Segundo a versão policial, Matheus foi o único baleado por estar armado e por ter atentado contra a vida dos policiais / Reprodução
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No período em que o Centro de Pesquisa Aplicada em Direito e Justiça Racial da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito SP lança o estudo Mapas da (In)Justiça — que investiga a responsabilização de policiais em abordagens letais no Estado de São Paulo (ver nesta reportagem) —, a comunidade conhecida como Casinhas foi para a rua denunciar uma operação policial do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) na região do Caminho São Manoel, em Santos.
O caso ocorreu no último dia 8 (domingo) e, segundo a comunidade, o jovem Matheus Lopes Silva Santos, de 21 anos teria sido baleado por engano.
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Na versão policial, durante a investida, os policiais apreenderam armas e drogas e também três homens — incluindo Matheus — e um adolescente de 17 anos. A comunidade está organizando uma audiência pública na Câmara de Santos.
Segundo a versão policial, Matheus foi o único baleado por estar armado e por ter atentado contra a vida dos policiais. O tiro atingiu o abdômen, saiu pela perna e perfurou a artéria femoral.
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Matheus foi encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Vicentino após pressão da comunidade. Segundo familiares, ele se encontra em recuperação, não está mais entubado, mas alimenta-se por sonda e permanece sob escolta policial.
No entanto, pessoas que estavam presentes no dia da ação informam que a polícia entrou na comunidade atirando, o que gerou pânico, pois as ruas e vielas estavam cheias de crianças brincando e adolescentes empinando pipa, como é natural em um dia de domingo.
No tumulto e na correria, a avó de Matheus ouviu os gritos do neto que havia sido baleado pelos policiais, conforme vídeo postado nas redes sociais. Nas imagens, ela começa a gritar e pedir por ajuda, alegando que Matheus é trabalhador e não tinha relação com a situação revelada pela polícia.
"Foi uma correria, todo mundo correndo pra onde dava. Foi feito um cerco e não havia alternativa senão pular na maré. Isso está acontecendo sempre. A gente não tá tendo sossego aqui. Eles (policiais) entram nas casas, intimidam, falam coisas pra gente. Para eles somos todos vagabundos. Ano passado mataram um menino, dessa vez, acertaram o Matheus", afirma uma moradora.
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Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informa que o caso mencionado foi investigado no 5º Distrito Policial de Santos.
O órgão confirma que os autores — três homens, de 21, 38 e 41 anos — foram presos em flagrante, e um adolescente, de 17 anos foi apreendido. O inquérito policial foi relatado para a apreciação da Justiça no dia 10.
A Polícia Civil esclarece que todos os procedimentos adotados seguiram estritamente o disposto no Código de Processo Penal. Demais questionamentos devem ser encaminhados ao Poder Judiciário.
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A análise realizada pela FGV abrange 859 procedimentos criminais entre 2018 e 2024 e revela que, nesse período, nenhum agente de segurança pública foi responsabilizado. Em 62% dos casos, as vítimas eram negras.
O levantamento destaca a recorrência de justificativas genéricas, como "prática de crime" ou "atitude suspeita", para legitimar a letalidade policial. Além disso, aponta omissões investigativas, como a ausência de exames básicos e demora na emissão de laudos, especialmente em casos com vítimas negras.
A plataforma interativa do projeto, com mapas, gráficos e acesso à base de dados, além do relatório da pesquisa com análises aprofundadas sobre os documentos, está disponível na internet.
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