Polícia

Quadrilhas no Rio usam técnica de neurocirurgia para roubar petróleo de oleodutos

Equipamentos de mais de R$ 300 mil permitem perfurar dutos sem alarde, elevando risco de explosões e desastres ambientais

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 07/09/2025 às 22:10

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Para tentar conter o problema, a Transpetro mantém um centro de controle onde técnicos monitoram em tempo real / Divulgação/Transpetro

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Sob os pés de moradores de 33 municípios fluminenses corre uma rede de mais de mil quilômetros de dutos subterrâneos que transporta petróleo, diesel, gasolina e biocombustíveis.

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Essa malha, considerada vital para o abastecimento do país, tornou-se alvo de um crime altamente sofisticado: o furto de combustíveis por meio de uma técnica inspirada em cirurgias cranianas.

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A prática, conhecida como “derivação clandestina”, consiste em perfurar os canos com equipamentos avaliados em mais de R$ 300 mil e retirar o produto de forma quase imperceptível, como se o oleoduto estivesse sendo “sangrado”.

Segundo a Transpetro, subsidiária da Petrobras responsável pelo transporte, o Brasil registrou seu primeiro caso em 2011.

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O crime se popularizou entre 2018 e 2019, quando os criminosos passaram a usar a técnica de trepanação — normalmente empregada em procedimentos intracranianos — para perfurar dutos sem perda significativa de pressão, dificultando a detecção.

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Risco real de explosões e mortes

Apesar de o número de ocorrências ter caído — foram sete casos no ano passado no Rio —, o perigo permanece.

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O delegado Pedro Brasil, da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), alerta que cada perfuração pode provocar desastres de grandes proporções.

“Essas derivações podem gerar vazamentos, contaminar rios e solos, além de causar incêndios e explosões capazes de devastar comunidades inteiras. Trata-se de um crime silencioso, mas com potencial devastador”, afirma.

Em 2019, a tragédia atingiu Caxias, na Baixada Fluminense. Ana Cristina Pacheco, de apenas 8 anos, morreu com 80% do corpo queimado após cair em uma poça de gasolina aquecida por um vazamento provocado por furto.

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O caso expôs a vulnerabilidade das famílias que vivem próximas às tubulações.

Como agem as quadrilhas

O esquema não é improvisado. De acordo com investigações, os grupos dividem-se em equipes com funções específicas: uns instalam os dispositivos, outros operam os caminhões que recolhem o produto e há ainda os responsáveis pelo armazenamento e comercialização.

O destino do combustível desviado são, muitas vezes, empresários de setores como usinas de asfalto, lubrificantes e fertilizantes, que compram o material a preços abaixo do mercado, alimentando um ciclo criminoso que mistura tecnologia, corrupção e grandes margens de lucro.

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Monitoramento 24 horas

Para tentar conter o problema, a Transpetro mantém um centro de controle onde técnicos monitoram em tempo real a pressão dos dutos. Drones, válvulas inteligentes e equipes de emergência fazem parte do arsenal de vigilância.

A empresa também mantém um canal para denúncias: o telefone 168 recebe chamadas gratuitas e anônimas de moradores que percebam movimentações suspeitas perto das tubulações.

Mudança na lei

A gravidade do crime fez com que a Câmara dos Deputados aprovasse, neste mês, um projeto que aumenta as penas para furto e roubo de combustíveis, além de tipificar novos crimes relacionados à receptação.

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Atualmente, a conduta é enquadrada como furto qualificado, com pena de dois a oito anos de prisão.

Segundo o delegado Pedro Brasil, a mudança é fundamental: “Hoje, muitos criminosos respondem em liberdade, mesmo colocando em risco vidas, o meio ambiente e a segurança energética do país. O endurecimento da lei é um passo importante para frear essa prática.”

O desafio, no entanto, permanece. Com técnicas cada vez mais avançadas e quadrilhas bem estruturadas, o combate ao furto de combustíveis exige vigilância constante, integração entre órgãos de segurança e punição efetiva de toda a cadeia envolvida — dos perfuradores aos receptadores.

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