Praia Grande
A farmácia tradicional do Boqueirão mantém atendimento humanizado, atravessa cinco décadas e reúne relatos de ilustres frequentadores da cidade
Seu Ney trabalha há 37 anos na Drogaria Ibérica, no Boqueirão, em Praia Grande / Giovanna Camiotto/DL
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A Drogaria Ibérica, inaugurada em novembro de 1969, celebra 56 anos de existência como uma das instituições comerciais mais emblemáticas da Praia Grande. Em meio ao acúmulo de memórias que marcam esse período, destaca-se a figura de Joseley Jesus de Souza, o popular Ney da Ibérica, que há 37 anos é a face e a alma do estabelecimento, tornando-se parte indissociável do cotidiano de moradores, turistas e personalidades que circulam pelo Boqueirão.
“A Ibérica é mais que meu trabalho, é minha vida adulta inteira, meu ponto de encontro com as pessoas e com a cidade. Aqui eu cresci, amadureci, aprendi uma profissão e criei uma história”, atestou seu Ney, de 53 anos de idade.
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Seu Ney chegou à Praia Grande aos 12 anos em meados de 1984, vindo de São Vicente. Na adolescência, ele já demonstrava o desejo de ingressar no mercado de trabalho, porém encontrou resistência no ambiente familiar, principalmente de seu pai.
“Meu pai não queria de jeito nenhum. Ele dizia: ‘Filho, estuda. Trabalho é responsabilidade demais agora’. Mas eu insistia, falava: ‘Pai, eu quero ter meu dinheirinho, quero sair com meus amigos, ir no cinema, comprar minhas coisas’. Eu era decidido”, relembrou Ney.
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A conversa que selou sua entrada no mundo profissional permanece nítida em sua memória, marcada por uma promessa que a legislação viria a alterar. “Lembro dele me olhando sério e falando: ‘Tá bom, meu filho… se você trabalhar direitinho, com 25 anos de carteira assinada já aposenta. Com 37 anos você já tá descansando’. Eu acreditei demais nisso. Só que as leis mudaram e aqui estou eu… 41 anos depois, firme no balcão”, contou ele, segurando o riso.
“Mas olha… não me arrependo de nada. Aprendi a amar isso aqui. Tentei mudar de área, tentei seguir outro caminho, mas sempre voltava. A drogaria me chamou de volta”, complementou Ney.
Ney foi contratado em meados de 1988, aos 16 anos de idade, pelo então proprietário Seu Dino, que tempos depois decidiu entregar o controle da Ibérica para os próprios funcionários da farmácia.
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“Naquela época, trabalhar aqui era quase um diploma social. Todo mundo conhecia a Ibérica, todo mundo passava aqui pra comprar um remédio, medir pressão, tirar dúvida. Era um ponto de encontro do bairro”, relembrou Ney, enfatizando que a drogaria foi uma das pioneiras na Baixada Santista.
O farmacêutico também recorda o período de mudança de endereço do estabelecimento: “A gente veio da [Avenida] Costa e Silva, em frente ao Bradesco. O patrão tinha sonho de abrir restaurante e hotel, montou o Hotel Ibéricas, montou restaurante… e tudo isso fazia a Ibérica ser um centro de histórias, de encontros, de movimento”.
Mesmo diante da expansão das grandes redes de farmácias, Seu Ney garante que a equipe preservou uma característica essencial e imutável. “Nosso atendimento sempre foi humano. A gente olha no olho, chama pelo nome, se preocupa de verdade. Aqui o cliente vira amigo e a amizade vira história”, declarou ele.
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Ao longo de sua trajetória, a Drogaria Ibérica não apenas serviu à comunidade, mas também recebeu personalidades que são figuras centrais na história da cidade e até mesmo do cenário nacional.
“Aqui já passaram prefeitos, ex-prefeitos, secretários, empresários grandes. O próprio Alberto Mourão sempre foi muito presente, a Raquel Chini também sempre tratou todo mundo com muito carinho. Essas relações vão se criando naturalmente”, avaliou Ney.
Seu Ney ainda lembrou de um episódio curioso, no qual atendeu um dos ex-Presidentes do Brasil. “Teve um dia que, para minha surpresa, atendi o Michel Temer. Ele estava na cidade e entrou na drogaria com uma postura tranquila, educado, conversou comigo. Eu fiquei até meio sem acreditar na hora”, lembrou ele, sem esconder a emoção.
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A lista de clientes ainda esconde artistas e jogadores brasileiros: “O Alexandre Pires já veio aqui. Lembro dele sorridente, muito gente boa. Também atendi vários jogadores de futebol. Naquela época, muitos atletas vinham para Praia Grande descansar e acabavam passando na Ibérica às vezes para comprar algo simples, às vezes para bater papo mesmo. Era o Viola, o Júlio Baptista, outros nomes da bola… Eram caras que marcaram o futebol brasileiro”.
Entre as memórias mais preciosas, Ney faz questão de citar uma história que envolve as origens da Ibérica, quando a drogaria era espaço de zelo e cuidado de uma das figuras mais queridas do cinema nacional. “O Mazzaropi morava no [Canto do] Forte e vinha muito aqui. Nos últimos anos de vida, mesmo de cadeira de rodas, ele passava pra conversar, pra ser atendido. Era sempre um momento especial. Ele tinha carinho pela cidade e pela Ibérica”, revelou o farmacêutico.
Seu Ney também fez referência a uma das figuras mais marcantes da história do município litorâneo: “A família do Tude Bastos também sempre passou por aqui. Essas pessoas fazem parte da história da Praia Grande e da Ibérica também”.
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O forte vínculo de Ney com os moradores locais chegou à política. O farmacêutico tentou disputar uma vaga na Câmara Municipal e recebeu 1.560 votos de clientes. “Foi uma experiência única. Descobri que a gente cria uma ligação muito mais forte do que imagina. A pessoa que você atendeu criança cresce, volta adulta, traz filho, traz família. É uma corrente de vida que passa pela nossa porta todo dia”, afirmou.
Questionado sobre como definiria o estabelecimento, seu Ney garantiu que a essência da farmácia permanece inalterada desde o primeiro dia: “Desde 1969, o que define a Drogaria Ibérica é o respeito. Do cliente mais simples ao mais ilustre, todo mundo recebe a mesma atenção. Essa igualdade é nosso maior legado”.
A Drogaria Ibéria convida moradores e visitantes a conhecer ou revisitar a tradicional casa de medicamentos do Boqueirão. A farmácia fica localizada na Av. Brasil, nº 258, em Praia Grande (SP). Para maiores informações, basta procurar pelo Seu Ney no telefone (13) 3491-1439.
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