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PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Abandonado, tomado pelo mato e em ruínas, Escolástica Rosa precisa de R$ 50 milhões

Projeto arquitetônico está pronto, há o interesse de construtoras, Governo do Estado foi acionado, mas restauração do imóvel inaugurado em 1908 não sai do papel

Nilson Regalado

Publicado em 22/04/2024 às 07:30

Atualizado em 22/04/2024 às 08:23

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Gustavo de Araújo Nunes elaborou um dossiê com 36 plantas detalhadas / Diário do Litoral

Corria o século 18 quando o filho de uma negra escravizada com um membro da elite santista fez fortuna à custa da plantação de bananas. Já no leito da morte e sem filhos, João Octávio dos Santos ousou forjar um complexo capaz de oferecer moradia, alimentação, assistência médica e educação integral a meninos pobres. E deixou o aluguel de centenas de imóveis para custeio do instituto, que receberia o nome de sua mãe.

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O orfanato foi inaugurado em 1908 e formou gerações de santistas nos primeiros cursos técnicos do Brasil. Mas, o Estado resolveu intervir em 1933. Ainda assim, o legado de João Octávio resistiu até 1981, quando o orfanato foi definitivamente fechado. E a decadência do ensino público se intensificou. E a degradação do conjunto arquitetônico se acentuou.

Abandonado, o velho Escolástica Rosa agoniza.

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Dos oito imóveis que integram o conjunto arquitetônico, só três ainda estão cobertos por telhas. Nos demais, só as paredes centenárias resistiram ao descaso.

A fiação foi toda furtada e o piso das antigas salas de aula está destruído.

Agora, para recuperar a dignidade do conjunto impregnado de história serão necessários R$ 50 milhões.

E o tic-tac do relógio 'joga contra' as linhas em estilo neoclássico traçadas pelo arquiteto Ramos de Azevedo (1851/1928), o mesmo que projetou o Theatro Municipal, o Mercadão e a Pinacoteca do Estado, todos na Capital, além da Catedral Metropolitana e do Mercado Municipal de Campinas, entre outros prédios.

Porém, segundo o arquiteto Gustavo de Araújo Nunes, responsável pelo projeto de restauração, o prédio principal, de frente para o mar, "não possui patologias estruturais graves que comprometam" a segurança e a estabilidade da construção.

Em meio às ruínas das antigas oficinas onde crianças e jovens aprendiam uma profissão, a Capela de São João Bosco resiste, com altivez. A casa que abrigava as famílias dos antigos diretores também segue de pé, ao arrepio do descaso, cercada pelo mato.

Esses são os únicos três prédios que resistiram ao tempo e permanecem cobertos com telhas no conjunto arquitetônico, que tem 17 mil metros quadrados, sendo aproximadamente dez mil metros quadrados de área construída.

O projeto de restauração recebeu o aval do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) e do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) na virada de 2022 para 2023. E foi apresentado à Secretaria de Estado do Turismo há 15 meses. Na ocasião, o secretário, pastor Roberto de Lucena, prometeu se empenhar na obtenção de verbas para viabilizar a obra.

O último passo dado no sentido de viabilizar o projeto foi a concessão do alvará para início da obra. O documento foi expedido pela Prefeitura em outubro do ano passado.

"HISTÓRIA FANTÁSTICA".

Líder de uma equipe formada por quatro arquitetos, Gustavo de Araújo Nunes elaborou um dossiê com 36 plantas detalhadas de todo o conjunto arquitetônico até concluir o projeto de restauro. Ele, inclusive, lamenta a condição de 'miséria' dos prédios.

E foi justamente esse detalhamento da "linha do tempo" que destravou as autorizações para o restauro no Condepasa e no Condephaat, processo que se arrastava havia seis anos, antes da contratação da equipe.

"Tive que pegar na unha. Em seis meses, refizemos 100% do material técnico, com desenhos, plantas, detalhes dos ornamentos, coleta da estratigrafia, levantamento dos adornos e da condição das argamassas, ensaios químicos e de granulometria", resume o arquiteto.

"Foram cinco meses só com levantamentos e outros quatro meses só para editar material", explica Nunes. No total, o projeto contempla aproximadamente sete mil metros quadrados de área a ser restaurada inicialmente.
E todo esse detalhamento se justifica pelo fato de que o Escolástica Rosa é o segundo maior sítio em termos de restauro do patrimônio histórico tombado no Estado, só atrás de outro projeto envolvendo sete quadras de um conjunto arquitetônico na região central da Capital.

"O Escolástica Rosa tem uma arquitetura fantástica, uma história fantástica. Ele é importante e relevante sob todos os aspectos. Tenho que dar o resultado para o empreendimento com qualidade e fidelidade ao projeto de restauro", salienta o arquiteto. 

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