O barbeiro João, mais conhecido como Silvano, é uma figura de resistência no Boqueirão, em Praia Grande / Giovanna Camiotto/DL
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A Barbearia Silvano's, localizada no coração do Boqueirão, em Praia Grande, é uma espécie de resistência da tesoura e da navalha em meio à forte concorrência do mercado regional. Seu proprietário, João Batista de Oliveira, mais conhecido como Silvano, confirmou que é um barbeiro à moda antiga que manterá o legado e tradição viva até os seus últimos dias de vida.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Litoral, o barbeiro de 81 anos contou um pouco da história que gira em torno de uma profissão que começou por seu pai. "A barbearia surgiu com meu pai em 1968, na Avenida Brasil. Depois, em 1995, vim para cá [na rua Roberto Shoji] e estou aqui há mais de trinta anos," conta Silvano, que aprendeu a arte na tradição familiar e também se aprimorou em escolas.
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Apesar da longa história, Silvano não esconde as dificuldades que surgiram após a pandemia de coronavírus em 2020, período em que acentuou o aumento da concorrência na região do Boqueirão. Ele conta com cerca de três barbearias na mesma quadra e quase 20 estabelecimentos nas proximidades da praia.
“Gostaria muito que viessem aqui e que, apesar da grande concorrência, eles [os clientes] me escolhessem. Agradeço a preferência [daqueles que frequentam], pois estou aqui há 60 anos e sou conhecido”, pediu Silvano, cuja clientela fiel é o sustento da família.
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Seu João também avaliou que seus preços de corte de cabelo e barba estão dentro do mercado, visto que ele busca se manter relevante na região. "Alguns cobram 50, 60, 80 reais, e eu cobro 40. Estou satisfeito. Tenho uma cliente fiel que me mantém. Agora, os clientes novos são contados nos dedos", ponderou.
"Eu não tenho outra atividade, além do corte de cabelo. Hoje, por exemplo, eu tive só dois clientes desde as 7h30 da manhã. Em outras épocas, eu estaria cortando de 15 a 20 cabelos [por dia]. É muito alta a concorrência", lamentou Silvano.
O barbeiro lamenta a mudança de cenário, mas demonstra apego à sua história. Seu espaço é um misto de salão masculino, museu afetivo e acervo de cinema. E por falar nos filmes, seu João reconhece que não seria nada sem eles. "Eu sou fanático! Minha vida é o cinema. Se um dia acabar, eu não serei nada", disse entre risos e apontando para uma infinidade de títulos expostos no local.
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Mas a barberia não se restringe às paixões de Silvano, já que as paredes do local ainda exibem fotos de figuras importantes da região que ele atendeu ao longo das décadas, como membros da influente família Mourão. "Tio, genro, irmão, todos eles foram meus clientes e estão retratados aqui", apontou seu João, novamente citando algumas das fotografias na parede da Silvano's.
Questionado sobre a vida antes da barbearia, seu João relatou que carrega nas mãos não apenas a longeva história de 60 anos à frente da Barbearia Silvano's, mas também o emocionante legado militar de ter servido na Fortaleza de Itaipu, no Canto do Forte, também na cidade do litoral paulista.
Ele afirmou que o exército segue como uma de suas grandes paixões na vida, embora desistido de uma grande oportunidade quando ainda era jovem. "Eu deveria ter ido para a Bahia, hoje seria um tenente ou um capitão, mas preferi continuar por aqui e segui na barbearia, como uma tradição", confessou.
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Em outro momento, Silvano também revelou detalhes de sua vida pessoal e sua conexão profunda com o trabalho. Pai de duas filhas já adultas, o barbeiro mora em cima da própria barbearia e se considera um homem solitário. "Vim morar aqui para que eu possa trabalhar. Continuo sozinho. Mas, sozinho com Deus", comentou ele, sem deixar que a solidão afete sua rotina de trabalho.
Se engana quem pensa que ele deveria aposentar. Aos 81 anos, seu João garantiu que só vai interromper as atividades quando já não puder mais trabalhar e estiver na "Grande Planície", como se refere ao céu ou ao além, no pós-morte. "Apenas daqui a 20 anos", brincou ele.
"Se eu parar [de trabalhar como barbeiro], não terei mais energia para nada", reconheceu Silvano, que vê o serviço como o grande pilar e a principal distração. "Não tenho outra atividade a não ser cortar cabelo e administrar meu negócio. Já vivi bastante, mas o trabalho é o que me dá energia".
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Apesar das dificuldades, ele se mantém otimista com a chegada de dezembro: "Creio que terei novos clientes, sim. No final do ano, costuma vir mais gente, que passa por aqui a caminho da praia", avaliou seu João, esperançoso em conhecer novos rostos e novos fios capilares.
Quem quiser conhecer o trabalho do veterano barbeiro pode visitar a Barbearia Silvano’s na Rua Dr. Roberto Shoji, nº 461, no Boqueirão, em Praia Grande. Mais informações e agendamentos podem ser obtidos pelo telefone (13) 3379-4610.