X

Política

Barrar denúncia não altera quadro para 2018, dizem cientistas políticos

Eles acham que a vitória de Temer reflete o espírito corporativo do Congresso. 'Essa votação teve mais a ver com um pacto de autoproteção'

Folhapress

Publicado em 26/10/2017 às 14:01

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

A Câmara dos Deputados barrou o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer / Agência Brasil

A expectativa dos eleitores em relação à classe política é tão baixa que o fato de a Câmara dos Deputados ter barrado o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer não deve ter impacto eleitoral significativo. É a opinião do cientista político Claudio Gonçalves Couto, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

Professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Silvana Krause também não acha que essa votação deve mudar o quadro para 2018, e vê razões anteriores a este governo para isso. "O descolamento da população brasileira da representação política não é novidade. A grande maioria do eleitor brasileiro esquece em quem votou", diz ela.

Ambos falaram brevemente com a reportagem -o primeiro, enquanto a votação ainda acontecia, e a segunda, logo após o resultado. Eles participam de congresso da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).

"É mais um episódio que as pessoas vão repudiar, num governo que não tem mais para onde cair. [Os deputados] não estão tomando uma decisão inesperada. Ela é ultrajante, mas a gente já está acostumado ao ultraje", diz Gonçalves Couto.

Ambos acham que a vitória de Temer reflete o espírito corporativo do Congresso. "Essa votação teve mais a ver com um pacto de autoproteção da classe", diz Krause.

"Temer é uma criação orgânica da classe política. Ele expressa essa classe como ninguém, o que gera solidariedade. 'Ele é um dos nossos', dizem. Sendo assim, faz sentido que tenha proteção", opina Gonçalves Couto.

Os dois também concordam que o fato de Temer ter conseguido barrar a denúncia contra si não significa que seu governo conseguirá passar as reformas que prometeu.

Gonçalves Couto acha que a reforma da Previdência, por exemplo, que é uma medida impopular, "já subiu no telhado". "É muito pouco provável que ele aprove qualquer coisa, inclusive pelo timing. Ninguém vai querer votar reforma da Previdência a um ano da eleição", opina.

O cientista político também identifica alguns fatores que, na visão dele, explicam por que não houve protestos contra o presidente, tanto de movimentos associados à direita quanto da esquerda.

Para a esquerda, é uma questão estratégica. "Não interessa levar multidões à rua agora e aí ter outro [presidente] ao qual você não consegue fazer oposição tão facilmente. É mais fácil fazer oposição ao Temer." Além disso, a esquerda também tem teto de vidro. "Como é que você vai chamar pessoas contra o Temer estando você mesmo maculado por uma série de problemas?", pergunta ele.

Já para a direita, há, segundo Gonçalves Couto, uma lógica de "'antes os nossos corruptos que os deles'". "Mesmo se ele não estivesse tentando passar as reformas, é um governo que valoriza a família, que não vai implementar 'kit gay', enfim."

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Mongaguá

Ex-detento tenta entregar celulares em penitenciária em Mongaguá

homem foi detido com 35 celulares em uma mochila

Diário Mais

Conheça a verdadeira história do vulcão do bairro Macuco, em Santos

A lenda é do ano de 1896 e causou pânico à sociedade da época

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter