota urens (popularmente conhecidas como rabo-de-peixe), e duas palmeiras Trianda, ambas exóticas, de origem asiática. As árvores estavam em um terreno localizado na esquina da Avenida Galeão Carvalhal com a Carlos Affonseca, onde está sendo construído um prédio residencial.

Na legenda das fotos, Marcos questiona a ação, já que as palmeiras estavam, segundo ele, em área de recuo do terreno, o que permitiria a realização do projeto sem a necessidade da remoção.

O arquiteto levanta também a questão de que a construtora teria meios técnicos e financeiros para realizar o replantio das árvores em outro local ao invés de apenas cortá-las, mas que a ação só é feita se solicitada pelo Poder Público.

“O descaso em Santos com este tipo de situação é recorrente. A construtora solicita a autorização para a derrubada e o Poder Público autoriza em troca da compensação (ambiental). Neste caso, a construtora diz que plantou 100 mudas em outro bairro (...) mas alguém saberia dizer quantas sobreviverão ao descuido ou descaso do Poder Público, que tem o dever de cuidá-las?”, diz Piffer em seu texto.

A publicação gerou um debate com mais de 180 comentários. Entre as opiniões, pessoas falaram sobre o índice de arborização cada vez menor na cidade, outras citaram o descaso com a natureza e também a altura “exagerada” dos novos prédios da cidade.

O Diário questionou a prefeitura sobre o corte das árvores. Em reposta, a Administração Municipal informou que a remoção foi autorizada com base na legislação vigente e em laudos técnicos, afirmando que as palmeiras retiradas estavam em estágio final de vida, “não sendo indicado o replantio”, e que outras duas, mais jovens, foram replantadas na parte de trás do Blue Med Convention Center, na Ponta da Praia.

Explicou ainda que a lei ambiental municipal (nº 973) determina que para cada árvore retirada outras 10 sejam plantadas. No caso mencionado, a Secretaria de Meio Ambiente (Semam) propôs o dobro, ou seja, 20 árvores para cada supressão, totalizando 120 plantios - feitos no Macuco, por ser um bairro com baixo índice de arborização.

Em entrevista ao Diário, Marcos diz que por mais “antipática” que tenha sido a ação da construtora, ela está dentro da lei, mas que é preciso mais transparência em relação à eficiência da compensação ambiental.

“Estas 120 mudas foram efetivamente plantadas? Se sim, quantas vingaram? Ou quantas vingarão em um período de um ano, por exemplo? As que morrem, são repostas? É uma questão muito importante, pois ao cortar seis palmeiras você acaba por trazer obrigações sobre quem terá de cuidar das mudas plantadas”, declara.

Piffer também diz que as árvores poderiam ter sido mantidas se fosse preservado um espaço do terreno com permeabilidade. Ele explica que o código de obras na cidade permite que seja ocupada 100% da área no subsolo, o que acaba afastando a possibilidade de uma árvore, mesmo que mantida no projeto, siga viva, já que o solo será integralmente cimentado.

“Por isso estes prédios gigantescos que estão sendo construídos por aqui trazem um jardinzinho na frente sem nenhum tipo de árvore de grande porte”, explica.

O fotógrafo que fez as imagens, Eduardo Martinelli, diz que hoje a paisagem no terreno que vê pela sua janela já está diferente, com stand da construtora montado e sem vestígio das árvores.

Eduardo lamentou ainda que o novo empreendimento vai lhe tirar a vista da “alvorada”, retratada por ele em outros tempos e enquanto ainda é possível enxergar o horizonte.

A vereadora Telma de Souza também questionou a ação e em suas redes sociais reiterou quanto à necessidade da Administração Municipal priorizar a manutenção das árvores em projetos aprovados no município, “como aponta a arquitetura sustentável e o esforço para que, nos casos em que isso for inviável, elas sejam replantadas, ou veremos cada vez mais derrubadas de árvores”, cita.

Um engenheiro agrônomo consultado pelo DL explicou que as árvores adultas têm uma função sistêmica no ambiente, servindo de local para pouso e moradia de aves, polinização e arrefecimento (esfriamento) da área onde está plantada. Desta forma, ao trocar uma árvore por uma muda, tudo isso se perde, levando cerca de 20 anos para que o vegetal plantado complemente essas atividades.

FISCALIZAÇÃO

A reportagem do DL questionou novamente a prefeitura para saber se o acompanhamento do desenvolvimento das mudas plantadas existe, como ele é feito e por quanto tempo.

Sem detalhes, informou apenas que o monitoramento é de responsabilidade da empresa, com fiscalização da prefeitura.

A construtora Patriani, responsável pelo novo empreendimento, não respondeu aos questionamentos enviados.

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