Caso seja eleito para o Palácio dos Bandeirantes, o candidato Paulo Skaf (MDB) esbarrará em dificuldades orçamentárias para cumprir sua principal promessa na área da educação / Antonio Cruz/Agência Brasil
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Caso seja eleito para o Palácio dos Bandeirantes, o candidato Paulo Skaf (MDB) esbarrará em dificuldades orçamentárias para cumprir sua principal promessa na área da educação: "Levar para a rede estadual o padrão de qualidade do Sesi-SP".
Uma entidade do sistema S cuja principal fonte de receita é a contribuição das indústrias, o Sesi-SP está estruturado em escolas de menor porte, que facilitam o aprendizado, e faz processo seletivo para a entrada de alunos. Além disso, dispõe de um orçamento impulsionado pela cobrança de mensalidades.
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Em 2017, a entidade registrou despesas superiores a R$ 926 milhões, relacionadas a pouco mais de 93 mil matriculados no ensino médio e no fundamental, o que representa um custo anual de R$ 9.900 por aluno.
Ou R$ 827 por mês, de acordo com prestação de contas entregue ao TCU.
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As cifras são altas se comparadas ao orçamento da rede estadual: R$ 30,8 bilhões em 2018. Mas dividindo esse valor pelos 3,6 milhões de matriculados, o gasto é de R$ 8.555 por estudante, R$ 712 mensais.
Esse valor inclui outras despesas da Secretaria da Educação, como o pagamento de aposentadorias.
Excluindo-se esse gasto e contabilizando apenas o que é gasto efetivamente na atividade-fim (ensino), o custo na rede pública cai ainda mais.
Segundo boletim interno do governo do estado, ao qual a reportagem teve acesso, cada aluno do ensino médio custa, por mês, R$ 288,87; os do fundamental, R$ 302,50.
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Skaf instituiu o pagamento de mensalidade no Sesi em 2006. Os alunos pagam contribuições que variam de R$ 134,03 a R$ 359,25, do ensino fundamental ao médio.
Quem não é filho de industriário paga de R$ 187,15 a R$ 548,25. Os filhos de trabalhadores da indústria que possuem renda familiar inferior a um salário mínimo por pessoa são isentos de mensalidade.
Atualmente, 30% dos alunos não pagam nada.
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"O Sesi é um belo modelo, mas tem um orçamento bilionário para um número reduzido de alunos. Fica difícil entender de onde vai sair o dinheiro para aplicar no estado", diz Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em educação.
Mesmo em um cenário de orçamento mais folgado do que o da rede pública, o Sesi-SP sofreu os efeitos da crise.
A partir de 2015, foi necessário adotar medidas como a suspensão da oferta de reforço escolar para alunos de comunidades carentes da rede pública, a interrupção de cursos técnicos e a redução dos atendimentos em educação continuada.
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Quando se candidatou em 2010 e 2014, Skaf também usou o nome do Sesi em discursos, na tentativa de convencer o eleitor de que tem competência para gerir bem a educação. Em 2014, não mencionou a instituição expressamente no programa de governo.
Desta vez, o dirigente introduziu o Sesi-SP na primeira linha do capítulo de educação. Entre as metas, aponta "professores motivados" e escolas "bem equipadas".
Para a consultora em educação Ilona Becskehazy, o plano para a área está "bem desenhado e aborda as principais questões que precisam ser melhoradas, com razoável nível de detalhe".
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Para Celso Napolitano, presidente da Fepesp (Federação dos Professores do Estado de São Paulo), a proposta é subjetiva e a base de comparação não está clara. "O que significa levar a excelência do Sesi para a rede estadual? O nível dos professores do Sesi é muito bom, mas o do ensino oficial também é. Precisa mostrar em termos de gestão o que isso significa", diz.
Procurada, a campanha de Skaf afirma que os recursos serão geridos com mais eficiência e que o custo-benefício do Sesi em relação ao estado é maior: "Acreditamos que será possível a implantação gradual do nosso modelo sem a grande necessidade de aumento de recursos".
No Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) de 2017, alunos do Sesi-SP tiveram uma pontuação maior do que os colegas das escolas públicas: 551,3 nas provas objetivas, ante a média de 510,8 dos estudantes do sistema estadual.
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Além dos desafios orçamentários, a consultora Becskehazy diz que Skaf enfrentaria desafios políticos para cumprir outra promessa: construir um regime de colaboração entre estado e municípios.
Ela diz que haveria resistência de sindicatos , mas o resultado seria satisfatório, caso um eventual governo Skaf premiasse a municípios por desempenho, oferecendo repasses de ICMS.
"A rede de São Paulo é tão grande, que é impossível de gerir. Municipalizar as duas etapas do ensino fundamental e se concentrar no ensino médio é a solução", ela diz.
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