Política
Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes
O próprio Lula tem outra prisão em seu histórico, mas em 1980 / Divulgação/Fotos Públicas
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Efetivada sua prisão, Luiz Inácio Lula da Silva será a primeira pessoa a ocupar a cadeira de presidente da República a ser encarcerada após ser condenado na esfera penal. Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes.
O próprio Lula tem outra prisão em seu histórico, mas em 1980, muitos anos anos antes de ter em sua biografia a faixa presidencial. Ademais, o encarceramento ocorreu sob a ditadura militar, tendo forte caráter político. Em um país sob regime de arbítrio, o então sindicalista e líder grevista foi tirado de casa sob acusação de "incitação à desordem", passou 31 dias na cela e foi condenado na Justiça Militar. O processo acabaria anulado.
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No passado, o caso que mais se aproxima da situação de Lula, com tramitação na esfera judicial, ocorreu há quase 96 anos. Em julho de 1922, foi preso o marechal Hermes da Fonseca, que chefiara o Executivo federal de 1910 a 1914 -cerca de sete anos e meio após deixar a cadeira presidencial, intervalo semelhante ao do petista.
Então presidente do Clube Militar, Hermes teve a prisão decretada pelo próprio presidente Epitácio Pessoa, após contestar ação do governo.
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Após sofrer um infarto, o ex-presidente foi liberado, voltando a ser preso dias depois, com a revolta no Forte de Copacabana. Com o tenentismo em seu pé, Epitácio decretou estado de sítio. Hermes seria libertado após habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em janeiro de 1923. Doente, morreria em setembro daquele ano.
A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.
Mas se também teve processo judicial, o caso Hermes foi essencialmente político, além de reunir as excentricidades de um Brasil de instituições consideravelmente mais fracas que as de hoje.
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As demais prisões de mandatários brasileiros ocorreram sob ainda mais arbítrio.
Com direitos políticos cassados pela ditadura iniciada em 1964, Juscelino Kubitschek foi aprisionado em um quartel após a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime. Em seguida, passou um mês em prisão domiciliar.
Jânio Quadros foi outro detido naquele ano, ainda antes do AI-5, por ter feito críticas ao regime militar. Por ordem do governo, ficou temporariamente "confinado" a Corumbá, que hoje integra Mato Grosso do Sul. Ele era natural de Campo Grande.
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A Era Vargas coleciona dois ex-presidentes presos. A primeira vítima foi Washington Luís, que, deposto pelo levante liderado por Getúlio em 1930, foi preso e partiu para o exílio. Artur Bernardes perdeu a liberdades duas vezes. Primeiro, em 1932, ao apoiar a Revolução Constitucionalista. Depois, em 1939, após Getúlio decretar o Estado Novo.
Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.