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Política

Brasileiro que abrigou ex-mulher de Bolsonaro diz não entender apoio ao candidato

Xavier tornou-se um dos melhores amigos da hoje candidata a deputada federal pelo Podemos e acompanhou de perto o período em que ela chegou à capital norueguesa, fugindo de uma ameaça de morte do Brasil.

Folhapress

Publicado em 29/09/2018 às 20:14

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Jair Bolsonaro ao lado do seu vice, o general Mourão. / Fotos Públicas

Técnico de enfermagem e vivendo na Noruega há 13 anos, o brasileiro Fernando Xavier abrigou em sua casa em Oslo Ana Cristina Valle, ex-mulher do candidato à Presidência pela PSL, Jair Bolsonaro. 

Xavier tornou-se um dos melhores amigos da hoje candidata a deputada federal pelo Podemos e acompanhou de perto o período em que ela chegou à capital norueguesa, fugindo de uma ameaça de morte do Brasil. "Depois das coisas que ouvi e presenciei, realmente, não posso ter simpatia [por ele]..."

Na conversa com a Folha de S.Paulo por telefone, direto de Mykonos (Grécia), onde está de férias, Xavier contou que conheceu Ana Cristina depois de ela ter rompido com um namorado norueguês. À procura de um lugar para morar, ela alugou um quarto na casa do brasileiro. 

Xavier diz que, àquela época, Ana estava "muito abalada e fragilizada". Além das recentes separações, conta ele, ela sofria com a falta do filho -ela travava uma disputa judicial com Bolsonaro sobre a guarda do filho do casal, então com cerca de 12 anos.

Quando você conheceu a Ana Cristina Valle?

- Conheci a Ana em 2010, pouco tempo depois que ela chegou à Noruega. Os brasileiros que conviviam com ela aqui desde 2009 já sabiam da história dela com o Bolsonaro. Acabei me sensibilizando com a situação dela, que não falava inglês nem norueguês muito bem. Eu dispunha de um quarto em meu apartamento e ofereci para ela. Ela aceitou de imediato. Ficou muito agradecida. 

Criamos um vínculo, uma amizade. Não consigo entender [a posição dela agora]. Inclusive já expus isso a ela.

Tenho apreço por ela. Fico até imaginando como deve estar sendo difícil para ela ter que administrar toda essa confusão em torno da vida conjugal que ela teve com Bolsonaro e também a política. 

Mas não posso compartilhar com essa simpatia e com essa defesa que ela faz dele porque, em respeito a ela, a uma pessoa que foi minha amiga, a Ana Valle, eu não consigo acreditar que ela o apoia. 

Eu decidi expor minha opinião e até mesmo me afastar para dar um tempo para as coisas acontecerem para ela, na vida dela. Depois das coisas que ouvi e presenciei, realmente, não posso ter simpatia [por ele]...

Na época em que vocês conviveram, ela relatou as ameaças que sofria do hoje candidato a presidente, Jair Bolsonaro (PSL)? 

- Ela chegou aqui muito espantada, muito abalada por causa da separação dele e também muito fragilizada por causa da recente separação com o namorado norueguês. Fui dar um apoio. No decorrer do tempo, fui sabendo das histórias com o ex-marido dela do Brasil, o Bolsonaro. 

Ajudei ela quando conseguiu o primeiro visto de trabalho que deu a possibilidade de ela ficar na Noruega. Acompanhei todo esse processo.

Aproveitando que você falou do visto, você sabe se ela chegou a pedir asilo político à Noruega?

- Nunca ouvi da boca da Ana essa coisa do asilo político. Isso não teve. A única coisa que acompanhei é que ela aplicou para esse visto [de trabalho], abriu uma empresa, para qual ela teve que pagar impostos, até fiz traduções de alguns documentos para ela na época. 

A Ana estava muito perdida e querendo muito ficar aqui, mas também sentindo falta do filho, porque ela teve a guarda do filho tirada. Na época, ela ficou devastada com isso. 

Você falou que ela chegou na Noruega muito abalada por causa da separação de Bolsonaro. Ela relatava a você as ameaças de morte?  

- Sim. Eu ouvi e outras pessoas do nosso convívio também ouviram que realmente teve uma ameaça e que foi nesse momento que ela teve que sair do Brasil. Realmente teve, não posso negar porque escutei dela. 

Eu só quero que as pessoas entendam que sou um ser humano como todo mundo, me colocaram no meio dessa tensão. Não consigo ficar relaxado porque eu acordo com várias mensagens no meu telefone, com várias pessoas querendo falar. 

Decidi falar para esclarecer o que sei. Na época da visita do filho, ela me ligou desesperada de Halden [cidade no sul da Noruega, a cerca de 100 km de Oslo] falando que ele [Bolsonaro] tinha mandado um oficial da embaixada para contatá-la e ela estava muito assustada. 

Então ela te relatou esse contato da embaixada?

- Sim. Realmente teve esse contato da embaixada. Ele mandou. Ela me ligou de Halden desesperada na época, eu prestei solidariedade nesse momento, eu me recordo. 

Ela nega a ameça de morte e o contato com a embaixada...

- O Brasil está vivendo o momento de eleição e vocês querem passar a limpo a ficha dos candidatos, das pessoas que estão se propondo a mudar o Brasil para um país melhor, com qualidade de vida e dignidade para todo mundo. Acho, então, que as pessoas que não têm uma atitude correta vão se sentir incomodadas. 

No seu post no Facebook, você parece incomodado com o fato de ela estar desmentindo uma história que ela contava para vocês... 

- Eu tenho apreço pela Ana Cristina Valle, não conheço a Ana Cristina Bolsonaro, a política. Eu conheço a Ana Cristina Valle, que é a mãe do Renan e a pessoa que chegou na Noruega na minha casa, que eu ajudei e que tivemos uma convivência muito harmoniosa, que tentei manter até os dias de hoje. 

Só me afastei diante desses fatos da política, que é uma coisa que não me interessa. Como envolveu o meu nome diretamente, as pessoas estão me solicitando, eu só tenho para falar o que eu vivi. 

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