Política

“Não há nenhuma obra de grande impacto na Cidade”

Em entrevista exclusiva ao DL, o vice-prefeito de Guarujá José Rodrigues Tucunduva Neto fala dos três anos do atual governo

Publicado em 24/02/2013 às 21:40

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Continua depois da publicidade

O vice-prefeito de Guarujá e presidente do Diretório Municipal do PSDB, José Rodrigues Tucunduva Neto, em entrevista exclusiva ao DL, fez uma avaliação dos três anos do Governo Farid. Tucunduva, que é advogado há 27 anos, atuando nas áreas cível e tributária, atualmente está licenciado, devido ao cargo de vice-prefeito do Executivo. Candidato a vereador pelo PRN, em 1992, não se elegeu, retornando a vida pública, somente em 2004, quando fechou chapa com o prefeito Farid Said Madi, com legenda do PSDC, onde ficou filiado por oito anos. Na gestão de Farid, o vice-prefeito também exerceu o cargo de secretário de Assuntos Jurídicos por um ano e quatro meses. Questionando ações da Administração, Tucunduva anunciou seu rompimento político com o prefeito, no ano passado.

DL - O senhor pretende concorrer às eleições municipais de 2008?
José Rodrigues Tucunduva Neto
– Meu nome é um dos nomes que estão a disposição do partido, o que não significa necessariamente que sou pré-candidato. Além de presidente do PSDB de Guarujá também sou representante da Convenção Nacional do PSDB da Baixada Santista e Vale do Ribeira. Naturalmente como presidente de um partido a gente tem que ter o bom senso para lá na frente, identificarmos o que é melhor para o partido.

DL – O que o levou a romper com o prefeito Farid Madi? 
Tucunduva
– Eu acho até que ele é bom menino. Só que eu não o considero um administrador da forma como eu gostaria que ele fosse. Há um ano e meio eu pedi exoneração da Secretaria de Assuntos Jurídicos do Município por discordar dos rumos que vinha tomando a Administração, como inúmeros processos na Justiça.  Lamentavelmente, em vez de esses atos cessarem, pelo contrário, continuaram, dando margem para suspeita e questionamento dos atos da Administração Municipal. Tanto é que Guarujá foi apontada recentemente pela Folha de São Paulo como uma das cidades mais corruptas do Brasil.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

DL – Que falhas o senhor aponta na administração do Município?
Tucunduva
– A Administração está numa situação muito ruim. Hoje não tem dinheiro para fazer investimentos na Cidade. Existem muito credores que não recebem, dentro da própria ação social. Hortifrutigranjeiros também não recebem seus pagamentos há bastante tempo. As obras estão paralisadas. Obras simples para uma Cidade com orçamento de quase R$ 500 milhões. Tem a Avenida Atlântica, que praticamente se arrasta há mais de um ano. A Avenida Rio Amazonas, no Perequê — a primeira fase de 700 metros foi inaugurada agora. É uma obra que tem quase o triplo disso. Em Vicente de Carvalho, tem uma rua importante cujas obras estão paralisadas. O que a gente observa hoje na Cidade, são obras feitas com verbas do Estado de São Paulo. Por exemplo, a reurbanização da praia da Enseada, a Praça no Santa Rosa. Por isso, meu relacionamento com o prefeito Farid é de distanciamento.

Continua depois da publicidade

DL – O Município teria recursos para empregar nas obras que o senhor apontou?
Tucunduva
–  Um município bem administrado certamente tem recursos. Praia Grande foi pega pelo prefeito Alberto Mourão, há oito ano, com R$ 36 milhões de orçamento. E, com muito trabalho, ele conseguiu aumentar a arrecadação do Município e implementar um desenvolvimento fantástico. Aqui, não havia dinheiro para entregar o Hospital de Vicente de Carvalho, que estava no plano de governo desde o início. O Município conseguiu R$ 1,5 milhão do Estado, através de emenda da deputada (Haifa Madi). Mas, mesmo sem dinheiro para o hospital, a Prefeitura fechou um contrato de jardinagem no valor de R$ 4,5 milhões, de uma empresa com capital social de R$ 30 mil. Isso é um exemplo de dinheiro mal aplicado.

DL – Como está sua relação com Farid após o senhor ter conseguido o cargo de prefeito na Justiça?
Tucunduva
– Eu fui obrigado a entrar na Justiça para obter o direito de assumir o cargo de prefeito. O meu objetivo quando ingressei na Justiça não foi conturbar ou criar qualquer tipo de contratempo para a Administração. A lei tem que ser respeitada sob todos os aspectos. O vice-prefeito é o substituto legal do prefeito. O prefeito, todas as vezes que sai do seu Município, principalmente para o exterior, tem que transmitir o cargo. Aliás, essas são decisões que já foram tomadas no Supremo Tribunal Federal e eu exijo ser respeitado. Se me for incumbida alguma missão, procurarei cumpri-la à risca, desde que seja em benefício do meu município.

Continua depois da publicidade

DL – O senhor está sendo apontado como responsável pelo arrombamento de um armário no gabinete de Farid e pelo sumiço de alguns processos. O que pretende fazer quanto a isso?
Tucunduva
– Tentaram montar uma farsa. Não sei se isso vem do prefeito ou de seus assessores, mas certamente será investigado através do processo criminal que vou instaurar. Isso é um absurdo. Como prefeito eu não precisava mandar arrombar armário. E quando entrei naquele prédio, a primeira providência foi somente mandar abrir a sala de reuniões do 5º andar. Isso porque a encontrei trancada em horário de expediente e chave foi escondida. Não podia tolerar ser desrespeitado quando estava exercendo o cargo de prefeito interino desta Cidade. Absolutamente ninguém saiu daquela sala de reuniões. Não houve arrombamento.

DL – De que forma o senhor pretende provar que não arrombou aquele armário?
Tucunduva
– Vou protocolar uma petição na Prefeitura pedindo cópia das imagens do sistema de monitoramento e a relação de todos os funcionários públicos que estavam lá naquele momento.

DL – Qual sua análise desses três anos de Governo? 
Tucunduva
– Existe muita propaganda e muito marketing. Mas, andando pela periferia, por Vicente de Carvalho, não há nenhuma obra de grande impacto. Quantas escolas foram feitas? Três. Quantas creches foram feitas? Certamente não deve ser mais que três ou quatro. O saldo é muito aquém daquilo que deveria ter sido feito. Não posso imaginar que numa Administração não haja um sistema de informática que funcione adequadamente, para melhorar a arrecadação, a fiscalização da arrecadação, que faça com que a dívida ativa seja cobrada adequadamente. Não posso dizer que esta seja uma Administração eficiente.

DL – Quais os aspectos positivos que o senhor destaca nessa Administração?
Tucunduva
– A questão da regularização fundiária. Mas, eu lamento que as coisas não aconteçam com a rapidez que a gente imagina. O que foi feito em termos de construções que possam atender a classe trabalhadora? Muito pouco. Hoje nós temos 130 casas em construção no Jardim Explanada e só. Vi, recentemente, com grande surpresa, no Diário Oficial, o anúncio da viabilização de 11 mil unidades, que estão em projeto, em estudos. Só que não é essa a função do Diário Oficial — tentar fazer propaganda enganosa.

Continua depois da publicidade

DL – O senhor questiona o modelo de Sistema Integrado de Transporte Coletivo adotado na Cidade. Por que? 
Tucunduva
– Nós tínhamos conseguido um grande avanço que era a redução da passagem de ônibus de R$ 1,80 para R$ 1,65 e a discussão do Sistema Integrado de Transporte Coletivo. Naquele momento começamos a discutir a integração. Eu, pessoalmente tinha como idéia, a construção de um terminal, no Centro de Guarujá, nas imediações da Rodoviária, por onde todas as 28 linhas do Município passariam. Ali a pessoa poderia descer de qualquer ponto que ela viesse da Cidade, embarcaria num outro ônibus gratuitamente para qualquer outro ponto da Cidade. Seria um sistema semelhante ao Terminal do Valongo de Santos. Mas fizeram uma integração na Cidade, onde hoje, para ir de uma ponta a outra, a pessoa tem que pegar dois ônibus, senão três. O usuário não está preocupado só em pagar apenas uma passagem, mas também em ter um transporte que seja rápido e eficiente.

DL – O senhor defende o fim da intervenção no Hospital Santo Amaro. Por que?
Tucunduva
– Eu sou integrante da Sociedade Santamarense (mantenedora do Hospital Santo Amaro). O Hospital não pode continuar sobrevivendo sob as regras da iniciativa privada com intervenção do Município. Quando assumimos havia um repasse de R$ 1 milhão, por mês, para o Hospital Santo Amaro. Mas essa subvenção foi sendo reduzida substancialmente até que chegou a R$ 250 mil, por mês, com a promessa que haveria a devolução do Hospital Santo Amaro no final deste ano. Contudo, o que pudemos observar da lei que foi encaminhada para a Câmara, que formalizou esse convênio com o Hospital, é que a lei não estabelece a devolução real e efetiva do Santo Amaro a partir de dezembro. Então, essa é a expectativa da Sociedade Santamarense.  

DL – Qual é a solução para o Hospital Santo Amaro?
Tucunduva
– Primeiro ponto: devolver o Hospital para a Sociedade Santamarense. Segundo ponto: o Município tem a obrigação de assumir os débitos do hospital que hoje beiram R$ 58 milhões. Esses débitos foram construídos enquanto o hospital estava sob a intervenção municipal. O Município tem a obrigação de devolver o hospital à Sociedade Santamarense, mas estabelecer um convênio para continuar repassando uma subvenção mensal.

Continua depois da publicidade

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software