A família de Matheus e os vizinhos garantem que o rapaz é inocente / Carlos Ratton/DL
Continua depois da publicidade
Primeiro foi nas ruas de entorno da comunidade que fica na Zona Noroeste de Santos. Depois, em frente ao Fórum no Centro da cidade. Na última terça-feira (24), os (as) moradores (as) de Casinhas, da região do Caminho São Manoel, resolveram usar a Tribuna Cidadã, da Câmara de Vereadores, para denunciar a violência policial contra Matheus Lopes Silva Santos, de 21 anos, baleado por policiais do Batalhão de Operações Especial de Polícia (Baep), no último dia 8.
Como nas manifestações públicas anteriores, a família de Matheus e os vizinhos garantem que o rapaz é inocente. Matheus é ajudante de pedreiro e também atua como funcionário em um ferro-velho, sendo reconhecido como um jovem trabalhador e comprometido com suas responsabilidades.
Continua depois da publicidade
Matheus foi baleado e levado para o Hospital Vicentino, em São Vicente, onde ficou internado sob vigilância policial. O tiro quase resultou em sua morte.
A família revela que apesar da gravidade do ferimento, no dia 18 último, ele recebeu alta médica e imediatamente após a liberação hospitalar, foi encaminhado diretamente ao 5º Distrito Policial de Santos sem o devido acompanhamento médico e sem acesso ao tratamento adequado. O rapaz se encontra no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente.
Continua depois da publicidade
Emocionada, a mãe de Matheus, Ana Paula Balbina Lopes da Silva, preferiu que a prima do rapaz falasse na Tribuna Cidadã. Ao Diário, disse que “É uma injustiça que estão fazendo com o meu filho. Temos todas as provas. Ele é trabalhador, ele não é bandido, como estão falando. Ele foi conduzido para o CDP. Queremos a libertação dele. Vamos de novo para a frente do Fórum pedir isso”.
Durante a investida, os policiais apreenderam armas e drogas e também três homens – incluindo Matheus - e um adolescente de 17 anos. Segundo a versão policial, Matheus foi o único baleado por estar armado e atentar contra a vida dos policiais. O tiro entrou pelo abdômen, saiu pela perna e perfurou a artéria femoral. Matheus foi encaminhado ao hospital pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Pessoas presentes informam que a polícia entrou na comunidade atirando, o que gerou pânico, pois as ruas e vielas estavam cheias de crianças brincando e adolescentes empinando pipa como é natural num dia de domingo.
Continua depois da publicidade
No tumulto e correria, a avó de Matheus ouviu os gritos do neto que havia sido baleado pelos policiais, conforme vídeo postado nas redes sociais, em que ela começa a gritar e pedir por ajuda, alegando que Matheus nada tinha a ver com a situação revelada pela polícia.
A vereadora Débora Camilo (Psol) se manifestou na Câmara. “A família está usando a Tribuna Cidadã justamente para levar informação para todos os vereadores e para a sociedade. Não é a primeira e não será a última vez. A gente está falando de um jovem trabalhador que quase perdeu a vida. É preciso mobilização da sociedade para que ele seja solto, porque ele não é bandido e precisa estar com a família”.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) já havia se manifestado informando que os autores, três homens, de 21, 38 e 41 anos, foram presos em flagrante, e um adolescente, de 17, apreendido. O inquérito policial foi relatado para apreciação da Justiça dia 10.
Continua depois da publicidade
A Polícia Civil esclarece que todos os procedimentos adotados seguiram estritamente o disposto no Código de Processo Penal. Demais questionamentos devem ser encaminhados ao Poder Judiciário.
O caso de Matheus Santos ocorreu no período em que o Centro de Pesquisa Aplicada em Direito e Justiça Racial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito SP lança o estudo Mapas da (In)Justiça, que investiga a responsabilização de policiais em abordagens letais no Estado de São Paulo.
A análise realizada pela FGV abrange 859 procedimentos criminais entre 2018 e 2024 e revela que, nesse período, nenhum agente de segurança pública foi responsabilizado. Em 62% dos casos, as vítimas eram negras.
Continua depois da publicidade
O levantamento destaca a recorrência de justificativas genéricas, como “prática de crime” ou “atitude suspeita”, para legitimar a letalidade policial. Além disso, aponta omissões investigativas, como a ausência de exames básicos e demora na emissão de laudos, especialmente em casos com vítimas negras.