Política
O cientista político, economista e jornalista, Fernando Wagner Chagas, foi convidado pelo DL para analisar o futuro quadro político do Governo do presidente eleito
O cientista político, economista e jornalista, Fernando Wagner Chagas / Nair Bueno/Diário do Litoral
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O governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) começa a se desenhar à medida em que ele apresenta os indicados para compor o seu corpo ministerial. No entanto, a cada novo nome anunciado para o seu “staff”, mais discussões contrárias ou favoráveis se propagam na mídia tradicional e nas redes sociais.
Então, convidamos o cientista político, economista e jornalista, Fernando Wagner Chagas, para analisar o futuro quadro político do Governo Jair Bolsonaro e as medidas previstas já anunciadas.
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Diário do Litoral - Qual a sua avaliação das indicações de Bolsonaro para os ministérios de seu governo?
Fernando Wagner Chagas - O governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, deverá ser conservador nos hábitos e costumes e liberal na economia, pelas nomeações feitas até aqui. Na área econômica, os indicados são excelentes nomes do mercado financeiro, mas a maioria não tem experiência em administração pública e finanças públicas. Essa falta de conhecimento da máquina administrativa pode causar dificuldades no início dos trabalhos para a equipe econômica. Nas demais pastas, as nomeações, diferentemente da área econômica, têm sido mais ideológicas do que técnicas, como no caso do chanceler Ernesto Araújo, para o Ministério de Relações Exteriores. Esse posicionamento do novo governo poderá provocar muitos atritos políticos em seus setores de atuação, prejudicando as ações técnicas da administração.
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DL - O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que não pretende aumentar e nem criar impostos. Você acha possível ele manter essa promessa?
Chagas - O Brasil passa pela maior crise fiscal da sua história. Isso significa dizer que a despesa é sempre maior do que a receita a cada ano, aumentando o rombo das contas públicas e, consequentemente, o endividamento do país. Por isso, o novo governo terá que fazer a reforma da Previdência Social, congelar os salários dos servidores federais, cortar as desonerações tributárias e realizar privatizações. Além disso, o Ministério da Fazenda terá que criar ou aumentar tributos para fechar as contas públicas nos próximos quatro anos, apesar dos insistentes desmentidos do Paulo Guedes, futuro ministro dessa pasta.
DL - A Secretaria de Privatizações é a saída para recuperar receita?
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Chagas – A Secretaria de Privatizações terá duas finalidades básicas: arrecadar recursos financeiros rapidamente, para cobrir o buraco atual das contas públicas e ao mesmo tempo diminuir as despesas da União com as estatais deficitárias. Não basta privatizar as empresas estatais, pois esse dinheiro só serve para aliviar o caixa momentaneamente. É preciso principalmente reduzir o deficit anual e a dívida pública bruta, para recuperar a capacidade de investimento do país e readquirir a confiança dos investidores nacionais e internacionais na produção.
DL - O futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, convidou três delegados da Polícia Federal que integraram a Lava Jato para o seu ministério, como parte do seu plano de combate à corrupção e ao crime organizado. Qual a sua análise a respeito disso?
Chagas - O ex-juiz federal e futuro ministro, Sérgio Moro, e seus indicados são os maiores especialistas do país no combate à corrupção e o crime organizado, e deverão obter sucesso nessas questões. Porém, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública não se resume à luta contra o desvio de dinheiro público, sendo uma pasta com muitas atribuições administrativas. Assim sendo, o novo ministro e sua equipe terão que enfrentar o maior problema da criminalidade do país, que o sistema carcerário nacional, refém das organizações criminosas e geradoras da violência urbana, além dos confrontos armados nos morros e na periferia das cidades. Por outro lado, o gigantismo do seu Super Ministério pode torná-lo refém da máquina administrativa, com a imobilização de suas ações.
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DL - O que você acha da criação da Secretaria de Assuntos Fundiários, que será comandada por Nabhan Garcia? O presidente da União Democrática Ruralista propõe um novo modelo de reforma agrária.
Chagas - A criação da Secretaria de Assuntos Fundiários, com a nomeação de Nabhan Garcia para o seu comando, só trará conflitos nos campos. Isso porque o presidente da União Democrática Ruralista é frontalmente contra a reforma agrária, devendo encontrar muitas resistências nos movimentos sociais, que são dominados pela esquerda radical e vão combater ferozmente as ideias dessa secretaria.
DL - Bolsonaro propõe mudanças na Educação como limitar ao ensino apenas disciplinas tradicionais de humanas e exatas, descartando questões de gênero. Como você avalia essa posição?
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Chagas - Não resta dúvida de que a qualidade de ensino no país precisa melhorar de forma significativa, com prioridade para o estudo da matemática e do português, que são a base do saber, da educação fundamental, além obviamente do período integral nas escolas. Contudo, não é discutindo a eliminação das discussões sobre gênero e a escola sem partido nas salas de aula que a educação do Brasil vai melhorar, garantindo boa formação a todos os adolescentes e crianças, sem se preocupar com a capacitação dos professores e investir mais em tecnologia. Aliás, o presidente eleito deixou de nomear Mozart Ramos para o Ministério da Educação, um especialista em ensino, reconhecido plenamente pelo setor, por pressões religiosas e ideológicas de seus apoiadores, para indicar para a pasta o nome de Ricardo Rodriguez, apenas por ter identidade de pensamento com o educador. Em síntese, a escolha foi política, em vez de técnica, demonstrando, nessa área vital para o desenvolvimento do país, que a preocupação com a melhoria do ensino ficou em segundo plano.