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Santos

Biografia do Bandido da Luz Vermelha narra a vida dele em Santos

Criminoso que aterrorizou a capital paulista viveu em apartamento na Avenida Floriano Peixoto, no Gonzaga, entre maio e agosto de 1967, e usava táxi para subir e descer a serra; atual proprietário do imóvel contou ao Diário um fato curioso

Gilmar Alves Jr.

Publicado em 04/11/2019 às 10:05

Atualizado em 04/11/2019 às 11:14

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Edifício Cannes, no Gonzaga, onde João Acácio Pereira da Costa morou de maio a agosto de 1967, na reta final como assaltante de mansões. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL E REPRODUÇÃO

A biografia do Bandido da Luz Vermelha, que aterrorizou a cidade São Paulo na década de 60, foi lançada na última sexta-feira (1º) e inclui relato do período em que o criminoso, um dos mais famosos da crônica policial brasileira, viveu em um apartamento no edifício Cannes, na Avenida Floriano Peixoto, 123, no Gonzaga, em Santos.

A vida em Santos foi a reta final da trajetória de João Acácio Pereira da Costa como assaltante, que entre maio e agosto de 1967, subia a serra cerca de três vezes por semana para assaltar mansões e estuprar moradoras.

Em grande parte dos casos, ele fazia o trajeto de ida e volta com um taxista de Santos, que chegou a ser detido.

"Santos foi fundamental na história dele. A ligação com a cidade foi intensa. Ele montou uma rede de receptadores", afirmou em entrevista ao Diário do Litoral o autor da biografia, o jornalista Gonçalo Junior.

Denominado "Famigerado! - A história de Luz Vermelha, o bandido que aterrorizou São Paulo na década de 1960", o livro, de 416 páginas, foi elaborado a partir de 2012 e construído com a análise de quase 23 mil páginas de 88 processos, laudos psiquiátricos e 30 entrevistas. Foi lançado pela editora Noir.

Crédito: Divulgação

O livro, de Gonçalo Junior, foi elaborado com a análise de quase 23 mil páginas de 88 processos, laudos psiquiátricos e 30 entrevistas

"A fúria e a violência do Bandido da Luz Vermelha mataram todo o romantismo que havia em São Paulo até aquela época. Depois dele, a cidade nunca mais foi a mesma", afirmou ao autor, em 2013, a vítima e moradora do Jardim Europa Ieda Falzoni, aos 86 anos.

De março de 1966 até agosto de 1967, ele assaltou 154 mansões e casas em bairros nobres de São Paulo, matou oito homens e estuprou cerca de 100 mulheres. Ele utilizava uma lanterna com aro vermelho. Antes de se mudar para Santos, ele morou em um hotel na região central da capital paulista.

"Como a Justiça queria proteger a honra das famílias, então os processos correram em segredo de Justiça e ele foi proibido de dar entrevistas. Isso significa que quase tudo no livro é absolutamente inédito", afirma o autor da biografia, que analisou minuciosamente os processos a partir de registros no Museu do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Em SP, 'Roberto', em Santos, 'Gaúcho'

Quando residiu em São Paulo, João Acácio se identificava como Roberto da Silva. Em Santos, só falava o apelido que inventara, "Gaúcho", e dizia ser filho de um grande latifundiário do Rio Grande do Sul.

Assim como na capital, ele costumava frequentar, em Santos, boates com prostituição e tinha gastos elevados.

No prédio onde morava, o bandido dava balas, chocolates e refrigerantes a crianças, que assistiam televisão no apartamento em que ele morava de aluguel, o 704.

"Ele ia para a praia de calça comprida, botas e camisa de manga comprida mesmo no calor. Levava uma vitrola, daquelas de pilha, e ficava sentado, ouvindo discos, com as crianças em volta", narra o autor da biografia.

O ladrão ficava acima de qualquer suspeita para muitos moradores, com exceção de uma policial civil, já falecida.

A moradora chegou a falar para o então síndico de suas suspeitas sobre o homem, conforme diz o autor da biografia, mas não conseguiu descobrir a identidade dele.

Ao perceber que a investigação da Polícia Civil da capital estava próxima de sua captura, Luz Vermelha deixou o apartamento em Santos no dia 4 de agosto de 67, assaltou uma casa na Rua Augusta na madrugada do dia 5 e fugiu para Curitiba (PR).

Em Curitiba, no dia 7, foi reconhecido por um vendedor de bilhetes de loteria ao ter a foto publicada na capa da Folha de S.Paulo daquela data, sendo preso pela polícia paranaense. O vendedor havia hospedado João Acácio, sem saber que ele era criminoso, por ele ser amigo de seu filho.

Após cumprir 30 anos de prisão, ele foi para Santa Catarina, onde foi morto a tiro, em 5 de janeiro de 1998, em um bar pelo pescador que o abrigava. Havia a suspeita de assédio sexual de João Acácio contra a mãe e a mulher do homem.

Lembranças

Na última quinta-feira (31), o Diário esteve no edifício Cannes e entrevistou uma moradora que testemunhou a vida de João Acácio no prédio.

A dona de casa Maria Muniz da Silva, de 80 anos, relembra que ele brincava com crianças do edifício no térreo e "comprava doces em grandes quantidades para elas".

"Elas corriam para perto dele", diz.

Sobre a prisão, Maria afirma: "Quando a gente descobriu foi um escândalo".

Crédito: Nair Bueno/DL

Ouvida pela Reportagem na quinta-feira (31), a moradora Maria Muniz da Silva, de 80 anos, relembrou tempos do bandido no edifício 

Atual proprietário

A Reportagem identificou o atual proprietário do apartamento onde Luz Vermelha morou e, por telefone, de São Paulo, onde reside, Julio Sussumu Hiraoka, de 59 anos, afirmou que adquiriu o imóvel em 2013.

Ele relata que, quando um pedreiro fazia uma obra no apartamento, soube por ele que o imóvel poderia ser o usado pelo assaltante na década de 60.

Hiraoka diz que cerca de um ano depois de comprar o imóvel adquiriu um rádio-relógio que emite luzes e relata que quando foi testar o aparelho notou que a luz emitida na parede era vermelha. "Decidi me desfazer dele", revela. Ele diz que lerá a biografia.

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